domingo, 31 de outubro de 2010

Catecismo I - Prólogo (I - A vida do homem - conhecer e amar a Deus)




Prezados leitores,

Hoje pretendo dar início a estudos de catequese. Ao longo de nossos estudos, vamos analisar parágrafo por parágrafo do catecismo e enriquecer nossas leituras com citações da Bíblia, dos Pais e Doutores da Igreja, bem como dos Papas e dos Concílios.

O Catecismo da Igreja Católica e o Catecismo Romano serão nossos guiais principais.

Mãos à obra!

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Em seu Prólogo, o Catecismo da Igreja Católica inicia-se com as seguintes citações:

"PAI, [...] é esta a vida eterna: que Te conheçam a Ti, único Deus verdadeiro, e Aquele que enviaste, Jesus Cristo" (Jo 17, 3). "Deus, nosso Salvador [...], quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade" (1 Tm 2, 3-4). "Não existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos" (At 4, 12), senão o nome de JESUS".
Este trecho apresenta-nos três citações bíblicas. Vamos olhá-las um pouco mais de perto. Comecemos pela citação do Evangelho de João:
"PAI, [...] é esta a vida eterna: que Te conheçam a Ti, único Deus verdadeiro, e Aquele que enviaste, Jesus Cristo" (Jo 17, 3).
Percebamos que aqui o autor sagrado utilizou o verbo "conhecer". Mas o que significa o verbo "conhecer" na Bíblia? Para que possamos compreendê-lo com clareza, devemos avaliar outras passagens onde o supracitado verbo é utilizado. No mesmo Evangelho de João, por exemplo, Nosso Senhor diz:
"Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas me conhecem" (Jo 10, 14)
Este "conhecer" de que trata a Bíblia não se refere a um conhecimento puramente intelectual. Que tipo de conhecimento seria este, então? Ao observarmos as Sagradas Letras, veremos que Deus se faz conhecer ao homem através de Sua aliança, de Suas bençãos e de Seu amor. O homem, por sua vez, conhece a Deus quando é fiel a esta aliança, quando reconhece as bençãos e o amor que lhe são dispensados por Deus.  Eis o sentido bíblico de conhecer a Deus. E é exatamente este conhecimento que Deus quer, pois este possui como pressupostos a obediência e a gratidão, e, assim, deságua, inavariavelmente, no amor:
"Porque é amor que Eu quero e não sacrifícios, conhecimento de Deus mais do que holocaustos" (Os 6, 6)
Passemos a segunda citação bíblica do Catecismo:
 "Deus, nosso Salvador [...], quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade" (1 Tm 2, 3-4).
Eis a prova máxima do amor de Deus para conosco: Ele quer que todos nós nos salvemos. É justamente este trecho que coloca em grande embaraço os defensores da predestinação, mas esta já é uma outra história...Mas, Deus não quer que nos salvemos de qualquer maneira. Ele também quer que cheguemos "ao conhecimento da verdade" ( ressalto este ponto, pois, muitos, ao longo da história humana, alcançaram a salvação sem conhecer plenamente a verdade revelada, mas apenas pela obediência à lei moral inscrita no coração de cada homem). Ora, o próprio Deus é a Verdade. Se nos lembrarmos que biblicamente "conhecimento" não é um mero ato intelectual, mas sim um agir que demonstra obediência à aliança de Deus, gratidão e amor, perceberemos que este "conhecimento da verdade" que Deus quer para nós, requer um empenho por toda a vida, pois o tempo todo somos tentados a romper com os preceitos divinos e a não Lhe dar a devida honra e glória. Daí a importância de estarmos em constante vigilância.

Vejamos como o Catecismo Romano nos orienta, no parágrafo 10 do Proêmio (destaques meus):
"Como só temos certeza de conhecê-Lo, se observarmos os seus mandamentos, a segunda obrigação, intimamente ligada à que acabamos de estatuir [o Catecismo Romano falara no parágrafo anterior que os fiéis devem querer conhecer de coração a Cristo crucificado], é mostrar que os fiéis não devem viver no ócio e na preguiça, mas que devemos andar como Ele mesmo andou, e com todo o zelo praticar a justiça, a piedade, a fé, a caridade, a mansidão".

Por fim temos a terceira citação:
"Não existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos" (At 4, 12).
 Este trecho faz uma claríssima alusão ao santo nome de Jesus que significa justamente "Deus salva".


Como poderíamos resumir o que vimos até aqui? Vejamos:
  • Deus quer que O conheçamos;
  • Mas este "conhecer" implica um "agir" que consiste em "obedecer", "ser grato" e "amar" a Deus.  
  • Este conhecimento requer o esforço de uma vida inteira
  • Conhecendo-O mostramos que O amamos e a Seu Filho Unigênito, Nosso Senhor Jesus Cristo, e fora deste nome não há salvação
I - A vida do homem - conhecer e amar a Deus

Após aprendermos que devemos conhecer a Deus, podemos passar para o primeiro parágrafo do catecismo:
"Deus, infinitamente perfeito e bem-aventurado em Si mesmo, num desígnio de pura bondade, criou livremente o homem para o tornar participante da sua vida bem-aventurada. Por isso, sempre e em toda a parte, Ele está próximo do homem. Chama-o e ajuda-o a procurá-Lo, a conhecê-Lo e a amá-Lo com todas as suas forças. Convoca todos os homens, dispersos pelo pecado, para a unidade da sua família que é a Igreja. Para tal, enviou o seu Filho como Redentor e Salvador na plenitude dos tempos. N'Ele e por Ele, chama os homens a tornarem-se, no Espírito Santo, seus filhos adotivos e, portanto, herdeiros da sua vida bem-aventurada".
Este primeiro parágrafo expõe diversos pontos que serão trabalhados ao longo de nosso estudo. Além disso, também sintetiza o que acabamos de ver mais acima. Entretanto, dois pontos nos atrai a atenção: 1° Deus quer que todos nos salvemos e nos chama à salvação, e 2° Deus nos chama para Sua Igreja, que é a Sua família unida. Mas de que forma Deus nos chama? Evidentemente que Ele, apesar de nossas infinitas limitações, faz uso dos homens. Mas será que Deus entregaria a Sua Santa Palavra e os Seus Santos Ensinamentos nas mãos de qualquer um? Vejamos o parágrafo 2:
"Para que este convite se fizesse ouvir por toda a Terra, Cristo enviou os Apóstolos que escolhera, dando-lhes o mandato de anunciar o Evangelho: 'Ide, pois, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprirem tudo quanto vos prescrevi. E eis que Eu estou convosco todos os dias até ao fim do mundo'(Mt 28, 19-20). Fortalecidos por esta missão, os Apóstolos 'partiram a pregar por toda a parte e o Senhor cooperava com eles confirmando a Palavra com os sinais que a acom­panhavam' (Mc 16, 20)".
Logo, Nosso Senhor, quando esteve entre nós há dois mil anos, escolheu doze homens que haveriam de repassar Seus ensinamentos de forma íntegra. Estes, por sua vez, cônscios da brevidade da vida e de que a Palavra de Nosso Senhor jamais poderia cair no esquecimento, também fizeram discípulos e os ensinavam a reta doutrina. Assim, percebemos que há, no cristianismo, uma sucessão legítima que remonta aos tempos dos apóstolos. Deve-se ressaltar, ainda, que apenas a Igreja Católica é a mantenedora legítima e lícita desta sucessão.

Quando Cristo fundou a Sua Igreja, fez a esta uma grande promessa. Nosso Senhor prometeu aos apóstolos que estaria com eles até o final dos tempos. No entanto, os apóstolos sabiam que em breve morreriam. Então, como Nosso Senhor estaria com eles até o final dos tempos, sendo que a vida deles não ultrapassaria o século I? Vemos, portanto, que a promessa de Cristo tem que se estender necessariamente aos sucessores legítimos escolhidos pelos apóstolos e assim sucessivamente.

Esta análise relativamente simples joga por terra a tese defendida por alguns de que Cristo de fato fundara a Igreja Católica, mas que esta caiu em heresia no decorrer dos séculos. Se isso houvesse acontecido, dever-se-ia alegar que Nosso Senhor mentiu, pois Ele mesmo prometeu assistência eterna a Sua Igreja. Mas é evidente que Nosso Senhor jamais mentiu. Assim, Ele jamais permitiria que a Sua Igreja, que a Sua noiva, caísse no erro.

Abaixo cito os parágrafos 2, 3 e 4 do Catecismo Romano. Todos os destaques são meus.
"Como, porém, "a fé vem do ouvir"(Rm 10, 17) é fácil averiguar que, para a salvação eterna, sempre houve mister a função e assistência de um mestre fiel e legítimo. Não foi dito: "De que modo hão de ouvir sem pregador? E como hão de pregar, se não forem enviados?" (Rm 10, 14 - 16).
De fato, desde que o mundo é mundo, por grande bondade e clemência, Deus nunca abandonou Suas criaturas. Mas, em muitas ocasiões e de várias maneiras falou a nossos pais pelos Profetas (Hb 1, 1); conforme a época em que viviam, ensinou-lhes um caminho reto e seguro para a bem-aventurança do céu.
Tendo predito que enviaria um mestre de justiça para (Jl 2, 23) para iluminar os povos, e levar sua obra de redenção até os confins da terra (Is 49, 6), Deus falou-nos em último lugar pela boca de Filho (Hb 1, 2). Por uma voz descida do céu, da majestade de Sua glória (2 Pd 1, 17), mandou também que todos O ouvissem, e obedecessem a Seus preceitos (Mt 17,5).
O Filho, porém, a uns fez Apóstolos; a outros, profetas; a outros, pastores e mestres (Ef 4, 11). Deviam eles anunciar a palavra da vida (Jo 6, 64-69), para que não fôssemos levados, como crianças, à mercê de qualquer sopro de doutrina (Ef 4, 14), mas apoiados na sólida base da fé, nos edificássemos a nós mesmos como morada de Deus no Espírito Santo (Ef 2, 22).
Para que, ouvindo a palavra de Deus, ninguém a tomasse como palavra humana, mas pelo que ela é realmente, como palavra de Cristo (1 Ts 2, 13), quis o próprio Nosso Senhor atribuir tanta autoridade ao magistério de seus ministros, que chegou a declarar: 'Quem vos ouve, a Mim é que ouve; e quem vos despreza, a Mim é que despreza' (Lc 10, 16).
Sem dúvida, não queria aplicar estas palavras só aos discípulos, com os quais falava daquela feita, mas também a todos os outros que, por legítima sucessão, a assumissem o encargo de ensinar. A todos eles prometeu assistência, dia por dia, até a consumação dos séculos (Mt 28, 20)".
Vemos, pois, que o Senhor sempre confiara a sua Palavra a homens especialmente escolhidos por Ele nos tempos da Antiga Aliança. Quando, porém, Nosso Senhor veio ao mundo, este fez questão de estabelecer pessoalmente um magistério que guardasse e interpretasse os Seus Ensinamentos. Este magistério deveria, pois, obedecer a uma sucessão. É neste magistério que Cristo fundou Sua Igreja; é nesta Pedra imutável que sempre podemos nos apoiar contra o vendaval de doutrinas que nos assola de tempos em tempos, e que tão logo chegam, rapidamente se esvanecem.

Por isso a Fé vem pelo ouvir, como nos lembra o apóstolo Paulo, e não pelo "ler" como querem muitos. Não se pode amar a Cristo amando apenas parte de sua obra. A Bíblia é, indubitavelmente, toda inspirada pelo Espírito Santo e nela não há qualquer contradição, pois é a própria palavra de Deus, e deve ser nossa guia. Mas esta não é a única fonte de Fé. Há também a Tradição recebida dos apóstolos, daqueles que "ouviram" a Palavra. Assim, apenas a autoridade legítima instituída pelo próprio Cristo é que pode interpretar aquilo que Ele disse, uma vez que o "ouvir", na história cristã, veio antes do "ler". Sabemos que a Bíblia apenas surgira séculos após Cristo. Será que neste intervalo a Palavra da salvação ficou adormecida? De maneira alguma! Ela sempre fora pregada a todos que queriam ouví-la.

O livro dos Atos nos ensina que:
"durante quarenta dias apareceu-lhes [Jesus] e lhes falou do que concerne ao Reino de Deus" (At 1, 3b).
Ora, todas estas coisas que Cristo ensinou por quarenta dias, não estão contidas na Bíblia. Será que Nosso Senhor falou e ensinou coisas inúteis e vãs ao longo deste período? Certamente não. E tudo o que Nosso Senhor ensinou, esteja escrito ou não, fora mantido pela Sagrada Tradição.

Ademais, devemos nos lembrar que
"Nenhuma profecia da Escritura resulta de interpretação particular" (2 Pd 1, 20).
E se não pode haver interpretação particular, então necessariamente tem que haver um magistério instituído pelo próprio Cristo que possa interpretar as Sagradas Escrituras. E este magistério é o que se encontra na Igreja Católica Apostólica Romana.

É claro que o cristão tem o dever de ler a Bíblia, de conhecer a história gloriosa de nossa salvação, mas não de interpretá-la à margem do magistério da Igreja dado que
"Galho de espinhos na mão de bêbado é o provérbio na boca dos insensatos" (Prov 26, 9).
Para encerrar, cito ainda o terceiro parágrafo do Catecismo da Igreja Católica, que conclui a primeira parte do Prólogo:
"Aqueles que, com a ajuda de Deus, aceitaram o convite de Cristo e livremente Lhe responderam, foram por sua vez impelidos, pelo amor do mesmo Cristo, a anunciar por toda a parte a Boa-Nova. Este tesouro, recebido dos Apóstolos, foi fielmente guardado pelos seus sucessores. Todos os fiéis de Cristo são chamados a transmiti-lo de geração em geração, anunciando a fé, vivendo-a em partilha fraterna e celebrando-a na liturgia e na oração".
E vemos que fora exatamente isto que os cristãos sempre fizeram, desde as primeiras gerações (destaques meus):
"Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações" (At 2, 42).
Neste trecho de Atos vemos os cristãos já convertidos recebedo as instruções dos Apóstolos. Estes cristãos também compartilhavam entre si muitas coisas, desde bens até experiências. Assim, o termo comunhão não se limita à ajuda social ou a uma ideologia comum. E qual outra coisa estes cristãos faziam? Fracionavam o pão. Mas, por qual motivo faziam eles isto? Porque Cristo assim os havia ensinado. E quando Ele o fizera? Na Santa Ceia. Era, pois, a fração do Corpo e do Sangue de Cristo, como Ele mesmo o dissera. Era a Eucaristia. Notemos ainda que os Evangelhos foram escritos vários anos após o período citado em Atos (aliás, o próprio livro de Atos foi escrito anos após o período que descreve). Desta feita, como os cristãos sabiam que tinham que cumprir com o preceito eucarístico? Através dos ensinamentos que ouviam dos apóstolos.

E se assim faziam os cristãos primitivos, assim devem fazer os cristãos de todas as épocas : tomar parte no Santo Sacrifício Eucarístico e ouvir o que dizem os apóstolos, representados pelos seus sucessores: os bispos e o Papa. Lembremos que a doutrina de Cristo é eterna...

Assim, aquilo que nos foi transmitido pelos santos Apóstolos, e ainda hoje é transmitido pelos seus sucessores, deve ser propagado por todos aqueles que disseram "sim" à mensagem de Nosso Senhor. Mas esta propagação da Boa-Nova deve estar em consonância plena com aquilo que ensina o magistério da Igreja, o qual fora instituído pelo próprio Cristo. Pois, "um reino dividido não subsiste" (Lc 11, 17). Daí a Igreja subsistir após tantos séculos passando pelas mais variadas vicissitudes, pois ela sempre manteve sua unidade.

Bem, chegamos ao fim desta primeira parte. Sei que muitas dúvidas podem surgir e muitos pontos ainda estão muito obscuros. Mas, paciência! No decorrer de nosso estudo, todos estes pontos serão aclarados.

Que Nossa Senhora interceda por nós e nos dê sempre forças para a cada dia querermos conhecer mais e mais a Nosso Senhor!

Pax Domini Sit Semper Vobiscum

William Bottazzini Rezende

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