quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O novo cura d’Ars da Marselha agnóstica multiplica os fiéis em um bairro islâmico



Revolucionou a igreja francesa: pegou uma paróquia do centro de Marselha que ia ser fechada e agora não para de batizar adultos.

Javier Lozano/ReL.

“Trazer tantas almas para Deus quanto seja possível”. O padre Michel Marie Zanotti Sorkine levou a sério esta frase que se tornou o seu principal objetivo como sacerdote.

Assim o faz depois de ter transformado uma igreja que estava para ser encerrada e demolida na paróquia com mais vida de Marselha. Seu mérito é ainda maior pelo fato de o templo estar situado em um bairro com uma enorme presença de muçulmanos em uma cidade onde menos de 1% da população é católica praticante.

Era músico de sucesso
A chave para este sacerdote que anteriormente fora músico de sucesso em diversos cabarés de Paris e Montecarlo é a “presença”; tornar Deus presente no mundo de hoje. As portas de sua igreja estão todos os dias totalmente abertas e ele se veste com batina, porque “todos, cristãos ou não, têm o direito de ver um sacerdote fora da igreja”.

De 50 paroquianos por Missa a 700
Seu balanço é impressionante. Quando chegou em 2004 à paróquia de São Vicente de Paulo do centro de Marselha a igreja permanecia fechada durante a semana e a única missa dominical era celebrada na cripta. A esta missa compareciam apenas 50 pessoas.

Como ele próprio conta, a primeira coisa que fez foi abrir o templo todos os dias e celebrar no altar-mor. Agora a igreja permanece aberta quase o dia todo e faltam cadeiras extras para acomodar os fiéis. Mais de 700 todos os domingos, e o número é ainda maior nas grandes festas. Quase 200 adultos foram batizados desde que chegou, 34 nesta última Páscoa. Tornou-se um fenômeno de massas não apenas em Marselha, mas também em toda França, com reportagens da mídia de todo o país, atraída pela quantidade de conversões.

O novo cura d’Ars da Marselha agnóstica
Uma das principais iniciativas do padre Zanotti Sorkine para revitalizar a fé da paróquia e conseguir tal afluência de pessoas de todas as idades e condições é a confissão. Antes da abertura do templo, às 8 da manhã, já há pessoas esperando na porta para poder receber este sacramento ou para pedir conselhos a este sacerdote francês.

Como relatam seus paroquianos, o padre Michel Marie está boa parte do dia no confessionário, muitas vezes até depois das onze da noite. E se não estiver lá, pode ser encontrado vagando por seus corredores ou na sacristia, pois sabe da necessidade de que os sacerdotes estejam sempre visíveis e próximos para sair em socorro de todo aquele que necessitar.

A igreja sempre aberta
Outra característica sua bastante destacada é a de ter o templo permanentemente aberto. Isto gerou críticas por parte de sacerdotes de sua diocese, mas ele afirma que a missão da paróquia é “permitir e facilitar o encontro do homem com Deus” e o padre não pode ser um impedimento.

O templo deve favorecer o nexo com Deus
Em uma entrevista televisiva afirmava resolutamente que “se hoje em dia a igreja não está aberta é porque de certa maneira não temos nada a propor; que tudo que oferecemos acabou. Ao passo que enquanto a igreja está o dia inteiro aberta, as pessoas vêm. Praticamente nunca tivemos problemas com roubos. Há pessoas que rezam e garanto que esta igreja se transforma em um instrumento extraordinário que favorece o encontro entre a alma e Deus”.

Era a última oportunidade para salvar a paróquia
O bispo enviou-o a esta paróquia como última oportunidade para salvá-la e o padre levou bastante a sério a recomendação de abrir as portas. “Há cinco portas sempre abertas e assim todo mundo poder ver a beleza da casa de Deus”. 90.000 carros e milhares de transeuntes e turistas encontram a igreja aberta e com os sacerdotes às vistas. Este é o seu método: a presença de Deus e de seu povo no mundo secularizado.

A importância da liturgia e da limpeza
E aqui chegamos a outro ponto-chave para este sacerdote. Tendo acabado de chegar e com a ajuda de um grupo de leigos, renovou a paróquia, limpou-a e deixou-a resplandecente. Para ele este é outro motivo pelo qual as pessoas optam por voltar à igreja. “Como querer que alguém creia que Cristo vive em um lugar se não estiver tudo impecável? É impossível”.

Por isso, as toalhas do altar e do Sacrário têm um branco imaculado. “O detalhe é que faz a diferença. Com o trabalho bem feito, damo-nos conta do amor que manifestamos aos seres e às coisas”. E assegura de modo taxativo: “Creio que quando se penetra em uma igreja onde não está tudo impecável é impossível crer na Presença gloriosa de Jesus”.

A liturgia torna-se o ponto central de seu ministério e muitas pessoas foram atraídas a esta igreja pela riqueza da Eucarística. “Esta é a beleza que conduz a Deus”, afirma.

As missas estão sempre cheias e nelas há procissões solenes, incenso, cânticos cuidados... Tudo feito detalhadamente. “Tenho um cuidado especial na celebração da Missa para mostrar o significado do sacrifício eucarístico e a realidade da Presença”. “Não se concebe a vida espiritual sem a adoração do Santíssimo Sacramento e sem um ardente amor por Maria”, razão pela qual introduziu a adoração e a récita diária do Rosário dirigida por estudantes e jovens.

Seus sermões são também bastante esperados. Aliás, seus paroquianos têm acesso a eles através da internet. Neles o padre sempre chama à conversão, pela salvação do homem. Em sua opinião, a falta desta mensagem na Igreja de hoje “é talvez uma das principais causas da indiferença religiosa que vivemos no mundo contemporâneo”. Antes de tudo deve-se ter clareza na mensagem evangélica. Por isso adverte-nos contra a frase tão batida que diz “todos vamos para o Céu”. Esta é para ele “outra canção que pode nos enganar”, pois se deve lutar, começando pelo sacerdote, para se chegar ao Paraíso.

O cura de batina
Se existe algo que distingue este alto sacerdote em um bairro de maioria muçulmana, é a sua batina, que sempre veste, e o rosário entre as mãos. Para ele é essencial que o padre possa ser distinguido entre as pessoas. “Todos os homens, começando por aquele que cruza o umbral da igreja, têm o direito de se reunir com um sacerdote. O serviço que oferecemos é tão essencial para a salvação que nossa visão deve tornar-se tangível e eficaz para permitir esta reunião”.

Deste modo, para o padre Michel, o sacerdote o é 24 horas por dia. “O serviço deve ser permanente. Que pensaria você de um marido que, em seu caminho para o escritório pela manhã, tirasse sua aliança?”.

Neste aspecto é muito insistente: “quanto àqueles que dizem que o hábito cria distância, deve-se dizer que não conhecem o coração dos pobres, para os quais, o que se vê diz mais que o que se diz”.

Por último recorda um detalhe importante. A primeira coisa que os regimes comunistas faziam era eliminar o hábito eclesiástico, sabendo da importância da comunicação da fé. “Isto merece a atenção da igreja da França”, afirma.

No entanto, sua missão não é desenvolvida unicamente no interior do templo, pois ele também é um personagem conhecido em todo o bairro, até mesmo pelos muçulmanos. Toma café da manhã nos cafés do bairro; ali fala e se reúne com os fiéis e com as pessoas não praticantes. Chama-o de sua pequena capela. Assim conseguiu que muitos vizinhos sejam agora assíduos da paróquia e transformaram esta igreja de São Vicente de Paulo em uma paróquia totalmente ressuscitada.

Uma vida peculiar: cantor de cabarés
A vida do padre Michel Marie sempre esteve em movimento. Nasceu em 1959 e tem raízes russas, italianas e corsas. Aos 13 anos perdeu sua mãe, o que lhe causou uma “ruptura devastadora” e o fez unir-se ainda mais à Virgem Maria.

Por ter um grande talento musical, compensou a perda de sua mãe com a música. Em 1977, após ser convidado a tocar no café Paris de Montecarlo, mudou para a capital onde começou sua carreira de compositor e músico de cabarés. Todavia a chamada de Deus era mais forte e em 1988 entrou para a ordem dominicana por causa de sua devoção a São Domingos. Esteve com eles por quatro anos, quando, diante do fascínio por São Maximiliano Kolbe, passou para a ordem franciscana, onde também permaneceu por quatro anos.

Foi em 1999 que foi ordenado sacerdote para a diocese de Marselha com quase quarenta anos. Além de músico, agora dedicado a Deus, também é escritor de sucesso, com seis livros publicados, e poeta.

Tradução: William Bottazzini

*Todos os negritos são do texto original.

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