EXTRA ECCLESIAM NULLA SALUS

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Católico e socialista x católico ou socialista




Devo admitir que me fora muito difícil publicar o título deste texto da forma como foi escrito, pois as palavras "católico" e "socialista" repelem-se mutuamente.

Já ouço muitos dizerem: "Nossa! Eu me considero um católico praticante, devoto e ao mesmo tempo preocupado com as causas sociais e em resolver as desigualdades existentes e provocadas pelo sistema capitalista, burguês...". (Aqui dá-se início a um discurso infinito contra o latifúndio, a burguesia, o consumismo e outros).

Ou ainda: "Não se pode falar assim! 'Beltrano' é socialista, é político e muito católico! Até escreve livros sobre religião!"

E mais: "Como assim? O bispo da minha diocese (e/ou o padre da paróquia) apóia o candidato socialista 'x'. Ele está errado?"

Veremos que posições como estas são contrárias à Fé Católica. Primeiramente, porém, quero fazer algumas ponderações.

De fato, o capitalismo apresenta diversos traços negativos, podendo ser considerado grosso modo como "muito ruim". É no capitalismo que o homem se transformará em um mero acumulador de riquezas. Tudo é pensado de forma a se obter o máximo lucro. E para demonstrar que o capitalismo não é exatamente uma escolha maravilhosa, a Igreja sempre o crítica em seus aspectos que ferem a moral.

"Uma teoria que faça do lucro a regra exclusiva e o fim último da atividade econômica, é moralmente inaceitável. O apetite desordenado do dinheiro não deixa de produzir os seus efeitos perversos e é uma das causas dos numerosos conflitos que perturbam a ordem social (165)" (Catecismo da Igreja Católica, § 2424).

Sem embargo, ao menos dois aspectos presentes no capitalismo são positivos:

a) o direito à propriedade, e
b) o direito à livre iniciativa.

Estes dois pontos positivos do capitalismo são destruídos pelo socialismo, tornando este sistema incrivelmente perverso, dado que este tende a cercear a liberdade humana cada vez mais para que se tenha uma sociedade sem desigualdades. E é nisso que o socialismo se torna "péssimo".

Basta ler qualquer livro de história do século XX para se ver o que aconteceu nos regimes de esquerda ao redor do mundo. Os "salvadores da pátria" arruinaram seus respectivos povos moral e economicamente. O interessante disso tudo é ver sempre alguém empurrando o problema para trás: "Ah, só não deu certo porque não foi feito como 'fulano' ensinara"; e, assim, o socialismo vai sufocando a si mesmo e a outros, tentando ainda achar alguém que o implemente "da maneira correta". Este sistema considera o homem apenas como um "animal que trabalha", segundo a definição de Engels. Em nome de uma pretensa igualdade arrancam-se aos homens a liberdade e os direitos mais básicos. Não obstante, ao mesmo tempo em que é um "animal que trabalha", o homem é também o salvador de si mesmo e cabe a ele criar aqui na Terra um paraíso, onde todos sejam iguais e vivam em perene abundância.

Entretanto, não podemos nos enganar e pensar que capitalismo e socialismo são termos completamente contraditórios. Na realidade, os dois possuem uma origem comum, e é o desenvolver de um que levará inexoravelmente ao outro. É o capitalismo mais liberal que conduzirá à mais violenta ditadura do proletariado. Talvez eu escreva mais a este respeito em um outro momento.

Por ora, faço questão de destacar o que a Igreja nos ensina no Catecismo da Igreja Católica acerca dos dois sistemas econômicos:

"A Igreja rejeitou as ideologias totalitárias e ateias, associadas, nos tempos modernos, ao 'comunismo' ou ao 'socialismo'. Por outro lado, recusou, na prática do 'capitalismo', o individualismo e o primado absoluto da lei do mercado sobre o trabalho humano (167). Regular a economia só pela planificação centralizada perverte a base dos laços sociais: regulá-la só pela lei do mercado é faltar à justiça social, «porque há numerosas necessidades humanas que não podem ser satisfeitas pelo mercado» (168). É necessário preconizar uma regulação racional do mercado e das iniciativas económicas, segundo uma justa hierarquia dos valores e tendo em vista o bem comum" (Catecismo da Igreja Católica, § 2425, grifos e sublinhados meus).

Poderão indagar-me: "William, parece-me que a Igreja deixa em aberto a questão sobre o sistema econômico a ser adotado, uma vez que ela faz críticas contundentes a ambos". No entanto, devemos ter em mente que o que o Catecismo faz é:

"(...) apresentar uma exposição orgânica e sintética dos conteúdos essenciais e fundamentais da doutrina católica (...)" (Catecismo da Igreja Católica, § 11, grifos e sublinhados meus).

Assim, o Catecismo mostra o caminho, mas cabe ao catecúmeno percorrê-lo. E ao percorrer o caminho indicado pelo Catecismo, encontraremos o seguinte parágrafo:

"Mas a socialização também oferece perigos. Uma intervenção exagerada do Estado pode constituir uma ameaça à liberdade e às iniciativas pessoais. A doutrina da Igreja elaborou o princípio dito da subsidiariedade. Segundo ele, 'uma sociedade de ordem superior não deve interferir na vida interna duma sociedade de ordem inferior, privando-a das suas competências, mas deve antes apoiá-la, em caso de necessidade, e ajudá-la a coordenar a sua ação com a dos demais componentes sociais, com vista ao bem comum' (7)" (Catecismo da Igreja Católica, § 1883, destaques meus).

Observem, caros leitores, que há um número "7" no final do trecho citado. Ora, este número nos remete a outros textos indicados nas referências. E a quais textos ele nos remete? Justamente às Encíclicas Quadragesimo Anno escrita pelo papa Pio XI em 1931 e Centesimus Annus escrita por João Paulo II no ano 1991. Notem ainda, queridos leitores, que ambas as Encíclicas foram nomeadas fazendo referência a uma determinada quantidade de anos: uma fala do "Quadragésimo Ano" e a outra do "Centésimo Ano". Mas, "centésimo" e "quadragésimo" em relação  a quê? A resposta é: em relação à Encíclica Rerum Novarum escrita por Leão XIII em 1891.

Desta feita, as três Encíclias citadas no parágrafo anterior cuidarão de tratar do mesmo tema. E peço encarecidamente para os "espertinhos" que poderiam alegar petulantemente: "Negativo! Isso foi o papa 'x' que alegou naquele tempo, hoje as coisas mudaram", que prestem atenção nas datas e veja que quem fala é a própria Igreja zelando pelos seus filhos continuamente. Ela falou em 1891, em 1931 e, mais recentemente, em 1991. Ou seja, veremos que o socialismo fora condenado na "infância", "na juventude" e na "velhice". E o que dizem os Papas?

Vamos seguir a ordem cronológica e começar por Leão XIII e sua Rerum Novarum.

"Os Socialistas, para curar este mal [a exploração do homem pelo homem], instigam nos pobres o ódio invejoso contra os que possuem, e pretendem que toda a propriedade de bens particulares deve ser suprimida, que os bens dum indivíduo qualquer devem ser comuns a todos, e que a sua administração deve voltar para - os Municípios ou para o Estado. Mediante esta transladação das propriedades e esta igual repartição das riquezas e das comodidades que elas proporcionam entre os cidadãos, lisonjeiam-se de aplicar um remédio eficaz aos males presentes. Mas semelhante teoria, longe de ser capaz de pôr termo ao conflito, prejudicaria o operário se fosse posta em prática. Pelo contrário, é sumamente injusta, por violar os direitos legítimos dos proprietários, viciar as funções do Estado e tender para a subversão completa do edifício social" (n° 3, destaques meus).

"Mas, além da injustiça do seu sistema, vêem-se bem todas as suas funestas consequências, a perturbação em todas as classes da sociedade, uma odiosa e insuportável servidão para todos os cidadãos, porta aberta a todas as invejas, a todos os descontentamentos, a todas as discórdias; o talento e a habilidade privados dos seus estímulos, e, como consequência necessária, as riquezas estancadas na sua fonte; enfim, em lugar dessa igualdade tão sonhada, a igualdade na nudez, na indigência e na miséria. Por tudo o que Nós acabamos de dizer, se compreende que a teoria socialista da propriedade coletiva deve absolutamente repudiar-se como prejudicial àqueles membros a que se quer socorrer, contrária aos direitos naturais dos indivíduos, como desnaturando as funções do Estado e perturbando a tranquilidade pública. Fique, pois, bem assente que o primeiro fundamento a estabelecer por todos aqueles que querem sinceramente o bem do povo é a inviolabilidade da propriedade particular. Expliquemos agora onde convém procurar o remédio tão desejado" (n° 7, destaques meus).

Mais adiante o Papa vai clamar por concórdia entre as classe, e não, luta.

A seguir, Pio XI, na Quadregesimo Anno, será ainda mais enfático ao tratar da evolução do socialismo.

"Não menos profunda que a da economia, foi desde o tempo de Leão XIII a evolução do socialismo, contra o qual principalmente terçou armas o Nosso Predecessor. Então podia ele dizer-se único, defendia uma doutrina bem definida e reduzida a sistema; depois dividiu-se em duas facções principais, de tendências pela maior parte contrárias, e irreconciliáveis entre si, conservando porém ambas o princípio fundamental do socialismo primitivo, contrário à fé cristã". (III, 2, destaques meus).

"E se este erro, como todos os mais, encerra algo de verdade, o que os Sumos Pontífices nunca negaram, funda-se contudo numa própria concepção da sociedade humana, diametralmente oposta à verdadeira doutrina católica. Socialismo religioso, socialismo católico são termos contraditórios : ninguém pode ser ao mesmo tempo bom católico e verdadeiro socialista". (III, 2, destaques meus).

E, por fim, cito a Centesimus Annus de João Paulo II:

"Aprofundando agora a reflexão delineada, e fazendo ainda referência ao que foi dito nas Encíclicas Laborem exercens e Sollicitudo rei socialis, é preciso acrescentar que o erro fundamental do socialismo é de caráter antropológico. De fato, ele considera cada homem simplesmente como um elemento e uma molécula do organismo social, de tal modo que o bem do indivíduo aparece totalmente subordinado ao funcionamento do mecanismo económico-social, enquanto, por outro lado, defende que esse mesmo bem se pode realizar prescindindo da livre opção, da sua única e exclusiva decisão responsável em face do bem ou do mal. O homem é reduzido a uma série de relações sociais, e desaparece o conceito de pessoa como sujeito autônomo de decisão moral, que constrói, através dessa decisão, o ordenamento social. Desta errada concepção da pessoa, deriva a distorção do direito, que define o âmbito do exercício da liberdade, bem como a oposição à propriedade privada. O homem, de facto, privado de algo que possa «dizer seu» e da possibilidade de ganhar com que viver por sua iniciativa, acaba por depender da máquina social e daqueles que a controlam, o que lhe torna muito mais difícil reconhecer a sua dignidade de pessoa e impede o caminho para a constituição de uma autêntica comunidade humana" (II, 13, destaques meus).

"Aquele Pontífice [Papa Leão XIII], com efeito, previa as consequências negativas, sobre todos os aspectos — político, social e econômico — de uma organização da sociedade, tal como a propunha o 'socialismo', que então estava ainda no estado de filosofia social e de movimento mais ou menos estruturado. Alguém poderia admirar-se do fato de que o Papa começasse pelo 'socialismo', a crítica das soluções que se davam à 'questão operária', quando ele ainda não se apresentava — como depois aconteceu — sob a forma de um Estado forte e poderoso, com todos os recursos à disposição. Todavia Leão XIII mediu bem o perigo que representava, para as massas, a apresentação atraente de uma solução tão simples quão radical da 'questão operária'. Isto torna-se tanto mais verdadeiro se se considera em função da pavorosa situação de injustiça em que jaziam as massas proletárias, nas Nações há pouco industrializadas". (II, 12, destaques meus).

Posso imaginar alguns protestos: "Muito bem, a Igreja mostra os problemas do socialismo e o condena, mas dá ela alguma solução para as desigualdades existentes, haja vista também as críticas ao capitalismo?" A resposta a estas (e eventuais outras) perguntas pode ser encontrada na leitura integral dos textos destas Encíclicas disponíveis no site do Vaticano:




Vemos pois que, segundo a doutrina da Igreja, não se pode se considerar católico e socialista ao mesmo tempo. É preciso tomar uma decisão definitiva quanto a este aspecto. É lamentável vermos candidatos a cargos políticos que defendem abertamente o socialismo e se dizem católicos. Ou se trata de um desconhecimento completo dos ensinamentos da Igreja; ou, então, de um total oportunismo, o qual antes das eleições verifica qual é a religião dominante em determinada região para se juntar a ela o mais rápido possível. Religião, para estas pessoas, é um afluente de votos. Daí simplesmente escolherem a religião da maioria. Lamentavelmente, vemos que em nosso país parece não haver alternativa que faça frente ao pensamento político e econômico socialista.

Libera nos, Domine das doutrinas socialistas e principalmente dos "católicos socialistas", pois estes, na verdade, não são católicos! Que serão eles, então? Melhor nem responder...Apenas nos basta saber que estão em flagrante desobediência ao que determina a Igreja que dizem seguir.

O ensino da Igreja condena o socialismo em quaisquer de suas vertentes e obriga o fiel a uma decisão definitiva:

Ser católico ou ser socialista?

A caridade obriga-me a rogar ao Pai para que os nossos leitores optem pela primeira alternativa.

A Igreja nos traz, ao longo de dois mil anos, a mensagem de Nosso Senhore Jesus Cristo e, consequentemente, a salvação; já o socialismo, nem dois séculos possui de vida e seus frutos se mostraram podres e amargos.

Lembremos que impérios, reinos, países,  filosofias, doutrinas e religiões surgem e passam, mas a Santa Igreja de Cristo existe para sempre.

Pax Christi Sit Semper Vobiscum

William Bottazzini



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