EXTRA ECCLESIAM NULLA SALUS

domingo, 24 de junho de 2012

Mentiras nas aulas de História


Que a educação vai mal, tanto nas escolas públicas quanto nas particulares, é evidente. Mas há duas disciplinas que passam por um verdadeiro sistema de demolição em suas bases: a História e o Português. Tratemos da primeira.

Podemos dizer que nos últimos cem anos a História tornou-se quase que um sistema religioso de propagação da doutrina marxista. Tudo passou a ser visto puramente do ponto de vista econômico e da luta de classes. Além disso, começou a vigorar entre os historiadores uma mentalidade que proclama que tudo em História é pura interpretação, ou seja, o que há é a mais ousada negação da verdade, e isso, conforme já vimos, é algo completamente absurdo e contraria a lógica mais elementar. A História também se prestou a fazer uma propaganda ferrenha anticatólica e ouso mesmo dizer, aproveitando as ondas do momento que querem acrescentar o sufixo “-fobia” em tudo, que surgiu uma espécie de “catolicofobia”, que faz com que o mero adjetivo “católico” gere repulsa nos que não o são e crie dúvidas e incertezas nos que o são.

É espantoso ver que em pleno século XXI ainda se ensine com a maior desfaçatez que durante a Idade Média acreditava-se que a Terra fosse plana. Essa mentira deslavada surgiu no século XIX na obra de dois historiadores anticlericais que queriam fazer com que a Idade Média, época em que a Igreja mais teve influência, parecesse um imenso absurdo. Não existe nenhum documento medieval que ateste a crença na Terra plana, ao contrário, abundam as produções artísticas e os textos que afirmam a esfericidade da Terra muitos séculos antes do advento de Colombo.

E por falar em Idade Média, como não se lembrar daquelas aulas de História sobre a Inquisição em que os professores nos aterrorizavam com a brutalidade das torturas e com o fanatismo dos bispos da Igreja, que mandavam para a fogueira milhões e milhões (bilhões!, dirão alguns) de pobres inocentes cujo único crime havia sido discordar da doutrina oficial? Balelas sem fim. Sabe-se muito bem que os números de condenados à pena capital foram infinitamente menores que os propalados por aí e que a realidade jurídica da Inquisição era a mesma que vigorava até então também na justiça secular. A pena de morte não era a única pena que existia e era a menos aplicada. A clemência dos tribunais inquisitoriais era tão notável que muitos criminosos comuns cometiam voluntariamente crimes contra a religião para serem julgados pela Inquisição, que fazia com que o processo fosse imediatamente interrompido quando o acusado mostrava-se arrependido e que se fosse condenado à pena de reclusão para cumprir penitências (como rezar tantas ave-marias e padre-nossos, aliás, é daí que surge o nome “penitenciária”) em algum mosteiro, havia dispositivos que determinavam a soltura do penitente para férias ou para tratar de um familiar doente.

Diversos juristas já afirmaram que a Inquisição representou um avanço em termos de humanidade no tratamento dado a um condenado. Sabemos também que ela foi instituída para proteger as pessoas do fanatismo popular, que por si só linchava os que vituperavam a religião comum, e do arbítrio dos reis, que executavam desafetos políticos sob o pretexto da religião. A Igreja tomou para si as responsabilidades dos casos de ofensa à religião, deixando aos poderes civis a competência para julgar os crimes comuns. Deixe-me explicá-lo melhor. Antes do surgimento da Inquisição em certo país hipotético já era crime professar ideias ofensivas à religião estabelecida. Eu disse ofensivas e não, meramente contrárias. A pena para esses casos era frequentemente a pena de morte. Pois bem, o que a Igreja tinha em mente quando estabeleceu o Santo Ofício era basicamente conseguir o arrependimento do indivíduo para que o Estado não pusesse as mãos nele. Se o sujeito permanecesse aferrado às suas ideias (o que mostra traços de fanatismo nos acusados, pois bastava se dizer arrependido para ser posto em liberdade), ele era entregue ao braço secular para a aplicação da pena que já era prevista. A Igreja não podia obrigar a pessoa a ser católica e a se converter.  Muitos dos condenados iam alegremente para a fogueira como mártires de suas ideias “benfazejas”, como os cátaros, por exemplo, que, entre outras coisas, ensinavam o assassinato de mulheres grávidas.

Outro fato que me chama a atenção é a ênfase e as distorções para com a Inquisição católica, que segundo um historiador protestante foi importante para o estabelecimento da ordem e da civilização contra elementos misantropos, e o silêncio para com a Inquisição calvinista que fez com que Genebra vivesse um verdadeiro clima de terror.

Que tenha havido erros nos julgamentos inquisitoriais é inegável (qual sistema jurídico é ilibado nesse sentido?), mas os princípios estavam bem fundamentados na doutrina cristã da caridade e no arsenal jurídico disponível na época. Ela era bem vista pelos grandes intelectuais e pelo povo, que, aliás, exigia a presença dos tribunais em suas comunas e vilas.

As perguntas que ficam são: quando os historiadores católicos vão se insurgir contra as mentiras para que a verdade possa triunfar? Até quando essa omissão persistirá?

Nas próximas semanas trataremos de outros temas tão distorcidos dentro da História.

William Bottazzini

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