EXTRA ECCLESIAM NULLA SALUS

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O Encontro de um Comunista com Jesus


Uma vida sempre em busca de sentido. Fascinado pelas ideias de liberação da ideologia comunista, seguiu por diversos caminhos até se tornar deputado e dirigente. Desiludido, praticou o niilismo, o evolucionismo e o relativismo, até que, um dia, teve um encontro apaixonado e comovente com Jesus.

Trata-se, em síntese, do caso de Pietro Barcellona, docente de Filosofia do Direito junto à Faculdade de Direito da Universidade de Catania. Ele já foi membro do Conselho Superior da Magistratura e, após isso, deputado e membro da Comissão de Justiça da Câmara, além de autor de inúmeras publicações.

Para contar a sua história e, acima de tudo, para comunicar as razões deste namoro, o prof. Pietro Barcellona publicou o livro “Encontro com Jesus” (edições Marietti).

“Percorrendo uma vez mais os caminhos de minha vida neste encontro com Jesus – escreve – vivi uma experiência que não pode encontrar resposta nem no terreno da filosofia, nem no da teologia e da mística, pois a questão acerca da pessoa de Jesus jamais é completamente preenchida”.

Barcellona ainda se considera um “materialista” no sentido de necessidade do contato humano e carnal com a consciência, e explica: “Aquilo que me interessa, me inquieta e me conduziu a estas reflexões atuais é a figura concreta de Jesus: um homem que é filho de Deus. Parece-me, esta, a novidade absoluta do cristianismo, até porque não se pode pensar em Jesus Cristo como uma doutrina, e assim, uma teoria. Cristo não é uma teoria. É uma encarnação. E se é uma encarnação não há como deixar de ser uma presença. A teoria pode ser publicada e transmitida. A presença tem que ser percebida”.

Para o docente de Filosofia do Direito, “diferentemente da ideia de Deus, a qual pode ser, de certa forma, o resultado da atividade da razão, acredito que, em relação a Jesus, não se pode ter uma abordagem filosófica”.

“É como se eu quisesse transformar a amizade em um conjunto de regras para conquistar a simpatia de uma pessoa – acrescenta. As regras criarão um breve tratado sobre a amizade, mas não criarão a amizade. Esta nasce quando ocorre aquilo que ocorre. Um pouco como o amor”.

O prof. Barcellona afirma que “o terreno sobre o qual acontece o encontro com Jesus não é um terreno filosófico; é um terreno que está ligado à contemporaneidade, à presença atual”.
E esta, “não é uma coisa nem simples, nem garantida para sempre”, por isso é necessário “buscar esta presença”.

“Para que este encontro se produza e se repita – diz Barcellona – você tem que se colocar no meio do caminho, pois se você se fecha em suas certezas, você cria uma operação estática que é incompatível com este movimento de Jesus. Jesus é um movimento contínuo da encarnação. O Verbo que se faz carne na realidade cotidiana, se você o fossiliza, as dúvidas voltam e você perde o contato”.

Em diversos artigos e entrevistas, o autor conta como ficou fascinado com a ideologia comunista.

“O comunismo – recorda Barcellona – parecia-me não apenas a redescoberta de um mundo real, dado que eu havia estudado direito e estivera muito fechado em meu mundo, mas, para mim, parecia ser também uma resposta às minhas questões iniciais: isto é, que é próprio do homem estar junto aos outros para construir um futuro de salvação. Salvação humana, mas sempre salvação. À pergunta ‘quem sou eu? ’, respondia: sou um comunista que está lutando por uma sociedade melhor”.

Mas, após a queda do muro de Berlim, Barcellona conta que “tendo o muro caído, eu também caí. Com o fim do PCI, tive uma depressão grave e, por isso, recorri à análise. Contudo, na verdade, o motivo pelo qual adoeci foi a desagregação humana dos grupos com os quais estava acostumado a viver”.

“Trabalhei por muitos anos em Roma com Ingrao no Centro para Reforma do Estado, dirigia uma revista e tinha uma relação de amizade com muitos dos intelectuais italianos que hoje estão nas páginas dos jornais e que discursam nas festividades. Com estes, acreditava possuir uma relação de grande amizade. Infelizmente este tipo de ruptura determinou uma agressividade e um ataque recíproco inaudito que me deixou improvisamente nu. Vi alguns amigos, com os quais compartilhava algumas ideias, desaparecerem e ressurgirem em outras frentes. Tal fato causou em mim uma grande dor pessoal”.

Após a ruptura com o PCI, o prof. Barcellona confrontou-se com aqueles que chamou de monstros: “Niilismo, evolucionismo e relativismo – escreve o autor do livro – levam todos ao mesmo resultado: a vida não vale nada, é algo puramente funcional, equivalente a qualquer outro fator que se insere na cadeia evolutiva para que haja a reprodução da vida material”.

“Fiquei aterrorizado – confessa Barcellona – com a difusão, no senso comum, da ideia de que todas as coisas não valem nada, com a impossibilidade de se dar valor às coisas” e, ainda, “em relação ao niilismo, receio que sua implicação prática se traduza em indiferença e apatia e condene os jovens a uma passividade sem esperança”.

O prof. Barcellona conclui, afirmando que “a história humana não pode ser “salva” sem que o divino inerve intimamente os acontecimentos terrenos dos homens e das mulheres de carne e osso. Eis o motivo pelo qual fui atingido de modo afetivo pelo Evangelho de Jesus Cristo. O nascimento de Jesus é, na verdade, uma ruptura temporal em relação ao modo tradicional de ver a relação entre o divino e o humano: o Verbo encarnado, filho do homem e filho de Deus, nascido de uma mulher, com uma maternidade afetiva, representa uma novidade absoluta no grande drama da história humana”.

Traduzido do italiano por William Bottazzini.

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