EXTRA ECCLESIAM NULLA SALUS

terça-feira, 16 de agosto de 2011

O problema das seitas.





Pe. Inácio José do Vale

Segundo o estudioso dos movimentos religiosos o Padre Oscar Quevedo, SJ, existem, só no Brasil, mais de 56 mil seitas e religiões.

“O problema das seitas que invadem a América Latina impugnando a fé católica de nossas populações é muito grave e, como se depreende dos seguintes dados”:

Na América Latina a cada 400 pessoas abandonam a fé católica. 

Na Guatemala 25% da população já é protestante.

Em El Salvador cerca de 30% dos católicos já passaram para as seitas. 

No México em 1970 os protestantes eram 880.000. Hoje são perto de 5.000.000 (cinco milhões).

“No Brasil também é evidente o avanço das seitas resultante, em grande parte de ataques preconceituosos à Igreja Católica e da ignorância religiosa do povo brasileiro”.

Consciente disto escreve o Papa João Paulo II na Carta Apostólica sobre a Igreja na América: “Os progressos proselitistas das seitas e dos grupos religiosos na América não podem ser contemplados com indiferenças. Exigem da Igreja nesse continente um profundo estudo que se deve realizar em cada nação e também a nível internacional para descobrir os motivos pelos quais não poucos católicos abandonam a Igreja”.

“O remédio a opor a tal problema é a intensificação do estudo das verdades reveladas, especialmente dos pontos controvertidos pelos novos pregadores”, afirma o especialista no assunto, o Teólogo Beneditino Dom Estêvão Bettencurt (1).

Vejamos uma explicação abissal desse grande apologista da fé católica: “A catequese tem-se ressentido de inoportuna timidez, tem aprimorado sua metodologia, mas não raro apresenta um conteúdo muito diluído“para não assustar” os catequizandos. A ignorância religiosa do povo católico torna-o mais sujeito ao arrastão das seitas, cuja pregação não raro deixa o católico perplexo e sem resposta, quando apresentam argumentos inconsistentes. A multiplicidade de propostas religiosas que bombardeiam o povo de Deus, se de um lado, é lamentável, de outro lado tem a vantagem de obrigar os fieis a aperfeiçoar sua formação doutrinaria para não serem carregados pelo vendaval” (2).

PROJEÇÃO

A religiosidade do povo brasileiro aumentou, os evangélicos (pentecostais e tradicionais) continuam cada vez mais numerosos, mas o declínio do catolicismo, que era de 1% ao ano desde 1972, estancou entre 2000 e 2003, e, a partir daí, acompanha o crescimento populacional do país. A esta conclusão chegaram os analistas do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), cujo economista-chefe, Marcelo Néri, apresentou recentemente no Rio de Janeiro, o trabalho “Economia das religiões: mudanças recentes”, interpretação dos dados do censo de 2000 e da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF, 2003), realizados pelo IBGE.

Uma projeção para 2007 indica que o Brasil, com uma população, hoje, de 188,7 milhões de habitantes, teria 139,24 milhões de católicos e 43,64 milhões de evangélicos – 28,8 milhões de pentecostais e 14,8 milhões de evangélicos tradicionais.

“Esses dados são surpreendentes até para o Vaticano, onde se tinha como certo que os católicos eram de 67% da população brasileira. Posso assegurar que são 73,79%. Houve reação do catolicismo nesta década”, diz Marcelo Néri (Valor 03/05/2007), p. A4). 

FÉ FRAGILIZADA

No encontro do Papa Bento XVI com os Bispos do Brasil na Catedral da Sé em São Paulo, em seu discurso de 11 de maio de 2007 disse: 

“Entre os problemas que afligem a vossa solicitude pastoral está, sem duvida, a questão dos católicos que abandonaram à vida eclesial. Parece claro que a causa principal, dentre outras, deste problema, possa ser atribuída à falta de uma evangelização em que Cristo e a sua Igreja estejam no centro de toda explanação. As pessoas mais vulneráveis ao proselitismo agressivo das seitas – que é motivo de justa preocupação – e incapaz de resistir às investidas do agnosticismo, do relativismo e do laicismo são geralmente os batizados não suficientemente evangelizados, facilmente influenciáveis porque possuem uma fé fragilizada e, por vezes, confusa, vacilante e ingênua, embora conservem uma religiosidade inata” (3).

No outro discurso do dia 13 de maio de 2007, na sessão inaugural dos trabalhos da V. Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, na sala de Conferencia do Santuário de Aparecida, o Santo Padre afirmou: “Percebe-se, contudo, certo enfraquecimento da vida cristã no conjunto da sociedade e da própria pertença à Igreja Católica, devido ao secularismo, ao hedonismo, ao indiferentismo e ao proselitismo de numerosas seitas, de religiões animistas e de novas expressões pseudo-religiosas” (4).

O fenômeno das seitas para Igreja Católica é o grande desafio para sua obra evangelística. A Igreja se defronta com ataques violentos das seitas. Hoje o ataque vem com a alta tecnologia dos meios de comunicação, internet e grandes editoras. Para lutar contra a Igreja forma até partidos políticos e financiam converções de pessoas influentes. Daí devemos alertar, instruir e conscientizar o povo católico dessa engenhosa armação!

“Instruir o povo amplamente, com serenidade e objetividade, sobre as características e diferentes das diversas seitas e sobre as respostas às injustas acusações contra a Igreja” (Documento Santo Domingo, n. 141).

O Documento de Santo Domingo (CELAM, 12/10/1992), se manifestou sobre o terrível perigo atual das seitas:

“O problema das seitas adquiriu proporções dramáticas e chega a ser 
verdadeiramente preocupante, sobretudo pelo crescente proselitismo”(n. 139).

O Papa João Paulo II tinha consciência do perigo das seitas em afirmar: “Certamente a expansão de seitas ‘constitui uma ameaça para a Igreja Católica...’ (RM,50)”. 

O Santo Padre disse que na Conferencia de Santo Domingo em outubro de 1992, ficou claro para os bispos o seu perigo:

“O Documento final descreveu com clareza e precisão essas seitas e movimentos, mostrou suas características e modos de atuar, deixou claro os interesses políticos e econômicos envolvidos na sua expansão em todos os continentes... (Conclusões do IV CELAM nn. 139 152)”.

Diante desse problema sectarista qual é a resposta?

Quem responde é o Papa Bento XVI. Na época era o Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé.

“A resposta mais radical às seitas passa através “da descoberta da identidade católica: é preciso uma nova evidência, uma nova alegria, se posso dizer, é preciso mesmo um novo ‘brio’ (que não contradiz a indispensável humildade) de sermos católicos. Deve-se lembrar, além disso, que esses grupos atraem também porque propõem às pessoas, sempre mais sozinhas, isoladas e inseguras, uma espécie de ‘pátria da alma’, o calor uma comunidade. É justamente esse calor, essa vida que, infelizmente, parece falar frequentemente entre nós: onde as paróquias, esses núcleos básicos irrenunciáveis, souberam revitalizar-se, oferecendo o sentido da pequena Igreja que vive em união com a grande Igreja, ali os sectários não puderam se estabelecer de modo significativo. A nossa catequese, além disso, deve desmascarar o ponto sobre o qual insistem esses novos ‘missionários’, isto é, a impressão de que a Escritura é lida por eles de modo ‘literal’, enquanto os católicos a teriam enfraquecido ou esquecido. Essa literalidade é frequentemente a traição da fidelidade. O isolamento de frases individuais e de versículos desvia, faz perder de vista a totalidade: lida no seu conjunto, a Bíblia é realmente ‘católica’. Mas é preciso que isso seja demonstrado através de uma pedagogia catequética que habitue à leitura da Escritura na Igreja e com a Igreja” (5).


O QUE É SEITA?

O teólogo Dom Estêvão Bettencurt,OSB, diz que “uma seita (vem de sectário é uma dissidência ou um grupo fechado que julga estar o mundo corrupto, e pretende ter a verdade como patrimônio seu e solução para todos os problemas da humanidade. Os membros das seitas são geralmente submetidos a um regime autoritário, imposto por um líder “iluminado” que lhe dificulta o senso crítico”. 

A multiplicação de seitas em nossos dias se explica, em grande parte, por duas causas:

1) O Individualismo subjetivismo e relativista da mentalidade moderna a partir de Martinho Lutero (século XVI );
2) A insegurança do homem contemporâneo, que sente angustia diante da crise da sociedade e se dá por feliz, quando alguém, em nome de Poder Superior, o acolhe e lhe propõe certezas e garantias (ainda que fantasiosamente fundamentadas) (6).

O doutor em Ciências Sociais Giorgio Paleari define assim: “Em seu sentido originário, seita representa um grupo que contexta uma doutrina ou uma estrutura eclesiástica e, como tal, constitui-se numa dissidência”.

Diz mais: “Todo movimento religioso minoritário pode ser definido como seita”.

A teologia tomou essa palavra emprestada da língua latina. Ela significa, antes, uma maneira de seguir um mestre e, sucessivamente, revestiu-se de um significado de recusa e de separação, afirma Paleari (7).

Portanto, a seita é um ajuntamento de crentes que acreditam cegamente nos ensinos de seu líder. Este é tido como iluminado, profeta, guru, santo, etc.

A seita nasce de um cisma provocado por heresias, poder, dinheiro, luxúria e loucuras.

É visível no arraial das seitas o fanatismo, intolerável, proselitismo e fechamento. 

SEITA E A IGREJA

O renomado teólogo John Vander Ploeg, O.P., doutor em teologia e doutor em Sagrada Escritura e membro da Academia Real de Ciências da Holanda afirma magistralmente: “Nosso Senhor não fundou uma seita, mas a Igreja que é a Universal, isto é, Católica” (8).

Quem, primeiramente, tentou uma definição de seita, relacionada ao contexto social, em contraposição ao termo Igreja, foi sociólogo alemão, Max Weber. Ele define Igreja como sendo uma Instituição de Salvação, e seita, como um grupo dissidente mais rígido e fechado. Seus adeptos devem ter comportamento exemplar. Desviar-se do modelo de comportamento que a seita impõe comporta na expulsão do grupo religioso. (cf. Weber, Max. “Tipos de Comunidade Religiosa”. In: Economia Y Sociedad. México, Ed. F. Perez Alvarex, 1964). 

Tamanha diferença existe entre seita e a Igreja de Cristo. Esta conduz a salvação, aquela à perdição. 

A Santa Igreja Católica foi fundada uma única vez pelo Redentor e Salvador Jesus Cristo, a seita foi e é fundada sempre por homens pecadores, egoístas e de moral duvidosa. 

A Igreja do Deus vivo é coluna e sustentáculo da verdade (1 Tm 3,15), a seita do deus deste mundo (2 Cor 4,4) é coluna de areia e sustentáculo de falsas promessas.

“A Igreja é comunhão no amor. Esta é sua essência e o sinal através do qual é chamada a ser reconhecida como seguidoras de Cristo e servidora da humanidade” (DA n. 161).

Na seita não existe comunhão e sim um ajuntamento por meio do medo e da chantagem emocional pregada pelo líder. Aqui está assência das seitas. O líder ajunta e pela ‘prisão mental’ os sectários seguem e servem somente a seu grupo e ao líder. O individualismo e o descaso com as questões sociais, são características principais das seitas. 

A nossa missão é ser fiel a Cristo e a sua Igreja.

O Doutor da Igreja São João Crisóstomo e exortava: “não te afaste da Igreja: nada é mais forte do que ela. Ela é a tua esperança, o teu refúgio. Ela é mais alta que o céu e mais vasta que a terra. Ela nunca envelhece”.

CONCLUSÃO

Só a Igreja Católica tem um brilho único, uma beleza única, uma riqueza de santos única e um Deus único verdadeiro para uma indefectível Igreja única, fiel e verdadeira Esposa Imaculada do Esposo glorioso e Imaculado.

Essa Igreja guiada na luz do Divino Espírito Santo, nunca vacilou e jamais vacilará. Dizia Santo Agostinho, Doutor da Igreja e Bispo de Hipona, no Norte da África: “Vacilará a Igreja se vacila o seu fundamento, mas poderá talvez Cristo vacilar? Visto que Cristo não vacila, a Igreja permanecerá intacta até o fim dos tempos”.

“Esta é a única Igreja de Cristo, que no símbolo professamos uma, santa católica e apostólica, e que o nosso Salvador, depois de sua ressurreição, confiou a Pedro para que ele a apascentasse (Jo 21,17), encarregando-o, assim como os demais apóstolos, de difundirem e de a governarem (cf. Mt 28, 18-20), levantando-a para sempre como “coluna e esteio da verdade” (1 Tm 3,15). Esta Igreja como sociedade constituída e organizada neste mundo, subsiste na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele, ainda que fora do seu corpo se encontrem que, na sua qualidade de dons próprios da Igreja de Cristo, conduzem para a unidade católica” (Constituição Dogmática Lúmen Gentium, nº. 8).

“Sem mancha alguma, brilha a Santa Madre Igreja nos sacramentos com que gera e sustenta os filhos; na fé que sempre conservou e conserva incontaminada; nas leis santíssimas que a todos impõe, nos conselhos evangélicos que dá; nos dons e graças celestes, pelos quais com inexaurível fecundidade produz legiões de mátires, virgens e confessores. Nem é sua culpa se alguns de seus membros sofrem de chagas ou doenças; por eles ora a Deus todos os dias: “Perdoai-nos as nossas dívidas” e incessantemente com fortaleza e ternura materna trabalha pela sua cura espiritual”. (Papa Pio XII, Encíclica Mystici Corporis, 65).

Não temos palavras para descrever a felicidade de sermos católicos.

É imensurável essa graça, esse amor e fé à Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

Tudo para glória, louvor, honra e adoração a Santíssima Trindade.


http://espaco-de-paz.awardspace.com/prob_seitas.shtml

Pe. Inácio José do Vale
Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo
Professor de História da Igreja
Faculdade de Teologia de Volta Redonda
Email: pe.inaciojose.osbm@hotmail.com


___________________________________



REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIAS

(1) Pergunte e Responderemos, abril de 2007, p. 154.

(2) Pergunte e Responderemos, fevereiro de 2007, p. 366.

(3) Conferência Nacional dos Bispos do Brasil / Pronunciamentos do Papa Bento XVI no Brasil. Brasília: Edições CNBB, 2007, p. 30.

(4) Idem, p. 63.

(5) Ratzinger, Joseph. A fé em crise? O Cardeal Ratzinger se interroga / Joseph Ratzinger, Vittorio Messori, São Paulo: EPU, 1985, p. 87.

(6) Pergunte e Responderemos, n. 417 / 1997, p. 56.

(7) Paleari, Giorgio, Religiões do Povo, São Paulo: AM Edições, 1990, p. 86.

(8) Rifan, Dom Fernando Áreas. O Magistério Vivo da Igreja, orientação pastoral, Campos-RJ: 2007, p. 48. 

Alves, Rubem. Protestantismo e repressão. São Paulo: Ática, 1979.

Monteiro, Douglas Teixeira. “Igrejas, seitas e agências: aspectos de um ecumenismo popular”. In: Valle, Edênio e Queiroz, José. A cultura do Povo. São Paulo: Cortez e Moraes / EDUC, 1979.

Weber, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. Brasília: UnB, 
1981.
Aquino, Prof. Felipe. Falsas Doutrinas-seitas e religiões, 7ª / ed. – Lorena: Cléofas, 2006.

Oliveira, Raimundo de Seitas e heresias, um sinal do fim dos tempos, 32ª ed. – Rio de Janeiro: 2007.

Documento de Aparecida. Texto Conclusivo da V Conferencia Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. 2ª ed. – Edições CNBB, Paulinas e Paulus: 2007.

Vam Baalem, J.K. O Caos das Seitas. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1970. 



Nenhum comentário:

Postar um comentário