EXTRA ECCLESIAM NULLA SALUS

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Um pouco de Santo Agostinho


Compartilho com todos esta bela homilia de Santo Agostinho sobre o salmo 95.

Para que nossa fé seja cada vez mais cristalina , devemos beber nas fontes da patrística. Esta é a base sólida onde fora construído o edifício da nossa fé.

Todos os destaques pertencem ao próprio texto.

Agradeço a Dom Bento por ter cedido este belo texto.

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Dos Comentários sobre os Salmos, de Santo Agostinho, bispo.
Enarratio super Psalmum 95, 14-15 (Corpus Christianorum Latinorum 39, 1351-1353)

Não ofereçamos resistência a sua primeira vinda, para não termos de recear a segunda
               Exultem as florestas e as matas na presença do Senhor, pois ele vem, porque vem para julgar a terra inteira (Sl 95 [96], 12-13). Veio a primeira vez e virá de novo. Na sua primeira vinda pronunciou esta palavra que lemos no evangelho: De agora em diante vereis o Filho do Homem vindo nas nuvens do céu (Mt 26, 64). Que significa de agora em diante? Não quer dizer, porventura, que o Senhor deve vir desde agora e não depois, quando todos os povos da terra haverão de chorar? De fato, ele veio primeiramente através dos seus pregadores e encheu a terra. Não ofereçamos resistência a sua primeira vinda, para não termos de recear a segunda.
               Que deve fazer o cristão? Servir-se do mundo, não servir o mundo. Que significa isto? Ter como se não tivéssemos. Assim fala o Apóstolo: Eu digo, irmãos: o tempo abreviou-se. Então, que, doravante, os que têm mulher vivam como se não tivessem mulher;  os que choram, como se não chorassem, e os que estão alegres, como se não estivessem alegres; os que fazem compras, como se não estivessem adquirindo coisa alguma, e os que se aproveitam do mundo, como se dele não tirassem proveito. Pois a figura deste mundo passa. Eu gostaria que estivésseis livres de preocupações (1Cor 7, 29-32).
               Quem não está preocupado, espera tranqüilamente a vinda do seu Senhor. Na verdade, que espécie de amor a Cristo terá aquele que teme a sua vinda? Não temos vergonha, irmãos? Nós o amamos e temos medo de sua vinda! Mas será que realmente o amamos ou não será que amamos antes os nossos pecados? Se odiarmos o pecado, amaremos certamente aquele que vem castigar o pecado. Ele virá, quer queiramos quer não; o fato de não vir agora não quer dizer que não virá. Virá, e não sabes quando; se te encontrar preparado, nada te prejudica não saberes quando virá.
                Exultem as florestas e as matas. Veio a primeira vez, e virá de novo para julgar a terra; e encontrará cheios de alegria os que acreditaram na sua primeira vinda, porque ele vem.
               Julgará o mundo todo com justiça e os povos com eqüidade (Sl 95 [96], 13). Qual é esta justiça e esta eqüidade? Reunirá junto de si os seus eleitos para proceder ao juízo; e separará os outros: colocará uns à direita e outros à esquerda. Que há de mais conforme à justiça e à eqüidade, que não esperem misericórdia do juiz aqueles que não quiseram praticar a misericórdia antes da vinda do juiz? Os que usaram de misericórdia serão julgados com misericórdia. Dirá Cristo aos que forem colocados à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Recebei o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! (cf. Mt 25, 34). E serão recordadas as suas obras de misericórdia: Estava com fome, e me destes de comer; estava com sede, e me destes de beber (Mt 25, 35), e o que segue.
               E de que serão acusados os que forem colocados à sua esquerda? De não terem usado de misericórdia. E para onde irão? Para o fogo eterno (Mt 25, 41). Esta má notícia provocará enorme pranto. Mas que diz outro salmo? A lembrança do justo permanece eternamente! Ele não teme receber notícias más (Sl 111 [112], 6-7). Qual é a má notícia? Ide para o fogo eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos (Mt 25, 41). Quem se alegrar com a boa notícia, não receberá a notícia má. Aqui está a justiça e aqui está a eqüidade.
               Ou será que, por seres injusto, o juiz não é justo? Ou por seres infiel, a fidelidade não é fiel? Ora, se desejas que ele seja misericordioso para contigo, sê tu misericordioso antes que ele venha. Perdoa a quem te ofendeu. Dá do que tens em abundância. De quem é o que dás, senão dele? Se desses do que era teu, seria liberalidade; mas porque dás do que é dele, é uma restituição. Que tens que não tenhas recebido? (1Cor 4, 7).
               São estes os sacrifícios mais agradáveis a Deus: a misericórdia, a humildade, o louvor, a paz, a caridade. Apresentemos estas ofertas e esperaremos com segurança a vinda do juiz, que julgará o mundo todo com justiça e os povos com eqüidade.

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