EXTRA ECCLESIAM NULLA SALUS

domingo, 20 de maio de 2012

O que significa: “Sentou-se à destra do Pai?” – Uma resposta de Santo Agostinho


No Credo dizemos que Deus está sentado à direita (ou à destra)  de Deus Pai. Mas o que isso quer dizer? Será que Deus possui lados direito e esquerdo? Se assim for, então Ele é um ser finito. Mas isso é absurdo.

E ainda: em Atos 7, 56 Santo Estevão vê Cristo em pé à direita de Deus. Será que há contradição entre o Credo e a Bíblia? Será que a expressão à destra significa uma posição do corpo?

Deixemos o Doutor de Hipona resolver este dilema para nós em seu Discurso sobre o Símbolo para os Catecúmenos, 4.11.

Subiu ao céu. Crede. Assentou-se à destra do Pai. Crede.  Por sentar-se, entendei morar, assim como quando dizemos de um homem: “Assentou-se naquele lugar por três anos”. Também a Escritura o afirma: tal assentou-se na cidade por um determinado tempo. Quereria isso dizer que se sentou e nunca mais se levantou? Também os locais onde habitam os homens são chamados de “sedes”, e não é por isso que se fica ali sentado. Eles levantam, caminham. Não se está sentado e, todavia, tais locais são chamados de “sedes”. Assim também entendei o morar de Cristo à destra do Pai: Ele está lá. Mas não penseis: “Que está fazendo?”. Não busqueis o que não se pode encontrar. Está lá. Que isso vos baste. Ele é bem-aventurado e pela beatitude lhe compete o nome de “destra do Pai”, pelo fato de que “destra do Pai” significa exatamente felicidade. Se quiséssemos compreender isso de modo material, deveríamos dizer que se Ele está assentado à destra do Pai, o Pai estará então à esquerda.  É-nos lícito pensar que Eles se encontram assim? O Filho à destra, o Pai à esquerda? Lá tudo é destra porque não existe nenhuma infelicidade.

[Nota: a palavra sede vem do verbo latino sedere, isto é, sentar-se ou assentar-se]

Por William Bottazzini

terça-feira, 15 de maio de 2012

O Segredo de Fátima


Domingo passado, com o dia das mães, celebramos o 95o aniversário da primeira de uma série de aparições de Nossa Senhora a três pobres crianças, pastores de ovelhas, em Fátima, pequena cidade de Portugal, de onde a devoção se espalhou e chegou ao Brasil. E são sempre atuais e dignas de recordação as suas palavras e seu ensinamento.


O segredo da importância e da difusão de sua mensagem está exatamente na sua abrangência de praticamente todos os problemas atuais. E aquelas três pobres crianças foram os portadores do “recado” da Mãe de Deus para o Papa, os governantes, os cristãos e não cristãos do mundo inteiro.


"...Fátima é o resumo, a recapitulação e a recordação do Evangelho para os tempos modernos"

Ali, Nossa Senhora nos alerta contra o perigo do materialismo comunista e seu esquecimento dos bens espirituais e eternos, erro que, conforme sua predição, vai cada vez mais se espalhando na sociedade moderna, vivendo os homens como se Deus não existisse: o ateísmo prático, o secularismo.


“A Rússia vai espalhar os seus erros pelo mundo”, advertiu Nossa Senhora. A Rússia tinha acabado de adotar o comunismo, aplicação prática da doutrina marxista, ateia e materialista. Se o comunismo, como sistema econômico, fracassou, suas ideias continuam vivas e penetrando na sociedade atual. Aliás, os outros sistemas econômicos, se também adotam o materialismo e colocam o lucro acima da moral e da pessoa humana, adotam os erros do comunismo e acabam se encontrando na exclusão de Deus. Sobre isso, no discurso inaugural do CELAM, em 13 de maio de 2007, em Aparecida, o Papa Bento XVI alertou: “Aqui está precisamente o grande erro das tendências dominantes do último século… Quem exclui Deus de seu horizonte, falsifica o conceito da realidade e só pode terminar em caminhos equivocados e com receitas destrutivas”.Fátima é, sobretudo, a lembrança de Deus e das coisas sobrenaturais aos homens de hoje.


Aos pastorinhos e a nós, Nossa Senhora pediu a oração, sobretudo a reza do Terço do Rosário todos os dias, e a penitência, a mortificação nas coisas agradáveis e lícitas, pela conversão dos pecadores e pela nossa santificação e perseverança.


Foto dos Três Pastorinhos, na época das Aparições.

Explicou que o pecado, além de ofender muito a Deus, causa muitos males aos homens, sendo a guerra uma das consequências do pecado. Lembrança muito válida, sobretudo hoje, quando os homens perderam o senso do pecado e o antidecálogo rege a vida moderna.


Falou sobre o Inferno – cuja visão aterrorizou sadiamente os pastorinhos e os encheu de zelo pela conversão dos pecadores –, sobre o Purgatório, sobre o Céu, sobre a crise que sofreria a Igreja, com perseguições e martírios.

O Rosário, tão recomendado por Nossa Senhora, é a “Bíblia dos pobres” (João XXIII)

Enfim, Fátima é o resumo, a recapitulação e a recordação do Evangelho para os tempos modernos. O Rosário, tão recomendado por Nossa Senhora, é a “Bíblia dos pobres” (João XXIII). Assim, sua mensagem é sempre atual. É a mãe que vem lembrar aos filhos o caminho do Céu.


                                                          Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal
                                                                      São João Maria Vianney

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Um namoro diferente leva à santidade

A experiência da vida matrimonial dos Servos de Deus Zélia e Jerônimo, casal brasileiro do século 19, mostra que é possível ser santo na vida cotidiana correspondendo à vocação ao qual foi chamado.

Jerônimo de Castro Abreu Magalhães nasceu em Magé e Zélia Pedreira Abreu Magalhães em Niterói. Casaram-se em 27 de julho de 1876, na Chácara da Cachoeira, bairro da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro.


Ele engenheiro civil e ela uma jovem letrada, com primorosa formação artística, literária e científica, de modo que aos 14 anos traduziu do italiano para o português, a obra de Cesare Cantu “Il Giovinetto”.



"O desejo de Jerônimo e Zélia sempre foi o de agradar a Deus desde o período em que se conheceram, quando na troca de olhar já ficou claro que o namoro deles seria um namoro diferente"

O desejo de Jerônimo e Zélia sempre foi o de agradar a Deus desde o período em que se conheceram, quando na troca de olhar já ficou claro que o namoro deles seria um namoro diferente, declarou Dom Roberto Lopes, vigário episcopal para a Vida Consagrada e responsável pelos processos de candidatos à causa dos santos da Arquidiocese do Rio; conforme nota da Portalum.


“Zélia e Jerônimo eram muito apaixonados. A vida de oração foi crescendo dentro do coração do casal. Eles educaram seus filhos para Deus, e a Eucaristia era algo que procuravam dar de presente para o povo de Deus que o cercava”, destacou.


Desse casamento nasceram 13 filhos, quatro falecidos em tenra idade, os demais (três homens e seis mulheres) abraçaram diferentes ordens religiosas, dentre eles o frei franciscano José Pedreira de Castro, professor de ciências bíblicas que fundou em 1956 um Centro Bíblico e o curso de Sagrada Escritura por correspondência.


Na fazenda onde eles moravam havia uma capela, onde inúmeras vezes ao dia o casal era visto rezando, assim como também seus escravos, que iniciavam o trabalho do dia sempre com oração conduzida por Jerônimo e Zélia no pátio da fazenda.


A pesquisa histórica sobre Jerônimo de Castro Abreu Magalhães e sua esposa Zélia está sendo feita por uma comissão arquidiocesana, instalada no dia 23 de dezembro pelo arcebispo Dom Orani João Tempesta.


Da década de 30 até a década de 60, a vida de Zélia foi bastante conhecida. Sua biografia chegou à sexta edição e foi traduzida em iugoslavo, alemão, francês, espanhol, em italiano, e em português de Portugal.


Atualmente, existem no Brasil em torno de cinquenta causas de beatificação, das quais 25 figura como postulador o Dr. Paolo Vilotta, responsável também pela causa dos Servos de Deus Zélia e Jerônimo.


terça-feira, 8 de maio de 2012

Respondendo a objeções comuns acerca de Maria

Em resposta à postagem what the Magnificat tells us about Marian veneration [o que o Magnificat nos diz sobre a veneração mariana], um leitor protestante levantou certo número de objeções e acredito que outros leitores possam estar debatendo-se sobre elas:

“Minha alma engrandece o (exulta no) Senhor. E meu espírito alegrou-se em Deus meu salvador (salvou-a de quê?), pois Ele viu a pequenez de sua serva; desde agora todas as gerações chamar-me-ão de bendita.”

Maria não diz que todas as pessoas vão chamá-la de bendita, mas “todas as gerações.” E eu acho que nós podemos dizer com confiança que todas as gerações chamaram-na de bendita e continuarão a fazê-lo. Nunca encontrei um protestante que diria que  Maria não foi bendita.

Lorenzo Costa, A Sagrada Família (c. 1500)
O que nem Maria, nem os apóstolos, nem os protestantes disseram foi que ela seria chamada de Mãe de Deus ou de Rainha do Céu ou de Rainha dos Apóstolos. Ela também não disse que as pessoas deveriam adorá-la ou rezar para ela ou pedir-lhe que intercedesse por elas.  Ela também não disse que ela seria perpetuamente virgem ou que nascera sem pecado ou que seria assunta em corpo para o Céu.

A última vez que nós lemos sobre Maria no Novo Testamento é em Atos 1:14. Ela estava no cenáculo com os discípulos e os irmãos do Senhor. Não há outra menção acerca dela depois disso. Em Apocalipse lemos da consumação de todas as coisas e de um novo Céu e de uma nova Terra, mas não há nenhuma menção de Maria.

Dado que nem os Apóstolos nem os padres apostólicos, tanto quanto eu saiba, disseram uma palavra sobre Maria, é a sua opinião que eles tiveram um “problema com Maria”.

Há muito a ser tratado aqui, mas deixe-me tratar do básico.

1.Deus salvou Maria do pecado. Do mesmo modo, se eu pegar um vaso antes que ele se quebre, eu estou salvando-o de quebrar-se. Ou do mesmo modo que Deus nos salva de todos aqueles pecados que cometeríamos sem a Sua graça. Então sim, Maria foi salva

2.Concordo, Maria diz “todas as gerações”, não “todas as pessoas”. Meu argumento é que as únicas pessoas que honraram Maria por inúmeras gerações antes da Reforma foram indiscutivelmente os católicos e os ortodoxos, e  tinham uma visão de Maria que muitos protestantes (incluindo este leitor) aparentemente considerariam idolátrica. Se estas gerações devem ser condenadas por seu tratamento a Maria, por que são louvadas na Escritura por seu tratamento a Maria?

Ícone de Jesus e Maria do sexto século
3.Verdade, a Escritura não diz “Mãe de Deus”, assim como ela não diz “Trindade”. Mas mesmo assim ambas as doutrinas são verdadeiras. Que Maria é a Mãe de Deus é óbvio, pois (a) Jesus é Deus [João 20:26-28], e (b) Maria é sua Mãe [Lucas 2:51]. Ela foi declarada Theotokos, o que significa Mãe de Deus (ou literalmente, “aquela que carrega Deus"), no Primeiro Concílio de Éfeso em 431, o qual todas as gerações de Cristãos entre 431 e a Reforma aceitaram. 

4.Os católicos não adoram Maria. Entendo que pode parecê-lo às pessoas que não entendem o catolicismo e/ou adoração, mas acredite em mim, nós não a adoramos...e nós saberíamos se o fizéssemos, não é certo?

5.Contrariamente à alegação do leitor, eu diria que Maria é mencionada no Apocalipse. Veja Apocalipse 12, onde a Mãe de Jesus é retratada em batalha contra Satanás, e é sobrenaturalmente preservada do mal.

6.Maria alegou sim ser uma virgem perpétua na resposta à Anunciação do anjo Gabriel [Lucas 1:34]. Por isso ela está confusa sobre como ela pode se tornar a Mãe de Deus. A frase em que ela não conhece nenhum homem apenas faz sentido no contexto da virgindade perpétua, dado que ela já estava casada. Novamente a virgindade perpétua de Maria foi afirmada por numerosas gerações no seio da Igreja antes da Reforma e mesmo reafirmada por Martinho Lutero e Zuínglio, e da mesma forma pelos primeiros anglicanos e por John Wesley  (e Calvino não se opunha à ideia).

Damián Forment, Nossa Senhora do Coro (1515)
7.As doutrinas marianas foram descritas desde muito cedo. Por exemplo, em São Justino Mártir (160 d.C), Irineu (180 d.C) e Tertuliano (160-220 d.C). Todos estes descrevem Jesus e Maria como o paralelo de Adão e Eva. Irineu capta isso de modo sucinto, ao se referir à “referência em sentido contrário de Maria a Eva”, e que “o nó da desobediência de Eva soltou-se pela obediência de Maria. Pois o que a virgem Eva atou fortemente através da descrença, a virgem Maria  liberou através da fé.” Por falar em comparação, o primeiro uso conhecido da palavra “Trindade” foi feito por Teófilo de Antioquia em 181 d.C...depois que Justino e Irineu haviam escrito sobre Maria como a Nova Eva. Logo, não se queira dar a entender que isso seja alguma inovação tardia.

8.Finalmente, o que dizer sobre a alegação de que os apóstolos nunca disseram uma palavra sobre “Maria”? Leia o Evangelho de Mateus ou o Evangelho de João. Maria é repetidamente mencionada. Para iniciantes, leiam-se Mateus 1-2, João 2:1-11 e João 19:26-27. Ela também ganha um tratamento aprofundado nos primeiros dois capítulos de Lucas, que parecem descrever a Natividade e a Infância de Cristo através de seus olhos. Reconheço que algumas comunidades protestantes enfatizam os Atos e as Epístolas Paulinas mais que os verdadeiros Evangelhos (por alguma razão), mas se você ler os Evangelhos, ela sem dúvida estará lá.

Diante disso tudo, não creio que sejam os católicos os que têm problemas com Maria. Estamos de acordo com a Fé da Cristandade histórica. E uma vez que o Magnificat mostra o tratamento histórico da Cristandade para com Maria de uma forma positiva, é exatamente aí onde precisamos estar.


Traduzido por William Bottazzini

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Foi Beatificado um mártir da Revolução Francesa



O padre Pierre-Adrien Toulorge (1757-93), um sacerdote norbertino martirizado durante a Revolução Francesa, foi beatificado no dia 19 de abril na catedral de Coutances, França. O cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, presidiu à beatificação, que foi presenciada por 1.500 fiéis e milhares de sacerdotes e religiosos.

Quando o padre Toulorge foi sentenciado à morte, uma freira que fora presa com ele chorava, e acabou, pois, por levar esta reprimenda do sacerdote:

“Madame, as lágrimas que estais vertendo são indignas de vós e de mim. O que as pessoas do mundo diriam se soubessem que, tendo renunciado ao mundo, temos dificuldade em deixá-lo? Se abominarmos a morte, daremos aos filhos deste país um mau exemplo, e talvez vossa falta de coragem feche a porta da salvação para muitas almas que porventura encontrarem-se na mesma situação. Ensinemos a elas, através de nossa constância, o que devem fazer. Mostremos-lhes  que a fé é vitoriosa sobre a tortura, e abramos um caminho para o céu por entre os esforços finais do inferno”.

Traduzido por William Bottazini


Belas palavras!

Padre Pierre-Adrien Toulorge, rogai por nós!

terça-feira, 1 de maio de 2012

Aquilo que perdemos...



Hoje, gostaria de convidá-los a uma singela reflexão acerca daquilo que perdemos ou, talvez melhor, que deixamos perder ao longo de algumas décadas, em nome de inovações duvidosas e de posições subjetivistas que tendem, ao final das contas, a uma individualização constante, fazendo com que cada ser humano se torne pura e simplesmente uma ilha, como se a vida em sociedade não fosse um bem precioso, mas sim, no melhor estilo rousseauniano, um mal necessário.  Não que não deva haver mudanças e aperfeiçoamentos, estes são indubitavelmente necessários e queridos em dadas circunstâncias, contudo não se pode simplesmente ejetar tesouros que serviram de molde para a formação das coisas que tanto estimamos e que são indeléveis.
Dou-lhes um exemplo concreto de um desses tesouros desaparecidos: o estudo da língua latina. Não só o estudo, mas mesmo o interesse e a curiosidade pelo latim. Simplesmente esqueceu-se de que a língua dos antigos romanos, conquistadores do mundo, é simplesmente a base do nosso belo, porém intrincado, idioma português. A ignorância do latim faz com que nossos alunos de português sejam massacrados com regras e exceções que, a princípio, não fazem o menor sentido e as quais eles não terão a menor possibilidade, inclusive após seus estudos universitários, de bem compreender e utilizá-las. Afinal, por que razão o infinitivo de um verbo é “ir” e em sua conjugação surge um “v” intrometido: eu vou, tu vais, ele vai...? Só o entende quem conhece os verbos “ire” e “vadere” latinos. Isso para não entrarmos em questões sintáticas (objetos, complementos, adjuntos e outros “monstros” do mesmo estilo) que são praticamente terras incógnitas para a maioria esmagadora dos que deixam o Ensino Médio. Também não mencionaremos a miséria etimológica em que vivemos...
Quem perde com a ausência do idioma do Lácio em nossos currículos? Todos nós. Sem ele, o português perde a sua lógica e se transforma em um amontoado de regras que nenhum mortal é capaz de domar. E qual o problema disso? O problema é que sem um uso correto e coerente do idioma o discurso torna-se frequentemente ilógico e sem bases. A concatenação das ideias fica perigosamente comprometida e perde-se facilmente o fio da meada. Não é, pois, à toa, que os alunos tenham dificuldades enormes em compor uma redação coesa, com começo, meio e fim e que tampouco sejam capazes de encadear corretamente uma argumentação filosófica, por exemplo. Necessitamos de um aparato lingüístico para nos exprimir e se este aparato encontrar-se deformado, nossa expressão também estará prejudicada. 
Mas o latim não seria útil apenas para proporcionar maior domínio do português. Ele é a porta que nos permite acesso a todo um mundo de cultura que enobreceu a civilização ocidental. Afinal foi em latim que gênios das mais diversas áreas exprimiram-se. Para os poetas dignos desse título, o conhecimento das peças de Ovídio e Virgílio é um imperativo; já os cientistas deverão recorrer sempre às leis de Newton, expostas em latim, no seu Principia Mathematica; os historiadores que quiserem conhecer a fundo a sociedade romana deverão ler Suetônio, Tito Lívio e Tácito, para citar alguns. Também as maiores riquezas do cristianismo foram pensadas em latim como as encontramos em Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. Aliás, os católicos devem ter um profundíssimo amor pelo latim, já que esta é a língua oficial do Vaticano. Qual não é a emoção de se recitar um Pater Noster (Pai-Nosso) tal qual rezam os cristãos desde há dois mil anos? Trata-se simplesmente de se entrar em uma tradição multissecular que une os cristãos de todos os tempos e povos. Também o mundo da Reforma deve muito ao latim, pois Lutero e Calvino, os principais reformadores, compuseram seus trabalhos, sobretudo, na língua dos herdeiros de Rômulo e Remo.
Ademais, o latim seria uma resposta salutar a um mundo utilitarista que sempre pergunta “para que serve isso?”, como se as coisas apenas tivessem valor se trouxessem algum benefício material como contrapartida. Uma pessoa que estudar latim não terá seu salário aumentado abruptamente nem gozará de maior prestígio, mas possuirá seu espírito e inteligência enriquecidos e muito bem orientados com séculos de cultura de inestimável valor. Em suma, o latim nos ensina a simplesmente amar o saber pelo saber.
Por que não podemos cultivar e conservar as coisas mais belas que nós, seres humanos, já produzimos?

William Bottazzini