EXTRA ECCLESIAM NULLA SALUS

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Mitos Litúrgicos

32 idéias equivocadas e suas contra-argumentações 
(Francisco Dockhorn)

Revisão teológica: Dom Antonio Carlos Rossi Keller, Bispo da Diocese de Frederico Westphalen-RS


Publicação original: 11 de Fevereiro de 2009, 151º aniversário das aparições da Santíssima Virgem em Lourdes

Quando eu era criança, tínhamos na creche que eu freqüentava a “hora do conto”, onde se contavam estórias sobre lendas infantis, como: chapeuzinho vermelho, lobo mau, branca de neve, sete anões, João e Maria, três porquinhos, Cinderela, Saci-Pererê, etc.

Infelizmente, tenho visto que muitos escritos sobre Liturgia editados no Brasil e muitos cursos de Liturgia ao nosso redor tem se tornado uma “hora do conto”, onde se ensina mitos que não correspondem à verdade da doutrina e da disciplina da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

Não me refiro, evidentemente, à má intenção de quem promove ou ministra tais cursos, pois isto não cabe a mim julgar. A avaliação que faço aqui é puramente a nível de conteúdo.

Vejo que é freqüente se ensinar mitos como: “A Presença de Jesus na Palavra é tão completa como na Eucaristia; a Eucaristia é para ser comida e não para ser adorada; a adoração eucarística fora da Missa é ultrapassada; na consagração deve-se estar em pé; a noção da Missa como Sacrifício é ultrapassada; é mais expressivo no altar a imagem de Jesus Ressuscitado do que de Jesus crucificado; quem celebra a Missa não é o Padre, e sim toda a comunidade; a Igreja pode vir a ordenar mulheres; a Missa é para os fiéis; não se assiste à Missa; qualquer pessoa pode comungar; a absolvição comunitária substitui a confissão individual; é errado comungar na boca e de joelhos; a comunhão tem que ser em duas espécies; o Ministério extraordinário da Sagrada Comunhão existe para promover a participação dos leigos; o cálice e o cibório podem ser de qualquer material; os fiéis podem rezar junto a doxologia e a oração da paz; o sacerdote usar casula é algo ultrapassado; o Concílio Vaticano II aboliu o latim; para participar bem da Missa é preciso entender a língua que o padre celebra; o canto gregoriano é algo ultrapassado; atualmente o padre tem que rezar de frente para os fiéis; o Sacrário no centro é anti-litúrgico; não se deve ter imagens dos santos nas igrejas; cada comunidade deve ter a Missa do seu jeito; pode-se fazer tudo o que o Missal não proíbe; o padre é autoridade, por isso deve-se obedecê-lo em tudo; procurar obedecer à leis é farisaísmo; o que importa é o coração; a Missa Tridentina é antiquada; para celebrar a Missa Tridentina é preciso autorização do Bispo local; ir à Missa dominical não é obrigação.”

A diferença entre tais idéias e o autêntico pensamento católico é facilmente constatada, confrontando estes mitos aos documentos oficiais da Santa Igreja editados em Roma. São idéias que, evidentemente, não surgiram ao acaso, mas são fruto direto ou influência de uma teologia litúrgica modernista e incompatível com a autêntica teologia católica. Aqui na América Latina, muitas delas foram historicamente reforçadas pela disseminação de teologias importadas e da chamada “Teologia da Libertação”, esta de caráter marxista, que é incompatível com o pensamento da Santa Igreja e faz uma releitura de toda teologia (inclusive da teologia litúrgica), como está expresso em diversos documentos do Sagrado Magistério (ver a “Instrução sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação”, da Sagrada Congregação para Doutrina da Fé, de 06 de Agosto de 1984).

O objetivo deste artigo é expor abaixo cada um desses mitos litúrgicos citados e os contrapor com a palavra oficial da Santa Igreja. Todas as citações utilizadas sobre disciplina litúrgica, de documentos da Santa Igreja, se aplicam à forma do Rito Romano aprovada pelo Papa Paulo VI (que é atualmente a forma ordinária), com exceção dos mitos 30 e 31, que falam expressamente sobre a Missa Tridentina, que é a forma tradicional e (atualmente) extraordinária do Rito Romano.

Vamos aos mitos listados (32, ao todo) e suas contra-argumentações:

Mito 1: “A Presença de Jesus na Palavra é tão completa como na Eucaristia”

Não é.

Ensina-nos o Sagrado Magistério da Santa Igreja Católica Apostólica Romana que Nosso Senhor Jesus Cristo está presente verdadeiramente e substancialmente no Santíssimo Sacramento do Altar, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, nas aparências do pão e do vinho, como afirma o Catecismo da Igreja Católica (Cat.), nos números 1374-1377.

E por na Hóstia Consagrada Nosso Senhor está presente de maneira substancial, o Papa Paulo VI afirma (Encíclica Mysterium Fidei, n. 40-41, de 1965) a supremacia da Presença Eucarística de Nosso Senhor sobre as demais formas de presença:

“Estas várias maneiras de presença enchem o espírito de assombro e levam-nos a contemplar o Mistério da Igreja. Outra é, contudo, e verdadeiramente sublime, a presença de Cristo na sua Igreja pelo Sacramento da Eucaristia. Por causa dela, é este Sacramento, comparado com os outros, “mais suave para a devoção, mais belo para a inteligência, mais santo pelo que encerra”; contém, de fato, o próprio Cristo e é “como que a perfeição da vida espiritual e o fim de todos os Sacramentos”. Esta presença chama-se “real”, não por exclusão como se as outras não fossem “reais”, mas por antonomásia porque é substancial, quer dizer, por ela está presente, de fato, Cristo completo, Deus e homem.”

Também o próprio Concílio Vaticano II, na Constituição Sacrosanctum Concilium (n.7), afirma esta supremacia da Presença Eucarística: “Para realizar tão grande obra, Cristo está sempre presente na sua igreja, especialmente nas ações litúrgicas. Está presente no sacrifício da Missa, quer na pessoa do ministro – «O que se oferece agora pelo ministério sacerdotal é o mesmo que se ofereceu na Cruz» – quer e SOBRETUDO sob as espécies eucarísticas.”

Afirmar que a presença de Nosso Senhor na Palavra é tão completa como na Hóstia consagrada significa uma dessas duas coisas: afirmar que Nosso Senhor se transubstancia na Palavra (aí fazemos o que, comemos a Bíblia e o Lecionário?), ou negar a Presença Substancial de Nosso Senhor na Hóstia Consagrada, o que atenta conta o Mistério central da fé católica, pois a Eucaristia é “fonte e ápice da vida cristã” (Lumen Gentium, n.11)

Mito 2: “A Eucaristia é para ser comida e não para ser adorada”

É para ser adorada, sim.

A Hóstia consagrada é a Presença Real e substancial de Nosso Senhor, e por isso a Santa Igreja dedica a ela toda a adoração. O Santo Padre Bento XVI responde (Exortação Sacramentum Caritatis, n.66, de 2006) :”…aconteceu às vezes não se perceber com suficiente clareza a relação intrínseca entre a Santa Missa e a adoração do Santíssimo Sacramento; uma objeção então em voga, por exemplo, partia da idéia que o pão eucarístico nos fora dado não para ser contemplado, mas comido. Ora, tal contraposição, vista à luz da experiência de oração da Igreja, aparece realmente destituída de qualquer fundamento; já Santo Agostinho dissera: « Nemo autem illam carnem manducat, nisi prius adoraverit; (…) peccemus non adorando – ninguém come esta carne, sem antes a adorar; (…) pecaríamos se não a adorássemos ». De facto, na Eucaristia, o Filho de Deus vem ao nosso encontro e deseja unir-Se conosco; a adoração eucarística é apenas o prolongamento visível da celebração eucarística, a qual, em si mesma, é o maior ato de adoração da Igreja: receber a Eucaristia significa colocar-se em atitude de adoração d’Aquele que comungamos.”

Dizer que a Eucaristia não é para ser adorada implica em negar a que a Hóstia Consagrada é o Corpo de Nosso Senhor, ou pensar que Deus não é digno de adoração…

Mito 3: “A adoração eucarística fora da Missa é ultrapassada”

Não é.

O saudoso Papa João Paulo II escreveu (Encíclica Ecclesia de Eucharistia, n. 25, de 2003): “Se atualmente o cristianismo se deve caracterizar sobretudo pela « arte da oração », como não sentir de novo a necessidade de permanecer longamente, em diálogo espiritual, adoração silenciosa, atitude de amor, diante de Cristo presente no Santíssimo Sacramento? Quantas vezes, meus queridos irmãos e irmãs, fiz esta experiência, recebendo dela força, consolação, apoio! Desta prática, muitas vezes louvada e recomendada pelo Magistério, deram-nos o exemplo numerosos Santos. De modo particular, distinguiu-se nisto S. Afonso Maria de Ligório, que escrevia: A devoção de adorar Jesus sacramentado é, depois dos sacramentos, a primeira de todas as devoções, a mais agradável a Deus e a mais útil para nós. A Eucaristia é um tesouro inestimável: não só a sua celebração, mas também o permanecer diante dela fora da Missa permite-nos beber na própria fonte da graça.”

E o Santo Padre Bento XVI acrescenta (Sacramentum Caritatis, n. 66-67): “De fato, na Eucaristia, o Filho de Deus vem ao nosso encontro e deseja unir-Se conosco; a adoração eucarística é apenas o prolongamento visível da celebração eucarística, a qual, em si mesma, é o maior ato de adoração da Igreja: receber a Eucaristia significa colocar-se em atitude de adoração d’Aquele que comungamos. Precisamente assim, e apenas assim, é que nos tornamos um só com Ele e, de algum modo, saboreamos antecipadamente a beleza da liturgia celeste. O ato de adoração fora da Santa Missa prolonga e intensifica aquilo que se fez na própria celebração litúrgica. (…) Juntamente com a assembléia sinodal, recomendo, pois, vivamente aos pastores da Igreja e ao povo de Deus a prática da adoração eucarística tanto pessoal como comunitária. Para isso, será de grande proveito uma catequese específica na qual se explique aos fiéis a importância deste ato de culto que permite viver, mais profundamente e com maior fruto, a própria celebração litúrgica. Depois, na medida do possível e sobretudo nos centros mais populosos, será conveniente individuar igrejas ou capelas que se possam reservar propositadamente para a adoração perpétua. Além disso, recomendo que na formação catequética, particularmente nos itinerários de preparação para a Primeira Comunhão, se iniciem as crianças no sentido e na beleza de demorar-se na companhia de Jesus, cultivando o enlevo pela sua presença na Eucaristia.”

Mito 4: “Na consagração deve-se estar em pé”

Na Consagração os fiéis devem estar de joelhos, em sinal de adoração.Quanto a isso a lei da Santa Igreja é clara em afirmar na Instrução Geral no Missal Romano (n. 43), que determina que os fiéis estejam “de joelhos durante a consagração, exceto se razões de saúde, a estreiteza do lugar, o grande número dos presentes ou outros motivos razoáveis a isso obstarem. Aqueles, porém, que não estão de joelhos durante a consagração, fazem uma inclinação profunda enquanto o sacerdote genuflecte após a consagração.”

Mito 5: “A noção da Missa como Sacrifício é ultrapassada”

Não é.

O Sagrado Magistério da Igreja, por graça do Espírito Santo, é infalível em matéria de fé e moral (Cat., n.2035). Por isso, a fé católica não muda.

A Santa Missa é a Renovação do Único e Eterno Sacrifício de Nosso Senhor, oferecido pelas mãos do sacerdote. Diz o Catecismo da Igreja Católica (n. 1367): “O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício.”

O Catecismo anterior, publicado pelo Papa São Pio X em 1905, afirma (n. 652-654): “A santa Missa é o sacrifício do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, oferecido sobre os nossos altares, debaixo das espécies de pão e de vinho, em memória do sacrifício da Cruz. (…) O Sacrifício da Missa é substancialmente o mesmo que o da Cruz, porque o mesmo Jesus Cristo, que se ofereceu sobre a Cruz, é que se oferece pelas mãos dos sacerdotes seus ministros, sobre os nossos altares, mas quanto ao modo por que é oferecido, o sacrifício da Missa difere do sacrifício da Cruz, conservando todavia a relação mais íntima e essencial com ele. (…) Que diferença, pois, e que relação há entre o Sacrifício da Missa e o da Cruz? Entre o Sacrifício da Missa e o sacrifício da Cruz há esta diferença e esta relação: que Jesus Cristo sobre a cruz se ofereceu derramando o seu sangue e merecendo para nós; ao passo que sobre os altares Ele se sacrifica sem derramamento de sangue, e nos aplica os frutos da sua Paixão e Morte.”

Curiosidade: o Papa Bento XVI afirmou, no dia 09 de Outubro de 2006, que o homem contemporâneo “perdeu o sentido do pecado”. Ora, se não há pecado, qual a necessidade de um Sacrifício Propiciatório? Creio que isso explica muitas coisas…

Mito 6: “É mais expressivo no altar a imagem de Jesus Ressuscitado do que de Jesus crucificado”

Não é.

A Instrução Geral do Missal Romano determina (n.308): “Sobre o altar ou junto dele coloca-se também uma cruz, com a imagem de Cristo crucificado, que a assembléia possa ver bem. Convém que, mesmo fora das ações litúrgicas, permaneça junto do altar uma tal cruz, para recordar aos fiéis a paixão salvadora do Senhor.”

Essa cruz alude ao Santo Sacrifício de Nosso Senhor, que se renova no altar. Nosso Senhor está vivo e ressuscitado, mas a Santa Missa renova o Sacrifício.

Mito 7: “Quem celebra a Missa não é o Padre, e sim toda a comunidade”

A Instrução Redemptions Sacramentum (n. 42), de 2004, discorrendo sobre o Santo Sacrifício da Missa, afirma: “O Sacrifício Eucarístico não deve, portanto, ser considerado “concelebração”, no sentido unívoco do sacerdote juntamente com povo presente. Ao contrário, a Eucaristia celebrada pelos sacerdotes é um dom que supera radicalmente o poder da assembléia. A assembléia, que se reúne para a celebração da Eucaristia, necessita absolutamente de um sacerdote ordenado que a presida, para poder ser verdadeiramente uma assembléia eucarística. Por outro lado, a comunidade não é capaz de dotar-se por si só do ministro ordenado.”

Mito 8: “A Igreja pode vir a ordenar mulheres”
 

Não pode.

O saudoso Papa João Paulo II definiu que a Santa Igreja não tem a faculdade de ordenar mulheres, quando em 1994, publicou a Carta Apostólica “Ordinatio Sacerdotalis”, que afirma explicitamente: “Para que seja excluída qualquer dúvida em assunto da máxima importância, que pertence à própria constituição divina da Igreja, em virtude do meu ministério de confirmar os irmãos (cf. Lc 22,32), declaro que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja.”

Mito 9: “A Missa é para os fiéis”

A Santa Missa, essencialmente, é para Deus e não para os fiéis, pois ela é a Renovação do Santo Sacrifício de Nosso Senhor, oferecido a Deus Pai pelas mãos do sacerdote.

Por isso, o saudoso Papa João Paulo II lamenta na sua Encíclica Ecclesia de Eucharistia (n. 10): “As vezes transparece uma compreensão muito redutiva do mistério eucarístico. Despojado do seu valor sacrifical, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesma. Além disso, a necessidade do sacerdócio ministerial, que se fundamenta na sucessão apostólica, fica às vezes obscurecida, e a sacramentalidade da Eucaristia é reduzida à simples eficácia do anúncio. (…) Como não manifestar profunda mágoa por tudo isto? A Eucaristia é um Dom demasiadamente grande para suportar ambigüidades e reduções.”

Embora, como foi dito, os fiéis que participam da Santa Missa se beneficiam. Pois na Missa, Nosso Senhor “se sacrifica sem derramamento de sangue, e nos aplica os frutos da sua Paixão e Morte.” (Catecismo de São Pio X, n. 254)

Mito 10: “Não se assiste à Missa”

Embora os documentos da Santa Igreja utilizem TAMBÉM o termo “participar”, NÃO é errado utilizar o termo “assistir”.

O próprio Papa Pio XII, na encíclica Mediador Dei, de 1947, exorta os Bispos: “Procurai, sobretudo, obter, com o vosso diligentíssimo zelo, que todos os fiéis assistam ao sacrifício eucarístico e dele recebam os mais abundantes frutos de salvação.” Também o Catecismo de São Pio X (n.391) fala em “assistir devotamente ao Santo Sacrifício da Missa.”

O que este termo frisa é a verdade de fé de que é o sacerdote que oferece o Santo Sacrifício da Missa, e não o leigo.

Por outro lado, é evidente que o fiel precisa assistir a celebração de forma participativa (Sacrossanctum Concilium, n.14), unindo sua vida ao Mistério do Santo Sacrifício que se renova no altar.

Mito 11: “Qualquer pessoa pode comungar”

Não pode.

Escreve São Paulo: “Todo aquele que comer o Pão ou beber o Cálice do Senhor indignamente será réu do Corpo e do Sangue do Senhor. Por conseguinte, cada um examine a si mesmo antes de comer desse Pão ou beber desse Cálice, pois aquele que come e bebe sem discernir o Corpo do Senhor, come e bebe a própria condenação.” (ICor 11,27-29)

O Código de Direito Canônico diz que pode comungar “qualquer batizado, não proibido pelo direito” (cânon 912) A preparação primeira necessária para receber o Corpo de Nosso Senhor é a preparação interior, ou seja: estar em estado de graça, que significa estar em ausência de pecados mortais (Cat. 1385). Tal estado nos é dado quando recebemos o Sacramento do Batismo, e, após a queda em pecado mortal, através de uma Confissão bem feita (Cat. 1264; 1468-1470). A Santa Igreja também instituiu o chamado “jejum eucarístico” (isto é, estar a uma hora antes de comungar sem ingerir alimentos, a não ser água e medicamentos necessários, como especifica o Cânon 919).

É preocupante vermos filas para a Sagrada Comunhão tão longas, e filas para o confessionário tão pequenas…

Pior ainda quando não há sacerdotes disponíveis para os confessionários!

Mito 12: “A absolvição comunitária substitui a confissão individual”

Não substitui.

Diz o Catecismo da Igreja Católica (n.1483):

“A confissão individual e íntegra e a absolvição constituem o único modo ordinário pelo qual o fiel, consciente de pecado grave, se reconcilia com Deus e com a Igreja: somente a impossibilidade física ou moral o escusa desta forma de confissão”.

Continua o Catecismo (n.1483):

“Em casos de grave necessidade, pode-se recorrer à celebração comunitária da reconciliação, com confissão geral e absolvição geral. Tal necessidade grave pode ocorrer quando há perigo iminente de morte, sem que o sacerdote ou os sacerdotes tenham tempo suficiente para ouvir a confissão de cada penitente. A necessidade grave pode existir também quando, tendo em conta o número dos penitentes, não há confessores bastantes para ouvir devidamente as confissões individuais num tempo razoável, de modo que os penitentes, sem culpa sua, se vejam privados, durante muito tempo, da graça sacramental ou da sagrada Comunhão. Neste caso, para a validade da absolvição, os fiéis devem ter o propósito de confessar individualmente os seus pecados graves em tempo oportuno. Pertence ao bispo diocesano julgar se as condições requeridas para a absolvição geral existem. Uma grande afluência de fiéis, por ocasião de grandes festas ou de peregrinações, não constitui um desses casos de grave necessidade.”

Mito 13: “É errado comungar na boca e de joelhos”

Não é.

A norma tradicional para receber o Corpo de Nosso Senhor, mantida como a única forma lícita por muito séculos, é que se receba diretamente na boca e estando de joelhos, como sinal de reverência e adoração.

Após o Concílio Vaticano II, Roma permitiu, devido ao pedido de algumas conferências episcopais, que em alguns locais os fiéis que desejassem pudessem receber o Corpo de Nosso Senhor na mão. Por outro lado, os documentos oficiais da Santa Igreja recomendaram que o costume de comungar na boca fosse conservado, e proíbem expressamente que os sacerdotes e demais ministros neguem o Corpo de Nosso Senhor diretamente na boca a quem deseja receber desta forma.

A instrução Memoriale Domini, publicada pela Sagrada Congregação para o Culto Divino em 1969, afirma que, se na antigüidade, em algum local foi comum a prática dos fiéis receberem o Corpo de Nosso Senhor na mão, houve nas normas litúrgicas um amadurecimento neste sentido para que se passasse a receber o Corpo de Nosso Senhor diretamente na boca. Diz o documento: “Com o passar do tempo, quando a verdade e a eficácia do mistério eucarístico, assim como a presença de Cristo nele, foram perscrutadas com mais profundidade, o sentido da reverência devida a este Santíssimo Sacramento e da humildade com a qual ele deve ser recebido exigiram que fosse introduzido o costume que seja o ministro mesmo que deponha sobre a língua do comungante uma parcela do pão consagrado.”

Mas quais são as vantagens que há em receber o Corpo de Nosso Senhor diretamente na boca? O mesmo documento fala de duas: a maior reverência à Sua Presença Real e a maior segurança para que não se percam os fragmentos do Seu Corpo. Assim ele afirma: “Essa maneira de distribuir a santa comunhão deve ser conservada, não somente porque ela tem atrás de si uma tradição multissecular, mas sobretudo porque ela exprime a reverência dos fiéis para com a Eucaristia. Esse modo de fazê-lo não fere em nada a dignidade da pessoa daqueles que se aproximam desse sacramento tão elevado, e é apropriado à preparação requerida para receber o Corpo do Senhor da maneira mais frutuosa possível. Essa reverência exprime bem a comunhão, não “de um pão e de uma bebida ordinários” (São Justino), mas do Corpo e do Sangue do Senhor, em virtude da qual “o povo de Deus participa dos bens do sacrifício pascal, reatualiza a nova aliança selada uma vez por todas por Deus com os homens no Sangue de Cristo, e na fé e na esperança prefigura e antecipa o banquete escatológico no Reino do Pai” (Sagr. Congr.. dos Ritos, Instrução Eucharisticum Mysterium, n.3) Por fim, assegura-se mais eficazmente que a santa comunhão seja administrada com a reverência, o decoro e a dignidade que lhe são devidos de sorte que seja afastado todo o perigo de profanação das espécies eucarísticas, nas quais, “de uma maneira única, Cristo total e todo inteiro, Deus e homem, se encontra presente substancialmente e de um modo permanente” (Sagr. Congr. dos Ritos, Instrução Eucharisticum Mysterium, n. 9); e para que se conserve com diligência todo o cuidado constantemente recomendado pela Igreja no que concerne aos fragmentos do pão consagrado.”

As normas litúrgicas são bem claras em afirmar que “os fiéis jamais serão obrigados a adotar a prática da comunhão na mão.” (Notificação da Sagrada Congregação para o Culto Divino, de Abril de 1985). Aqueles que comungam na mão precisam atentar, ainda, para que não se percam pequenos fragmentos da Hóstia Consagrada, nos quais também Nosso Senhor esta presente por inteiro – isto seria, de fato, uma profanação. Também se permitiu, em alguns locais, que se receba o Corpo de Nosso Senhor estando em pé. Mas da mesma forma que a Sagrada Comunhão na mão, isto se permitiu como uma concessão à regra tradicional, afirmando-se que os que desejarem receber o Corpo de Nosso Senhor ajoelhados, em sinal de adoração, são livres para fazê-lo. É o que afirma a Sagrada Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos:

“A recusa da Comunhão a um fiel que esteja ajoelhado, é grave violação de um dos direitos básicos dos fiéis cristãos. (…) Mesmo naqueles países em que esta Congregação adotou a legislação local que reconhece o permanecer em pé como postura normal para receber a Sagrada Comunhão, ela o fez com a condição de que os comungantes desejosos de se ajoelhar não seria recusada a Sagrada Eucaristia. (…) A prática de ajoelhar-se para receber a Santa Comunhão tem em seu favor uma antiga tradição secular, e é um sinal particularmente expressivo de adoração, completamente apropriado, levando em conta a verdadeira, real e significativa presença de Nosso Senhor Jesus Cristo debaixo das espécies consagradas. (….) Os sacerdotes devem entender que a Congregação considerará qualquer queixa desse tipo com muita seriedade, e, caso sejam procedentes, atuará no plano disciplinar de acordo com a gravidade do abuso pastoral.” (Protocolo no 1322/02/L) Tal intervenção foi reiterada em 2003.

Também a instrução Redemptionis Sacramentum, instrução publicada pela mesma congregação em 2004, determina (n. 91): “Qualquer batizado católico, a quem o direito não o proíba, deve ser admitido à sagrada Comunhão. Assim pois, não é lícito negar a sagrada Comunhão a um fiel, por exemplo, só pelo fato de querer receber a Eucaristia ajoelhado ou de pé.”

Mito 14. “A comunhão tem que ser em duas espécies”

Não tem.

Embora a Comunhão sob duas espécies tenha um significado simbólico expressivo (Redemptionis Sacramentum, n.100), a Santa Igreja tem a justa preocupação de evitar heresias e profanações, e por isso só permite a Comunhão sob duas espécies em casos particulares e sob rígidas determinações.

Por isso que o Sagrado Magistério, no Concílio de Trento (séc. XVI), definiu alguns princípios dogmáticos á respeito da Comunhão Eucarística sob as duas espécies; princípios estes que foram expressamente relembrados na Redemptionis Sacramentum (n. 100). Assim definiu o Concílio de Trento (n. 930-932): “Por nenhum preceito divino [os fiéis] estão obrigados a receber o sacramento da Eucaristia sob ambas as espécies, e que, salva a fé, de nenhum modo se pode duvidar que a comunhão debaixo de uma [só] das espécies lhes baste para a salvação. (…) Nosso Redentor, como ficou dito, instituiu na última ceia este sacramento e o deu aos Apóstolos sob as duas espécies, contudo devemos confessar que debaixo de cada uma delas se recebe Cristo todo inteiro e como verdadeiro sacramento.”

Partindo desses princípios, e da justa preocupação de evitar profanações, a Santa Igreja estabeleceu que somente em casos particulares seria ministrada a Sagrada Comunhão aos féis sob a aparência do vinho. Nesse sentido, afirma a Instrução Redemptionis Sacramentum (n. 101) que “para administrar aos fiéis leigos a sagrada Comunhão sob as duas espécies, devem-se ter em conhecimento, convenientemente, as circunstâncias, sobre as que devem julgar, em primeiro lugar, os Bispos diocesanos. Deve-se excluir totalmente quando exista perigo, inclusive pequeno, de profanação das sagradas espécies.”

A seguir, a mesma Instrução aponta as formas pela qual a Sagrada Comunhão sob duas espécies pode ser administrada (n. 103): “As normas do Missal Romano admitem o principio de que, nos casos em que se administra a sagrada Comunhão sob as duas espécies, o Sangue do Senhor pode ser bebido diretamente do cálice, ou por intinção, ou com uma palheta, ou uma colher pequenina.”

Em públicos maiores, tenho presenciado que normalmente a Comunhão Eucarística se por dá intinção, isto é, tomando-se o Corpo de Nosso Senhor na aparência do pão e intingindo-se na aparência do vinho. A mesma Instrução ordena que, para se ministrar a Sagrada Comunhão desta forma, “usam-se hóstias que não sejam nem demasiadamente delgadas nem demasiadamente pequenas e o comungante receba do sacerdote o sacramento, somente na boca.” (n.103) E ainda: “Não se permita ao comungante molhar por si mesmo a hóstia no cálice, nem receber na mão a hóstia molhada. No que se refere à hóstia que se deve molhar, esta deve ser de matéria válida e estar consagrada; estando absolutamente proibido o uso de pão não consagrado ou de outra matéria.” (n. 104) Infelizmente, tem se tornado “moda” uma espécie da Comunhão “self-service”, onde, com o Corpo de Nosso Senhor na aparência do pão na mão, o próprio fiel comungante faz a intinção na aparência do vinho. Pelas normas litúrgicas, em toda a preocupação que a Santa Igreja tem pelo manuseio do Corpo de Deus, esta prática é absolutamente ilícita, como fica claro no parágrafo acima. Mais ainda: esta irregularidade é apontada na mesma Instrução dentro da listagens dos “atos sempre objetivamente graves” por atentar contra a dignidade do Santíssimo Sacramento (n. 173).

Mito 15. “O Ministério extraordinário da Sagrada Comunhão existe para promover a participação dos leigos.”

Não existe para isso, pois ordinariamente a função do leigo não é distribuir o Corpo de Deus.

Isso afirma expressamente a Instrução Redemptionis Sacramentum (n. 151): “Somente em caso de verdadeira necessidade se deverá recorrer à ajuda dos ministros extroardinários na celebração da liturgia. De fato, isto não está previsto para assegurar a participação mais plena dos leigos, mas é por sua natureza supletivo e provisório.”

O ministro ordinário da Comunhão Eucarística, pela unção do Sacramento da Ordem, é o sacerdote e o diácono (Cânon 910). Por isso, ordinariamente somente eles podem ministrar a Corpo de Nosso Senhor.

Havendo real necessidade, o ministro extraordinário pode distribuir a Comunhão Eucarística. Os ministros extraordinários são prioritariamente os acólitos instituídos (cânon 910). Não havendo acólitos instituídos disponíveis para isso, outros fiéis (religiosos ou leigos) podem atuar ministrando a Comunhão Eucarística, como aponta a Instrução Redemptionis Sacramentum (n. 155) Tais situações são, de fato, extraordinárias, como o próprio nome do ministério já o indica.

Portanto, é um equívoco afirmar que o Ministério Extraordinário da Comunhão Eucarística existe para promover o serviço do leigo, pois esta função não é, ordinariamente, uma atribuição do leigo, e em uma situação em que houvesse um número maior de ministros ordinários o ministério extraordinário não haveria razões para existir.

Quais seriam estas razões que indicariam esta “verdadeira necessidade” para o uso dos ministros extraordinários da Comunhão Eucarística? A própria Instrução responde: “O ministro extraordinário da sagrada Comunhão poderá administrar a Comunhão somente na ausência do sacerdote ou diácono, quando o sacerdote está impedido por enfermidade, idade avançada, ou por outra verdadeira causa, ou quando é tão grande o número dos fiéis que se reúnem à Comunhão, que a celebração da Missa se prolongaria demasiado. Por isso, deve-se entender que uma breve prolongação seria uma causa absolutamente suportável, de acordo com a cultura e os costumes próprios do lugar.” (n. 158) E ainda: “Reprove-se o costume daqueles sacerdotes que, apesar de estarem presentes na celebração, abstém-se de distribuir a Comunhão, delegando esta tarefa a leigos.” (n. 157)

Mito 16. “O cálice e o cibório podem ser de qualquer material”

Não podem.

A Santa Igreja zela pelo material do cálice, cibórios e outros vasos sagrados utilizados nas celebrações. Por exemplo: é expressamente proibido o uso de vasos sagrados de vidro, barro, argila, cristal ou outro material que quebre com facilidade.

Especifica a Instrução Redemptionis Sacramentum (n. 117): “Os vasos sagrados, que estão destinados a receber o Corpo e o Sangue do Senhor, devem-se ser fabricados, estritamente, conforme as normas da tradição e dos livros litúrgicos. As Conferências de Bispos tenham capacidade de decidir, com a aprovação da Sé apostólica, se é oportuno que os vasos sagrados também sejam elaborados com outros materiais sólidos. Sem dúvida, requer-se estritamente que este material, de acordo com a comum valorização de cada região, seja verdadeiramente nobre, de maneira que, com seu uso, tribute-se honra ao Senhor e se evite absolutamente o perigo de enfraquecer, aos olhos dos fiéis, a doutrina da presença real de Cristo nas espécies eucarísticas. Portanto, reprove-se qualquer uso, para a celebração da Missa, de vasos comuns ou de escasso valor, no que se refere à qualidade, ou carentes de todo valor artístico, ou simples recipientes, ou outros vasos de cristal, argila, porcelana e outros materiais que se quebram facilmente. Isto vale também para os metais e outros materiais, que se corroem (oxidam) facilmente.”

O saudoso Papa João Paulo II insiste na utilização dos melhores recursos possíveis nos objetos litúrgicos, como honra prestada ao Corpo e ao Sacrifício de Nosso Senhor. Disse João Paulo II (Ecclesia de Eucharistia, n. 47-48):

“Quando alguém lê o relato da instituição da Eucaristia nos Evangelhos Sinópticos, fica admirado ao ver a simplicidade e simultaneamente a dignidade com que Jesus, na noite da Última Ceia, institui este grande sacramento. Há um episódio que, de certo modo, lhe serve de prelúdio: é a unção de Betânia. Uma mulher, que João identifica como sendo Maria, irmã de Lázaro, derrama sobre a cabeça de Jesus um vaso de perfume precioso, suscitando nos discípulos – particularmente em Judas (Mt 26, 8; Mc 14, 4; Jo 12, 4) – uma reacção de protesto contra tal gesto que, em face das necessidades dos pobres, constituía um « desperdício » intolerável. Mas Jesus faz uma avaliação muito diferente: sem nada tirar ao dever da caridade para com os necessitados, aos quais sempre se hão-de dedicar os discípulos – « Pobres, sempre os tereis convosco » (Jo 12, 8; cf. Mt 26, 11; Mc 14, 7) –, Ele pensa no momento já próximo da sua morte e sepultura, considerando a unção que Lhe foi feita como uma antecipação daquelas honras de que continuará a ser digno o seu corpo mesmo depois da morte, porque indissoluvelmente ligado ao mistério da sua pessoa. (…) Tal como a mulher da unção de Betânia, a Igreja não temeu « desperdiçar », investindo o melhor dos seus recursos para exprimir o seu enlevo e adoração diante do dom incomensurável da Eucaristia. À semelhança dos primeiros discípulos encarregados de preparar a « grande sala », ela sentiu-se impelida, ao longo dos séculos e no alternar-se das culturas, a celebrar a Eucaristia num ambiente digno de tão grande mistério. Foi sob o impulso das palavras e gestos de Jesus, desenvolvendo a herança ritual do judaísmo, que nasceu a liturgia cristã. Porventura haverá algo que seja capaz de exprimir de forma devida o acolhimento do dom que o Esposo divino continuamente faz de Si mesmo à Igreja-Esposa, colocando ao alcance das sucessivas gerações de crentes o sacrifício que ofereceu uma vez por todas na cruz e tornando-Se alimento para todos os fiéis? Se a ideia do « banquete » inspira familiaridade, a Igreja nunca cedeu à tentação de banalizar esta « intimidade » com o seu Esposo, recordando-se que Ele é também o seu Senhor e que, embora « banquete », permanece sempre um banquete sacrificial, assinalado com o sangue derramado no Gólgota. O Banquete eucarístico é verdadeiramente banquete « sagrado », onde, na simplicidade dos sinais, se esconde o abismo da santidade de Deus: O Sacrum convivium, in quo Christus sumitur! – « Ó Sagrado Banquete, em que se recebe Cristo! »”

Mito 17: “Os fiéis podem rezar junto a doxologia e a oração da paz”

Não podem.

Diz o Código de Direito Canônico (Cânon 907) que “Na celebração Eucarística, não é lícito aos diáconos e leigos proferir as orações, especialmente a oração eucarística, ou executar as ações próprios do sacerdote celebrante.”

Também a Instrução Inaestimabile Donum (n.4) afirma: “Está reservado ao sacerdote, em virtude de sua ordenação, proclamar a Oração Eucarística, a qual por sua própria natureza é o ponto alto de toda a celebração. É portanto um abuso que algumas partes da Oração Eucarística sejam ditas pelo diácono, por um ministro subordinado ou pelos fiéis. Por outro lado isso não significa que a assembléia permanece passiva e inerte. Ela se une ao sacerdote através do silêncio e demonstra a sua participação nos vários momentos de intervenção providenciados para o curso da Oração Eucarística: as respostas no diálogo Prefácio, o Sanctus, a aclamação depois da Consagração, e o Amén final depois do Per Ipsum. O Per Ipsum ( por Cristo, com Cristo, em Cristo) por si mesmo é reservado somente ao sacerdote. Este Amén final deveria ser enfatizado sendo feito cantado, sendo que ele é o mais importante de toda a Missa.”

Tais orações são orações do sacerdote. De forma especial, a doxologia (“Por Cristo, com Cristo e em Cristo…”), que é momento onde o sacerdote oferece à Deus Pai o Santo Sacrifício de Nosso Senhor.

Mito 18: “O sacerdote usar casula é algo ultrapassado”

Não é.

A casula é o paramento sacerdotal próprio para o Santo Sacrifício da Missa. É o mais solene, varia de cor conforme a prescrição para a celebração em específico e vai sobre a alva e estola. Infelizmente, tem se tornado moda em muitos lugares que muitos sacerdotes celebrem usando apenas a alva e a estola, enquanto as casulas mofam nos armários.

A Instrução Geral do Missal Romano (n. 119) determina que o sacerdote utilize: amito, alva, estola, cíngulo e casula (amito e cíngulo podem ser dispensáveis, conforme o formato da alva).

A Instrução Redemptinis Sacramentum determina ainda que, sendo possível, inclusive os sacerdotes concelebrantes utilizem a casula (n. 124-126):

“No Missal Romano é facultativo que os sacerdotes que concelebram na Missa, exceto o celebrante principal (que sempre deve levar a casula da cor prescrita), possam omitir «a casula ou planeta, mas sempre usar a estola sobre a alva», quando haja uma justa causa, por exemplo o grande número de concelebrantes e a falta de ornamentos. Sem dúvida, no caso de que esta necessidade se possa prever, na medida do possível, providencie-se as referidas vestes. Os concelebrantes, a exceção do celebrante principal, podem também levar a casula de cor branca, em caso de necessidade. (…) Seja reprovado o abuso de que os sagrados ministros realizem a santa Missa, inclusive com a participação de só um assistente, sem usar as vestes sagradas ou só com a estola sobre a roupa monástica, ou o hábito comum dos religiosos, ou a roupa comum, contra o prescrito nos livros litúrgicos. Os Ordinários cuidem de que este tipo de abusos sejam corrigidos rapidamente e haja, em todas as igrejas e oratórios de sua jurisdição, um número adequado de vestes litúrgicos, confeccionadas de acordo com as normas.”

Embora haja para o Brasil a concessão de o sacerdote celebrar apenas utilizando alva e estola quando houver razões pastorais (ver comentário do Pe. Jesús Hortal, SJ, à respeito do cânon 929, no Código de Direito Canônico editado pela Loyola), de forma alguma pode-se dizer que o uso da casula é ultrapassado, como foi demonstrado acima.

Mito 19: “O Concílio Vaticano II aboliu o latim”

Não aboliu.

Pelo contrário: o Concílio Vaticano II incentivou o uso do latim como língua litúrgica.

Diz o Concílio (Sacrossanctum Concilium, n.36) : “Salvo o direito particular, seja conservado o uso da língua latina nos ritos latinos.” Embora exista atualmente em muitos lugares a concessão para se celebrar em língua local, o latim segue sendo a língua oficial da Santa Igreja e mantém o seu significado de unidade e solenidade: “O uso da língua latina vigente em grande parte da Igreja é um caro sinal da unidade e um eficaz remédio contra toda corruptela da pura doutrina.” (Papa Pio XII, na Encíclica Mediator Dei, n.53, de 1947)

Por isso o Santo Padre Bento escreveu (Sacramentum Caritatis, n.62): “A nível geral, peço que os futuros sacerdotes sejam preparados, desde o tempo do seminário, para compreender e celebrar a Santa Missa em latim, bem como para usar textos latinos e entoar o canto gregoriano; nem se transcure a possibilidade de formar os próprios fiéis para saberem, em latim, as orações mais comuns e cantarem, em gregoriano, determinadas partes da liturgia.”

E a Instrução Redemptionis Sacramentum (n. 112) determina: “Excetuadas as Celebrações da Missa que, de acordo com as horas e os momentos, a autoridade eclesiástica estabelece que se façam na língua do povo, sempre e em qualquer lugar é lícito aos sacerdotes celebrar o santo Sacrifício em latim.”

O Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI (no livro “O sal da Terra”, de 1996), reconhece que a “nossa cultura mudou tão radicalmente nos últimos trinta anos que uma liturgia celebrada exclusivamente em latim envolveria um elemento de estranheza que, para muitos, não seria aceitável.” Por outro lado, “o Cardeal (Francis Arinze, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramento) também sugeriu que as paróquias maiores tenham uma Missa em latim pelo menos uma vez por semana e que as paróquias rurais e menores a tivessem pelo menos uma vez ao mês.” (ACI Imprensa, 16 de Novembro de 2006)

Mito 20: “Para participar bem da Missa é preciso entender a língua que o padre celebra”

Não é.

Embora possa ser útil compreender a língua que o padre celebra (e por isso são amplamente divulgados os missais com tradução em latim / português, nos meios em que a Santa Missa é celebrada em latim), o principal é contemplar o Mistério do Santo Sacrifício que se renova no altar, e para isso não é necessário compreender todas as palavras.
Missa não é jogral.

O Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, afirma (“O sal da terra”): “A Liturgia é algo diferente da manipulação de textos e ritos, porque vive, precisamente, do que não é manipulável. A juventude sente isso intensamente. Os centros onde a Liturgia é celebrada sem fantasias e com reverência atraem, mesmo que não se compreendam todas as palavras.”

Mito 21: “O canto gregoriano é algo ultrapassado”

Não é.

O Concílio Vaticano II afirma (Sacrossanctum Concilium, n.116) : “”A Igreja reconhece como canto próprio da liturgia romana, o canto gregoriano; portanto, na ação litúrgica, ocupa o primeiro lugar entre seus similares. Os outros gêneros de música sacra, especialmente a polifonia, não são absolutamente excluídos da celebração dos ofícios divinos, desde que se harmonizem com o espírito da ação litúrgica…”

A Instrução Geral do Missal Romano (n. 41) afirma: “Em igualdade de circunstâncias, dê-se a primazia ao canto gregoriano, como canto próprio da Liturgia romana.”

Também o Santo Padre Bento XVI incentiva o canto gregoriano na Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis (n.62), como foi dito acima.É importante lembrar: mesmo em relação a canto popular, a referência é canto gregoriano. O saudoso Papa João Paulo II (Quirógrafo sobre a Música Sacra, n. 12) diz:

“No que diz respeito às composições musicais litúrgicas, faço minha a «regra geral» que são Pio X formulava com estes termos: ‘Uma composição para a Igreja é tanto mais sacra e litúrgica quanto mais se aproximar, no andamento, na inspiração e no sabor, da melodia gregoriana, e tanto menos é digna do templo, quanto mais se reconhece disforme daquele modelo supremo». Não se trata, evidentemente, de copiar o canto gregoriano, mas muito mais de considerar que as novas composições sejam absorvidas pelo mesmo espírito que suscitou e, pouco a pouco, modelou aquele canto.”

Mito 22: “Atualmente o padre tem que rezar de frente para os fiéis”

Não tem.

Foi publicada em 1993, no seu boletim Notitiae, uma nota da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos reafirma a licitude tanto da celebração “Versus Populum” (com o sacerdote voltado para o povo) quanto da “Versus Deum” (com o sacerdote e povo voltados para Deus, isto é, na mesma direção)
Assim, mesmo na forma do Rito Romano aprovada pelo Papa Paulo VI, é perfeitamente possível que se celebre a Santa Missa com o sacerdote e os fiéis voltados na mesma direção.

O Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI dedicou à este tema um capítulo inteiro do seu livro “Espírito da Liturgia – Uma introdução”, publicado em 1999; é o capítulo III da parte II, denominado “O altar e a orientação da oração na Liturgia”.

Neste texto, o Santo Padre incentiva a celebração em “Versus Deum”, exaltando o profundo significado litúrgico que tem o sacerdote e os fiéis voltados para a mesma direção, isto é, para Deus. Ele diz: “. “O sacerdote olhando para o povo dá à comunidade o aspecto de um círculo fechado em si mesmo. Já não é – por sua mesma disposição – uma comunidade aberta para frente e para cima, senão fechada em si mesma. (… ) O importante não é o diálogo olhando para o sacerdote, mas a adoração comum, sair ao encontro do Senhor que vem. A essência do acontecimento não é um círculo fechado, mas a saída de todos ao encontro do Senhor que se expressa na orientação comum.”

Mito 23: “O Sacrário no centro é anti-litúrgico”

Não é.
O Santo Padre Bento XVI (Sacramentum Caritatis, n. 69) afirma que, se o Sacrário é colocado na nave principal da Igreja, “é preferível colocar o sacrário no presbitério, em lugar suficientemente elevado, no centro do fecho absidal ou então noutro ponto onde fique de igual modo bem visível.”

O Sacrário no centro tem, no espírito tradicional da Sagrada Liturgia, o significado de dar a Jesus Eucarístico o destaque no lugar central.

Mito 24: “Não se deve ter imagens dos santos nas igrejas”

Deve-se ter, sim.

Diz a Instrução Geral do Missal Romano (n.318): “De acordo com a antiqüíssima tradição da Igreja, expõem-se à veneração dos fiéis, nos edifícios sagrados, imagens do Senhor, da bem-aventurada Virgem Maria e dos Santos, as quais devem estar dispostas de tal modo no lugar sagrado, que os fiéis sejam levados aos mistérios da fé que aí se celebram.”

O que é ponderado, porém, na mesma referência: “Tenha-se, por isso, o cuidado de não aumentar exageradamente o seu número e que a sua disposição se faça na ordem devida, de tal modo que não distraiam os fiéis da celebração. Normalmente, não haja na mesma igreja mais do que uma imagem do mesmo Santo. Em geral, no ornamento e disposição da igreja, no que se refere às imagens, procure atender-se à piedade de toda a comunidade e à beleza e dignidade das imagens.”

Mito 25: “Cada comunidade deve ter a Missa do seu jeito”

Não deve e não pode ter a Missa do seu jeito, e sim do jeito católico.

O Concílio Vaticano II já dizia (Sacrossanctum Concilium, 22): “Ninguém mais, absolutamente, mesmo que seja sacerdote, ouse, por sua iniciativa, acrescentar, suprimir ou mudar seja o que for em matéria litúrgica.”

Escreveu o saudoso Papa João Paulo II : (Ecclesia de Eucharistia, n. 52) “Atualmente também deveria ser redescoberta e valorizada a obediência às normas litúrgicas como reflexo e testemunho da Igreja, una e universal, que se torna presente em cada celebração da Eucaristia. O sacerdote, que celebra fielmente a Missa segundo as normas litúrgicas, e a comunidade, que às mesmas adere, demonstram de modo silencioso mas expressivo o seu amor à Igreja. (…) A ninguém é permitido aviltar este mistério que está confiado às nossas mãos: é demasiado grande para que alguém possa permitir-se de tratá-lo a seu livre arbítrio, não respeitando o seu caráter sagrado nem a sua dimensão universal.”

Também a Instrução Inaestimabile Donum, de 1980, afirma: “Aquele que oferece culto a Deus em nome da Igreja, de um modo contrário ao qual foi estabelecido pela própria Igreja com a autoridade dada por Deus e o qual é também a tradição da Igreja, é culpado de falsificação.”

O Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, afirmou: “É preciso que volte a ser claro que a ciência da liturgia não existe para produzir constantemente novos modelos, como é próprio da indústria automobilística. (…) A Liturgia é algo diferente da invenção de textos e ritos, porque vive, precisamente, do que não é manipulável.” (“O Sal da Terra”)

Mito 26: “Pode-se fazer tudo o que o Missal não proíbe”

Não se pode.

O Concílio Vaticano II proíbe acréscimos na Sagrada Liturgia, como foi dito acima (Sacrossanctum Concílium, n.22). A interpretação do Missal é estrita: assim, na Santa Missa, faz-se somente o que o Missal determina e nada mais do que isso.

Esta é uma diferença entre a Santa Missa e os grupos de oração, os encontros de evangelização e outros momentos fora da Sagrada Liturgia, onde pode-se usar de uma espontaneidade que não tem lugar dentro da Missa.

O Rito, por sua própria essência, prima pela unidade. Diz a Instrução Redemptionis Sacramentum (n.11) :

“O Mistério da Eucaristia é demasiado grande «para que alguém possa permitir tratá-lo ao seu arbítrio pessoal, pois não respeitaria nem seu caráter sagrado, nem sua dimensão universal. Quem age contra isto, cedendo às suas próprias inspirações, embora seja sacerdote, atenta contra a unidade substancial do Rito romano, que se deve cuidar com decisão (…) Além disso, introduzem na mesma celebração da Eucaristia elementos de discórdia e de deformação, quando ela tem, por sua própria natureza e de forma eminente, de significar e de realizar admiravelmente a Comunhão com a vida divina e a unidade do povo de Deus.”

Também o Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, juntamente o Messori, no livro “A Fé em Crise?”, publicado em 1985, afirma: “A liturgia não vive de surpresas `simpáticas’, de intervenções `cativantes’, mas de repetições solenes (…) Também por isso ela deve ser `predeterminada’, `imperturbável’, porque através do rito se manifesta a santidade de Deus. Ao contrário, a revolta contra aquilo que foi chamado `a velha rigidez rubricista’, (…) arrastou a liturgia ao vórtice do `faça-você-mesmo’, banalizando-a, porque reduzindo-a à nossa medíocre medida” .

Mito 27: “O padre é autoridade, por isso deve-se obedecê-lo em tudo”

Não se deve.

A Santa Igreja é hierárquica, e uma determinação de um sacerdote que vá contra uma determinação de Roma é automaticamente nula.

O Concílio Vaticano II, como foi dito acima, deixa claro que nem mesmo os sacerdotes podem alterar a Sagrada Liturgia (Sacrossanctum Concilium, n. 22)

O Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, é incisivo em dizer (“O Sal da Terra”) : “Do que precisamos é de uma nova educação litúrgica, especialmente também os padres.”

A Instrução Redemptionis Sacramentum afirma ainda que todos tem responsabilidade em procurar corrigir os abusos litúrgicos, mesmo quando isso implica em expor queixa aos superiores. Diz o documento (n. 183-184):

“De forma muito especial, todos procurem, de acordo com seus meios, que o santíssimo sacramento da Eucaristia seja defendido de toda irreverência e deformação, e todos os abusos sejam completamente corrigidos. Isto, portanto, é uma tarefa gravíssima para todos e cada um, excluída toda acepção de pessoas, todos estão obrigados a cumprir este trabalho. Qualquer católico, seja sacerdote, seja diácono, seja fiel leigo, tem direito a expor uma queixa por um abuso litúrgico, ante ao Bispo diocesano e ao Ordinário competente que se lhe equipara em direito, ante à Sé apostólica, em virtude do primado do Romano Pontífice. Convém, sem dúvida, que, na medida do possível, a reclamação ou queixa seja exposta primeiro ao Bispo diocesano. Para isso se faça sempre com veracidade e caridade.”

Mito 28: “Procurar obedecer à leis é farisaísmo”

Não é, se essas leis forem leis instituídas por Deus ou por quem Deus delega tal poder.

O que Nosso Senhor censurou nos fariseus NÃO foi a preocupação em obedecer em santas leis de Deus. O próprio Senhor disse: “Se guardardes os Meus Mandamentos, sereis constantes no Meu Amor, como também Eu guardei os Mandamentos de Meu Pai e persisto no Seu Amor.” (Jo 15, 10-11) E ainda: “Não julgueis que vim abolir a lei e os profetas. Não vim para abolir, mas sim para levá-los à perfeição. Pois em verdades vos digo: passará o céu e a terra, antes que desapareça um jota, um traço da lei. Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, será declarado o menor no Reino dos céus. Mas aqueles que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos céus.” (Mt 5, 17-19)

A lei divina precisa ser obedecida. Os erros que Nosso Senhor condenou nos fariseus foram dois: o fato de eles ensinarem uma coisa e viverem outra (“Este povo somente Me honra com os lábios; mas seu coração está longe de Mim” – Mc 7,6); e o fato de eles interpretarem a lei de forma errada em algumas ocasiões (“Deixando o mandamento de Deus, vos apegais à tradição dos homens” – Mc 7,8), como no caso da proibição deles em relação às curas realizadas em dia de Sábado.

Não existe distinção entre obedecer diretamente a Deus e obedecer a lei da Santa Igreja. Nosso Senhor confiou a São Pedro, o primeiro Papa (Mateus 16,18-19), o poder de ligar e desligar. O Catecismo da Igreja Católica explica que “o poder de ligar e desligar” significa a autoridade de absolver os pecados, pronunciar juízos doutrinais e tomar decisões disciplinares na Igreja.” (n. 553) Por isso, recusa de sujeição à lei da Santa Igreja é pecado contra o 1º mandamento (Cat., n. 2088-2089)

Obedecer à lei da Santa Igreja é obedecer à Deus; obedecer à Deus é obedecer também a lei da Santa Igreja.

Mito 29: “O que importa é o coração”

Não exclusivamente.

Aos que afirmam que “o que importa é o coração”, vale lembrar que aqui não cabe a aplicação deste princípio, pois isso implicaria colocar-se em contraposição com grandes parte das normas litúrgicas da Santa Igreja, bem como com os diversos sinais e símbolos litúrgicos (paramentos, velas, flores, incenso, gestos do corpo, etc), que partem da necessidade de se manifestar com sinais externos a fé católica a respeito do que acontece no Santo Sacrifício da Missa, bem como manifestar externamente a honra devida a Deus. A atitude interna é fundamental, mas desprezar as atitudes externas é um erro.

A este respeito, escreveu o saudoso Papa João Paulo II: “De modo particular torna-se necessário cultivar, tanto na celebração da Missa como no culto eucarístico fora dela, uma consciência viva da Presença Real de Cristo, tendo o cuidado de testemunhá-la com o tom da voz, os gestos, os movimentos, o comportamento no seu todo. (…) Numa palavra, é necessário que todo o modo de tratar a Eucaristia por parte dos ministros e dos fiéis seja caracterizado por um respeito extremo.” (Mane Nobiscum Domine, 18)

O ser humano é corpo e alma, e faz parte da natureza humana manifestar a disposição interior por meio de gestos (abraçar, dar presente, se vestir bem, arrumar a mesa para uma festa). E a Sagrada Liturgia é perfeitamente compatível com a natureza e as necessidades do ser humano.

É preciso haver um equilíbrio no sentido de que a disposição interna é expressa pelos gestos externos, e os gestos externos, por sua vez, reforçam a disposição interna. É um círculo vicioso.

Os gestos externos sem a disposição interior são um erro (farisaísmo); a disposição interior sem a atenção aos gestos externos também é um erro, pois se contrapõe à elementos fundamentais da Sagrada Liturgia (afinal, somos alma e corpo, não somos o “Gasparzinho”).

Por exemplo: como vamos convencer o mundo que Nosso Senhor Jesus Cristo está verdadeiramente presente no Santíssimo Sacramento, se tratarmos a Hóstia Consagrada como um alimento qualquer?

É preciso frizar aqui a importância do vestir-se com solenidade na Sagrada Liturgia. O Catecismo da Igreja Católica (n. 1387) afirma, sobre o momento da Sagrada Comunhão: “A atitude corporal – gestos, roupa – há de se traduzir o respeito, a solenidade, a alegria deste momento em que Cristo se torna nosso hóspede.”

É preciso evitar, então, primeiramente as roupas que expõe o corpo de forma escandalosa, como decotes profundos, shorts curtos ou blusas que mostrem a barriga. Mas convém que se evite também tudo o que contraria, como afirma o Catecismo, a alegria, a solenidade e o respeito – isto é, banaliza o momento sagrado.

O bom senso nos mostra, por exemplo, que partindo d princípio da solenidade, é melhor que se use uma calça do que uma bermuda. Ora, na nossa cultura, não se vai a um encontro social solene usando uma bermuda!

O bom senso nos mostra também que, partido do princípio do respeito e da não-banalização do sagrado, é melhor que se evite roupas que chamam atenção para o corpo ou para elementos não relacionados com a Sagrada Liturgia. É melhor que uma mulher, por exemplo, utilize uma blusa com mangas do que um blusa de alcinha; é melhor que utilize uma calça discreta, saia ou vestido do que uma calça “mulher-gato” (isto é, apertadíssima); também é melhor que se utilize, por exemplo, uma camisa ou camiseta discreta do que uma camiseta do Internacional ou do Grêmio.

São Josemaria Escrivá, em um de suas fantásticas homilias, recorda seus tempos de infância, dizendo: “”Lembro-me de como as pessoas se preparavam para comungar: havia esmero em arrumar bem a alma e o corpo. As melhores roupas, o cabelo bem penteado, o corpo fisicamente limpo, talvez até com um pouco de perfume. Eram delicadezas próprias de gente enamorada, de almas finas e retas, que sabiam pagar Amor com amor.” Afirma ainda: “Quando na terra se recebem pessoas investidas em autoridade, preparam-se luzes, música e vestes de gala. Para hospedarmos Cristo na nossa alma, de que maneira não devemos preparar-nos?” (“Homilias sobre a Eucaristia”, Ed. Quadrante)

Vivemos em uma sociedade de imagens, e uma imagem fala mais do que mil palavras…

Mito 30: “A Missa Tridentina é antiquada”

Não é.

A Missa Tridentina é o Rito Romano celebrado na sua forma tradicional, promulgada pelo Papa São Pio V no Concílio de Trento. As diferenças entre a Missa Tridentina e a forma do Rito Romano aprovada pelo Papa Paulo VI NÃO são somente a posição do sacerdote e a língua litúrgica (pois como foi dito acima, também na forma moderna do Rito Romano é lícito celebrar em latim e com o sacerdote e povo voltados na mesma direção). As diferenças vão além: dizem respeito principalmente ao conjunto de ações do sacerdote, dos demais ministros e do povo que participa, bem como às orações previstas no Rito.
Com o Motu Próprio Summorum Pontificum, publicado em 2007, o Santo Padre demonstrou que essas duas formas do Rito Romano não são apenas duas formas válidas e lícitas, mas também duas formas autenticamente católicas de celebrar, e por isso mesmo, não há contradição entre elas. Escreveu o Santo Padre: “Estas duas expressões da lei da oração (lex orandi) da Igreja de maneira nenhuma levam a uma divisão na lei da oração (lex orandi ) da Igreja, pois são dois usos do único Rito Romano.” (Summorum Pontificum) E ainda: “As duas Formas do uso do Rito Romano podem enriquecer-se mutuamente (…) Não existe qualquer contradição entre uma edição e outra do Missale Romanum.” (Carta aos Bispos, que acompanhou o Motu Próprio)

O Santo Padre ainda fez questão de mostrar que a Missa Tridentina NÃO se contrapõe ao Concílio Vaticano II: “”Há o temor de que seja aqui afectada a autoridade do Concílio Vaticano II e que uma das suas decisões essenciais – a reforma litúrgica – seja posta em dúvida. Tal receio não tem fundamento.” (Carta aos Bispos)

O Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, já havia escrito (em “O Sal da Terra): “A meu ver, devia-se se deixar seguir o rito antigo com muito mais generosidade àqueles que o desejam. Não se compreende o que nele possa ser perigoso ou inaceitável. Uma comunidade põe-se em xeque quando declara como estritamente proibido o que até então tinha tido como o mais sagrado e elevado, e quando considera, por assim dizer, impróprio o desejo desse elemento. Pois em que se poderá acreditar ainda do que ela diz? Não voltará a proibir amanhã o que hoje prescreve? (…) Infelizmente, entre nós, a tolerância de experiências aventureiras é quase ilimitada; contudo, a tolerância a liturgia antiga é praticamente inexistente. Desse modo, está-se certamente no caminho errado.”

Mito 31: “Para celebrar a Missa Tridentina é preciso autorização do Bispo local”

Não precisa, nem o Bispo local pode exigir isso.

Com o Motu Próprio Summorum Pontificum, o Santo Padre Bento XVI liberou universalmente a celebração da Missa Tridentina (antes, ela estava restrita à autorização dos bispos locais).

Mito 32: “Ir à Missa dominical não é obrigação”
É moralmente obrigado aos católicos participarem da Santa Missa Dominical, sim.

Muitos relativizam isso falando coisas como “não se visita um amigo por obrigação, mas por amor”.

Evidentemente, Deus é Aquele que nos amou primeiro, precisa ser nosso melhor amigo e é digno de todo nosso amor e de todo nossa adoração. Porém, não estamos falando aqui de um “amiguinho qualquer”, mas de Deus!

E é Justo que se obedeça as Suas Leis, que inclui a Lei da Santa Igreja, como foi explicado acima. Estamos moralmente obrigado a isso. Isso é dar a Deus o que é de Deus (Mateus 22, 21).

Diz o Catecismo: “O Mandamento da Igreja determina e especifica a Lei do Senhor. Aos Domingos e nos outros dias de festa preceito, os fiéis tem a obrigação de participar da Missa. Satisfaz ao preceito de participar da Missa quem assista à Missa celebrada segundo o rito católico no próprio dia ou na tarde do dia anterior.” (n. 2180) A participação na Santa Missa no Sábado à tarde, portanto, cumpre o preceito dominical.

Além disso, devem ser guardados como dia de festa de preceito o “dia do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, da Epifania, da Ascensão e do Santíssimo Corpo e Sangue de risto, de Santa Maria, Mãe de Deus, de sua Imaculada Conceição e Assunção, de São José, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e, por fim, de Todos os santos.” (n 2177). Os fiéis católicos tem, portanto, obrigação de participar da Santa Missa também nos dias de cada uma dessas festas ou nas tardes dos dias anteriores à cada uma delas.

No Brasil, para facilitar o cumprimento do preceito, várias destas festas são transferidas para o Domingo, por determinação da CNBB com a aprovação da Santa Sé. As únicas que permaneceram no calendário litúrgico além dos Domingo são: Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo (25 de dezembro), Santa Maria, Mãe de Deus (01 de Janeiro), Corpus Christi (data móvel) e Imaculada Conceição da Virgem Maria (08 de Dezembro) – ver comentário do Pe. Jesús Hortal sobre o cânon 1246, no Código de Direito Canônico editado pela Loyola.

Ainda em relação à participação da Santa Missa nos dias de preceito, o Catecismo deixa claro: “Os fiéis são obrigados a participar da Eucaristia nos dias de preceito, a não ser por motivos muito sérios (por exemplo, uma doença, cuidado com bebês) ou se forem dispensados pelo próprio pastor. Aqueles que deliberadamente faltam a esta obrigação cometem pecado mortal.” (n. 2181) O cânon 1245 afirma que o pároco pode conceder ao fiel, por razão justa, a dispensa da obrigação de guardar uma festa de preceito.

Importa dar a Deus o que é de Deus (Mateus 22, 21).

“Amor com amor se paga”, diz São João da Cruz, doutor da Santa Igreja.
Persevera no amor quem vive os mandamentos de Deus (Jo 15,10).
_______
Referências Bibliográficas
BENTO XVI, Papa. Carta aos Bispos que acompanha o Motu Próprio Summorum Pontificum. Disponível digitalizado em:http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/letters/2007/documents/hf_ben-xvi_let_20070707_lettera-vescovi_po.html
BENTO XVI, Papa. Carta apostólica Motu proprio datae Summorum Pontificum sobre o uso da Liturgia Romana anterior a reforma de 1970. Disponível digitalizado (tradução não-oficial para o português) em: http://www.zenit.org/article-15585?l=portuguese e (original em latim) em:http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/motu_proprio/documents/hf_ben-xvi_motu-proprio_20070707_summorum-pontificum_lt.html
BENTO XVI, Papa. Exortação Apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis sobre a Eucaristia fonte e ápice da vida e da Missão da Igreja. Disponível digitalizado em:http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/apost_exhortations/documents/hf_ben-xvi_exh_20070222_sacramentum-caritatis_po.html
BETTENCOURT, Estêvão, OSB. Comungar de Joelhos ou em pé? In: Revista “Pergunte e Responderemos”. Nº 493 – Ano : 2003 – Pág. 330. Disponível digitalizado em:http://www.cleofas.com.br/virtual/texto.php?doc=ESTEVAO&id=deb0108
CONCÍLIO DE TRENTO. Documentos das sessões do Concílio tridentino. Parte da documentação conciliar tridentina pode ser encontrada digitalizada (em espanhol) em:http://multimedios.org/docs/d000436/
CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja. Disponível digitalizado em: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19641121_lumen-gentium_po.html
CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. Disponível digitalizado em:http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19631204_sacrosanctum-concilium_po.html
ESCRIVÁ, São Josemaría. Homilias sobre a Eucaristia. Editora Quadrante.
JOÃO PAULO II, Papa. Carta Apostólica Mane nobiscum Domine para o ano da Eucaristia. Disponível digitalizado em:http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_letters/documents/hf_jp-ii_apl_20041008_mane-nobiscum-domine_po.html
JOÃO PAULO II, Papa. Carta Apostólica Ordinatio Sacredotalis sobre a ordenação sacerdotal reservada somente aos homens. Disponível digitalizado em:http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_letters/documents/hf_jp-ii_apl_22051994_ordinatio-sacerdotalis_po.html
JOÃO PAULO II, Papa. Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia sobre a Eucaristia na sua relação com a Igreja. Disponível digitalizado em:http://212.77.1.247/holy_father/special_features/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_20030417_ecclesia_eucharistia_po.html
JOÃO PAULO II, Papa. Quirógrafo sobre Música Sacra no centenário do Motu Proprio Tra le sollecitudini. Disponível digitalizado em: www.arquidiocese-sp.org.br/download/documentos/doc_santa_se-musica_liturgica.doc
PAULO VI, Papa. Carta Encíclica Mysterium Fidei sobre o Culto da Sagrada Eucaristia. Disponível digitalizado em: http://www.vatican.va/holy_father/paul_vi/encyclicals/documents/hf_p-vi_enc_03091965_mysterium_po.html
PIO X, Papa. Terceiro Catecismo da Doutrina Cristã.
PIO XII, Papa. Carta Encíclica Mediator Dei sobre a Sagrada Liturgia. Disponível digitalizado:http://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_20111947_mediator-dei_po.html
RATZINGER, Joseph; MESSORI, Vitorio. A Fé em Crise? ISBN: 8512003804
RATZINGER, Joseph. El espíritu de la Liturgia – uma Introducción. Madrid: Ediciones Cristandad SA.
RATZINGER, Joseph. Sal da Terra. ISBN: 9729035423
VATICANO. Catecismo da Igreja Católica. Disponível digitalizado em:http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/prima-pagina-cic_po.html
VATICANO. Código de Direito Canônico. Tradução oficial da CNBB. São Paulo: Loyola, 1983.
VATICANO, Sagrada Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Instrução Geral do Missal Romano. Disponível digitalizado (edição típica de 2002) em:http://www.presbiteros.com.br/old/Liturgia/MissalRomano.htm ou em: http://www.arquidiocese-sp.org.br/download/documentos/doc_santa_se-instrucao_geral_do_missal_romano.doc
VATICANO, Sagrada Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Instrução Memoriale Domini sobre a Maneira de distribuição da Sagrada Comunhão. Disponível digitalizado em: http://www.veritatis.com.br/article/5453/memoriale-domini
VATICANO, Sagrada Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Instrução Redemptionis Sacramentum sobre algumas coisas que se devem observar e evitar acerca da Santíssima Eucaristia. Digitalizado disponível em:http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/ccdds/documents/rc_con_ccdds_doc_20040423_redemptionis-sacramentum_po.html

domingo, 20 de março de 2011

O pecado contra o Espírito Santo





Abaixo, em sua encíclica Dominum et Vivificantem, o papa João Paulo II nos explica o que é o temível pecado contra o Espírito Santo de que nos falam os Evangelhos.

Abraços,

William

______________________________________

O pecado contra o Espírito Santo

Tendo em conta tudo o que temos vindo a dizer até agora, tornam-se mais compreensíveis algumas outras palavras impressionantes e surpreendentes de Jesus. Poderemos designá-las como as palavras do "não-perdão". São-nos referidas pelos Sinóticos, a propósito de um pecado particular, que é chamado "blasfêmia contra o Espírito Santo". Elas foram expressas na tríplice redação dos Evangelistas do seguinte modo:

São Mateus: "Todo o pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada. E àquele que falar contra o Filho do homem, ser-lhe-á perdoado; mas, a quem falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo nem no futuro".

São Marcos: "Aos filhos dos homens serão perdoados todos os pecados e todas as blasfêmias que proferirem; todavia, quem blasfemar contra o Espírito Santo, jamais terá perdão, mas será réu de pecado eterno".

São Lucas: "E a todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do homem, perdoar-se-á; mas a quem tiver blasfemado contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado".

Porquê a "blasfêmia" contra o Espírito Santo é imperdoável? Em que sentido entender esta "blasfêmia"? Santo Tomás de Aquino responde que se trata de um pecado "imperdoável por sua própria natureza, porque exclui aqueles elementos graças aos quais é concedida a remissão dos pecados".

Segundo uma tal exegese, a "blasfêmia" não consiste propriamente em ofender o Espírito Santo com palavras; consiste, antes, na recusa de aceitar a salvação que Deus oferece ao homem, mediante o mesmo Espírito Santo agindo em virtude do sacrifício da Cruz. Se o homem rejeita o deixar-se "convencer quanto ao pecado", que provém do Espírito Santo e tem caráter salvífico, ele rejeita contemporaneamente a "vinda" do Consolador: aquela "vinda" que se efetuou no mistério da Páscoa, em união com o poder redentor do Sangue de Cristo: o Sangue que "purifica a consciência das obras mortas".

Sabemos que o fruto desta purificação é a remissão dos pecados. Por conseguinte, quem rejeita o Espírito e o Sangue permanece nas "obras mortas", no pecado. E a "blasfêmia contra o Espírito Santo" consiste exatamente na recusa radical de aceitar esta remissão, de que Ele é o dispensador íntimo e que pressupõe a conversão verdadeira, por Ele operada na consciência. Se Jesus diz que o pecado contra o Espírito Santo não pode ser perdoado nem nesta vida nem na futura, é porque esta "não-remissão" está ligada, como à sua causa, à "não-penitência", isto é, à recusa radical a converter-se. Isto equivale a uma recusa radical de ir até às fontes da Redenção; estas, porém, permanecem "sempre" abertas na economia da salvação, na qual se realiza a missão do Espírito Santo. Este tem o poder infinito de haurir destas fontes: "receberá do que é meu", disse Jesus. Deste modo, Ele completa nas almas humanas a obra da Redenção, operada por Cristo, distribuindo os seus frutos. Ora a blasfêmia contra o Espírito Santo é o pecado cometido pelo homem, que reivindica o seu pretenso "direito" de perseverar no mal — em qualquer pecado — e recusa por isso mesmo a Redenção. O homem fica fechado no pecado, tornando impossível da sua parte a própria conversão e também, consequentemente, a remissão dos pecados, que considera não essencial ou não importante para a sua vida. É uma situação de ruína espiritual, porque a blasfêmia contra o Espírito Santo não permite ao homem sair da prisão em que ele próprio se fechou e abrir-se às fontes divinas da purificação das consciências e da remissão dos pecados.

A ação do Espírito da verdade, que tende ao salvífico "convencer quanto ao pecado", encontra no homem que esteja em tal situação uma resistência interior, uma espécie de impermeabilidade da consciência. um estado de alma que se diria endurecido em razão de uma escolha livre: é aquilo que a Sagrada Escritura repetidamente designa como "dureza de coração".  Na nossa época, a esta atitude da mente e do coração corresponde talvez a perda do sentido do pecado, à qual dedica muitas páginas a Exortação Apostólica Reconciliatio et Paenitentia.  Já o Papa Pio XII tinha afirmado que "o pecado do século é a perda do sentido do pecado".  E esta perda vai de par com a "perda do sentido de Deus". Na Exortação acima citada, lemos: "Na realidade, Deus é a origem e o fim supremo do homem, e este leva consigo um gérmen divino. Por isso, é a realidade de Deus que desvenda e ilumina o mistério do homem. É inútil, pois, esperar que ganhe consistência um sentido do pecado no que respeita ao homem e aos valores humanos, quando falta o sentido da ofensa cometida contra Deus, isto é, o verdadeiro sentido do pecado.

É por isso que a Igreja não cessa de implorar de Deus a graça de que não venha a faltar nunca a retidão nas consciências humanas, que não se embote a sua sensibilidade sã diante do bem e do mal. Esta retidão e esta sensibilidade estão profundamente ligadas à acção íntima do Espírito da verdade. Sob esta luz, adquirem particular eloquência as exortações do Apóstolo: "Não extingais o Espírito!". "Não contristeis o Espírito Santo!". Mas sobretudo, a Igreja não cessa de implorar, com todo o fervor, que não aumente no mundo o pecado designado no Evangelho por "blasfêmia contra o Espírito Santo"; e, mais ainda, que ele se desvie da alma dos homens — e como repercussão, dos próprios meios e das diversas expressões da sociedade — deixando espaço para a abertura das consciências, necessária para a ação salvífica do Espírito Santo. A Igreja implora que o perigoso pecado contra o Espírito Santo ceda o lugar a uma santa disponibilidade para aceitar a missão do Consolador, quando Ele vier para "convencer o mundo quanto ao pecado, quanto à justiça e quanto ao juízo.

Jesus, no seu discurso de despedida, uniu estes três domínios do "convencer", como componentes da missão do Paráclito: o pecado, a justiça e o juízo. Eles indicam o âmbito do "mistério da piedade", que na história do homem se opõe ao pecado, ao mistério da iniquidade. Por um lado, como se exprime Santo Agostinho, está o "amor de si mesmo levado até ao desprezo de Deus"; por outro, "o amor de Deus até ao desprezo de si mesmo". A Igreja continuamente eleva a sua oração e presta o seu serviço, para que a história das consciências e a história das sociedades, na grande família humana, não se rebaixem voltando-se para o pólo do pecado, com a rejeição dos mandamentos de Deus "até ao desprezo do mesmo Deus"»; mas, pelo contrário, se elevem no sentido do amor em que se revela o Espírito que dá a vida.

Aqueles que se deixam "convencer quanto ao pecado" pelo Espírito Santo, deixam-se também convencer quanto "à justiça e quanto ao juízo". O Espírito da verdade que vem em auxílio dos homens e das consciências humanas, para conhecerem a verdade do pecado, ao mesmo tempo faz com que conheçam a verdade da justiça que entrou na história do homem com a vinda de Jesus Cristo. Deste modo, aqueles que, "convencidos quanto ao pecado", se convertem sob a ação do Consolador, são, em certo sentido, conduzidos para fora da órbita do "juízo": daquele "juízo" com o qual "o Príncipe deste mundo já está julgado". A conversão, na profundidade do seu mistério divino-humano, significa a ruptura de todos os vínculos com os quais o pecado prende o homem, no conjunto do "mistério da iniquidade". Aqueles que se convertem, portanto, são conduzidos para fora da órbita do "juízo" pelo Espírito Santo, e introduzidos na justiça, que se encontra em Cristo Jesus, e está n'Ele porque a "recebe do Pai", como um reflexo da santidade trinitária. Esta justiça é a do Evangelho e da Redenção, a justiça do Sermão da Montanha e da Cruz, que opera a "purificação da consciência" mediante o Sangue do Cordeiro. É a justiça que o Pai faz ao Filho e a todos aqueles que Lhe estão unidos na verdade e no amor.

Nesta justiça o Espírito Santo, Espírito do Pai e do Filho, que "convence o mundo quanto ao pecado", revela-se e torna-se presente no homem, como Espírito de vida eterna.

terça-feira, 8 de março de 2011

DUAS COSMOGONIAS EM FACE DA CIÊNCIA – Pe. Leonel Franca, SJ



Em um ambiente tão hostil à fé e à religião como este em que vivemos, não é difícil nos depararmos com "dogmas" científicos, que não possuem qualquer prova irrefutável, que tentam derrubar a nossa fé.

Contudo, os inimigos de Deus não podem nem mesmo se dar ao luxo de serem considerados originais quando destilam seu veneno. Já no início do século passado, o padre Leonel Franca teve de empunhar sua pena para defender a fé dos ataques daqueles que têm por seu deus a ciência vacilante.

Deus nos abençoe

WIlliam

_____________________

DUAS COSMOGONIAS EM FACE DA CIÊNCIA – Pe. Leonel Franca, SJ

Dentre os problemas, que em todos os tempos, têm despertado a curiosidade investigadora do homem, nenhum há porventura, em cuja solução tanto se tenham afadigado as inteligências como o grande problema da origem das coisas. Debalde, depois de tantos milhares de anos, tentou AUGUSTO COMTE agrilhoar despoticamente a razão humana, enclausurando-a no âmbito acanhado dos problemas sensíveis: ela, filha da luz e amante da liberdade, rasgou-lhe o veto ditatorial, e hoje como ontem desprendendo o vôo livre ruma reto em busca da região serena da verdade, onde ela resplandeça, nos fenômenos sensíveis ou na sua causa invisível.

Importância do problema

A questão da origem das coisas é inseparável da existência de um Ser Supremo e Criador: eis o segredo de sua importância. O princípio de causalidade, base inconcusa sobre a qual se levanta todo o edifício de nossos conhecimentos, exige, ao aparecimento de um ser, uma causa pré-existente que lhe tenha dado origem, comunicando-lhe todas as perfeições de que é dotado. Assim, quando, depois dos grandes cataclismas por que passou o nosso globo, ainda em estado de formação, moveu a primeira célula viva a sua superfície, quando, milhares de anos mais tarde, apareceu o primeiro ato psicológico, imperfeito ainda e concretizado no mais rudimentar dos protestos, quando, em épocas mais recentes, cintilaram os fulgores da inteligência na primeira alma humana, a nossa razão, recusando admitir que o perfeito possa originar-se do imperfeito, o mais do menos, o tudo do nada, reclama a existência de uma causa superior, que todas estas perfeições possuísse em grau infinito, e que, num dado momento, por ela livremente escolhido, as comunicasse a seres distintos de si na efusão comunicativa de sua bondade.

A origem da vida, a origem do sentimento, a origem da inteligência, são outras tantas vias que nos levam aos pés do trono do Criador, e o ímpio, diante do espetáculo do universo é, mau grado seu, obrigado a repetir, no segredo de sua consciência, o de VOLTAIRE: “Le monde m’embrasse et je ne puis songer. Que cette horloge existe et n’ait pas d’horloge”. O aparecimento de todas estas perfeições – vida, sentimento, intgeligência – no tempo é hoje irrevogavelmente atestado pelas ciências experimentais e ninguém há que se atreva a negá-lo. Aí estão as estratificações geológicas e os seus fósseis, como papiros de um grande livro, a referir-nos em caracteres indeléveis a historia do nosso globo.

Ao lado, porém, do grande reino animado, cujo aparecimento temporário é evidente, avulta o imenso reino anorgânico em que, na beleza multiforme de seus aspectos e na variedade extrema de suas propriedades, se nos apresentam os minerais. Como substratum comum aos dois reinos, como sede em que se manifestam todas as propriedades e perfeições dos corpos, encontra-se a matéria. É desta matéria indefinível e sob cuja constituição tanto se há discutido, desta matéria que se metamorfoseia de mil maneiras diferentes e cujo aparecimento, perdendo-se na noite dos tempos, escapa à investigação de qualquer ciência experimental, que ora inquirimos a origem. Donde provém ela? Como e quando principiou a existir? Eis, senhores, a primeira questão que se nos antolha no grande problema da origem das coisas.

Duas opiniões

Duas doutrinas antagonistas respondem à nossa pergunta: a doutrina católica e a doutrina materialista. Todas as outras soluções não são mais que variações dos dois grandes sistemas e a um deles, em última análise, se reduzem.

Ensina-nos a fé católica que a matéria é criada, teve princípio, por um ato livre do Criador, que a fez não simultaneamente nem no estado em que hoje a vemos, mas sucessivamente em vários períodos largamente espaçados, abandonando à ação das forças criadas o seu ulterior desenvolvimento. A doutrina católica opõe-se a doutrina materialista. Seus adeptos, no propósito acirrado de excluir a Deus da origem do universo, a fim de expulsa-lo da consciência humana, dogmaticamente asseveram que a matéria é eterna – existiu, existe sempre, sem princípio nem fim. Fora dela não existe ser algum – ela é a mãe fecunda de tudo o que é; de seu seio indefinidamente feraz brotaram, após uma gestação longa como o infinito, a vida, o instinto e a inteligência pelos mesmos processos por que tinham pululado a princípio todas as outras energias corpóreas. Sujeita a tais fatores, imutáveis, necessários e inexoráveis, ela se vai continuamente transformando, aperfeiçoando, evoluindo numa tendência irresistível para um termo que lhe não será dado jamais atingir.

Tal, em duas palhetadas, o sistema cosmogônico que, em nome da ciência moderna, pretendemos encampar à turba desacantilada das inteligências ainda em flor, os HAECHEL, FEUERBACH, BÜCHNER, MOLOSCHOTT e outros. Infelizmente, nem o mérito da originalidade lhes podemos conceder. Neste ponto não fizeram senão repetir em novos termos e ouropéis o que balbuciaram DEMÓCRITO, LEUCIPO e EPICURO na Grécia, quando a filosofia ainda se achava envolvida nas faixas da infância.

Contra a tese materialista nos insurgimos não somente em nome da fé que nos dá a nós católicos a certeza transcedente e infalível baseada no testemunho do que é a Sabedoria Infinita, que se não engana, a Bondade Inefável, que nos não quer enganar, senão também em nome da razão, ultrajada em seus princípios e da ciência que eles, debalde, tentam arrastar à infelicidade ignominiosa de seus preconceitos.

1ª Parte: A cosmogonia materialista é contra a razão

Disse que o materialismo ultraja a razão e vo-lo provo. Segui-me por um momento na análise dum ser eterno. Desta análise jorrará a luz que nos há de aclarar o caminho da verdade.

Um ser eterno e incriado fora do qual não existe ser algum é um ser Necessário, quero dizer, e cuja não-existência é inconcebível. Tal, certamente, não é a matéria, contingente em cada uma de suas partes, contingente no conjunto de todas elas. Todos estes seres distintos que aí vemos a povoar o mundo são dependentes uns dos outros, relativos, reciprocamente condicionados, de tal sorte que não poderia haver nenhum deles existir sem o concurso simultâneo e harmonioso dos que o condicionam; numa palavra, todos os seres que constituem o mundo material e com os quais se identifica a matéria apresentam à razão todos os caracteres de contingência, seres todos que poderiam não existir sem que nisto enxergasse a nossa inteligência o mínimo vislumbre de contradição. Eis a primeira incompatibilidade da matéria com o ser eterno.

Mais. O ser eterno e necessário é necessariamente infinito, não só na duração senão também na perfeição, na posse completa da plenitude do ser. Senão dizei-me: por que razão haveria de ser limitado e finito um ser necessário, por que se haveria de restringir a sua perfeição a este ou aquele grau? Porventura pela vontade onipotente de outro ser distinto? Mas então ele não seria o ser único e independente que dizem os materialistas ser a sua matéria. Acaso intrinsecamente pela sua própria essência? Mas, se esta essência é a plenitude do ser, encerra e comporta todas as perfeições possíveis, porque há de rejeitar uma delas? Inconcebível. De qualquer lado que nos viremos, emaranha-se a nossa razão em dificuldade intricadas, em flagrantes contradições e não em dificuldades intricadas, em flagrantes contradições e não nos é possível conceber num ser Eterno, Necessário e Independente que ao mesmo tempo infinito não seja e infinitamente perfeito.

Nem ainda é tudo. Outro atributo do ser eterno e infinito é a imutabilidade. Todo ser que mude adquire um novo estado e com ele uma perfeição que não possuía: a mutabilidade é o sigilo inconfundível dos seres imperfeitos e limitados. No ente infinito, pego insondável de todas as perfeições, não há razão alguma de movimento, nem, portanto, de mudança. A matéria, caracterizada pela mobilidade e instabilidade que todos lhe concedemos, repete, portanto, de si a infinidade eterna.

Terminaremos a nossa breve excursão pelos domínios da filosofia, pela análise abstrata dos conceitos: não nos foi infrutífera. Nos argumentos que esboçamos mostrou-nos a razão o absurdo da concepção materialista de um cosmos eterno e necessário em provas hauridas não no terreno incerto e movediço das ciências experimentais, mas estribados nas próprias leis do pensamento, eternas e imutáveis como imutável e eterna é a verdade de que são expressões. Qualquer inteligência mediocremente cultivada pode, nestas especulações, seguir de perto um ARISTÓTELES, o um AGOSTINHO, um PLATÃO e um BOSSUET. Pouco se nos dá, que, fechando substancialmente os olhos, digam os materialistas que não vêem a luz. É uma triste e dolorosa verdade, para nossa desventura, que a vontade do homem, nos abismos insondáveis de sua malícia, envolve não raro a inteligência de tão espessa nuvem de fumo que lhe obscurece o lume da razão natural e de todo lhe embota a agudeza de penetração. Não entremos, porém, neste conluio horrível, em que as duas faculdades espirituais do homem (inteligência e vontade) mancomunado o mais nefando dos atentados – o suicídio da consciência moral – associam-se para imprimir uma orientação errada à vida de um homem. Só um juiz infinitamente clarividente e justo pode com equidade discernir a imputabilidade e assinar a cada homem que consuma a própria perdição, o seu quinhão de responsabilidades.

2ª Parte: A cosmogonia materialista é contra as ciências.

A estes argumentos peremptórios muitos materialistas, encolhendo ironicamente os ombros, contentam-se com responder: é metafísica, como se pudera existir verdadeira ciência, como se pudera travar uma discussão sem ser metafísica.

Desçamos, porém, a região das ciências pelas quais unicamente eles batem pé e em cuja infalibilidade juram incondicionalmente. Combatendo no campo das matemáticas e das ciências experimentais, cremos ainda ter armas suficientes para pugnar vitoriosamente contra o dogma fundamental do materialismo: a eternidade da matéria.

Comecemos pela matemática. Aceitam, e com razão, os mais notáveis matemáticos que uma série infinita de números repugna: é uma contradição que decorre da noção mesma de número. Sendo este essencialmente uma coleção de unidades, que não vê o absurdo de chegar ao infinito pelo acréscimo de unidade a um número infinito? Todos conhecem a demonstração de GALILEU a este respeito, repetida e ilustrada pelo maior matemático do século XIX, na frase de BERTRAND, pelo grande sábio e maior católico, CAUCHY. Termina ele a sua demonstração afirmando que a “hipótese de uma série prolongada ao infinito arrasta contradições manifestas, e por isso deve ser rejeitada (CAUCHY, Sete lições de Física Geral). Ora, precisamente a esta hipótese e que nos leva a afirmação materialista da eternidade da matéria. Fora ela eterna, como ante o dizer deles, e as mudanças por que tem passado constituíram uma série infinita, cujo primeiro termo seria o momento atual.

Demos uma forma mecânica a demonstração. Afirmam os materialistas que o movimento, sendo intimamente unido à matéria, é com ela eterno, necessário, e causa de todas as transformações por que até hoje tem passado. Ora, podendo a trajetória de um movimento ser apresentada por uma linha infinita, afirmamos que, a um móvel, é impossível ter percorrido semelhante linha. Efetivamente, suponhamos por sentido inverso. Sendo o sentido uma acidentalidade no movimento que lhe não altera a espécie, a suposição é legítima. Pois bem, partindo do ponto atual B, o móvel nunca chegará a percorrer toda a linha, que, por hipótese, é infinita, sem ponto inicial A. Mas a distância de B a A é evidentemente a mesma de A a B. Se, portanto, o móvel, partindo de B, nunca chegará a A, nunca teria chegado a B se tivesse realmente partido de A, isto é, de um ponto situado no infinito. Conclusão: o mundo, que se acha atualmente no estado B de sua evolução, teve um ponto inicial de partida, seu movimento não é eterno.

Das matemáticas passemos à Física. Os dois grandes princípios da conservação e da degradação da energia, generalização dos dois outros princípios sobre que se baseia a Termodinâmica e conhecidas pelos nomes dos seus autores MAYER e CARNOT, podem ser considerados como os princípios fundamentais da Física moderna. Deles se colige que todo o universo tende para um estado final de equilíbrio.

A soma da energia atual e potencial do universo permanece constante através de todas as suas transformações. Nestas contínuas transições, porém, a energia, convertendo-se, tende a tornar-se sempre mais difusa e menos intensa: a energia química, desenvolvida no ato de uma combinação, pode manifestar-se externamente sob a forma de luz, a luz irradia calor, o calor difunde-se, e a energia primitiva, destarte, depois de passar por várias formas porque vai passando a energia há uma gradação: a ínfima de todas as formas, a menos convertível de todas é o calor, e para esta forma tende sempre, a energia nas suas transformações. É este o princípio da entropia tão bem ilustrado por W. THOMPSON, depois L. Kelvin. Assim chegará para o universo um dia em que todas as suas energias – luz, magnetismo, eletricidade, afinidade química, radioatividade e outras talvez que a natureza esconde em seu seio, terão descido ao nível mais baixo. O calor, irradiando, será igualmente distribuído por todos os corpos. A energia não será perdida, mas, assim transformada, não se poderá manifestar; a recíproca atividade dos corpos, que supõe uma desigualdade entre o ativo e o passivo, será então impossível. Um sono de morte pousará sobre o universo e o eterno silêncio dos túmulos sucederá às harmonias da grande máquina no seu eterno repouso. Para chegarmos a este estado, serão necessários séculos supranumeráveis, mas não infinitos, passará uma duração incalculável depois da qual, a tendência universal para o equilíbrio ou igualdade de potencial terá atingido o termo para o qual corremos incessantemente.

Ora, senhores, entre estes resultados da Física moderna e a hipótese materialista não há conciliação possível. Fôra a matéria eterna, e já de há muito devêramos ter chegado a este estado final de equilíbrio: o efeito necessário de uma causa é, necessariamente é, necessariamente, eterno. Ouçamos um dos melhores físicos modernos: “Se a matéria e o movimento foram eternos”, pondera NAVILLE, “o movimento que se quisesse tomar como ponto de partida, teria antes de si uma duração infinita. O mundo, por conseguinte, deveria ter chegado ao estado atual em um momento qualquer de sua duração, já que naquele momento teria tido o tempo necessário para chegar ao presente estado. Onde se faz entrar o pensamento da eternidade desaparece todo o ponto de partida e à ciência há mister um ponto de partida (Physique Moderne)”. Podemos, portanto, concluir com CAUCHY: “Assim, a ciência nos conduz ao que a fé nos ensina. A matéria não é eterna; e, se as divinas escrituras não nos tiveram claramente revelado esta verdade no primeiro e mais antigo de todos os livros, seríamos obrigados a admiti-la como físicos (Sete lições de Física Geral)”. E neste parecer concertam os mais ilustres sábios modernos e não modernos (FAYE, HIRN, HERSCHEL).

Recaptulação final

É tempo de concluir. Colocamos em face da razão e da ciência as duas cosmogonias antagonistas em que se resumem todas as outras: a cosmogonia mosaica, que é a  católica, e a cosmogonia materialista. Não resistiram ambas igualmente que a submetemos. A primeira aparece-nos cercada dos esplendores da verdade, atestanto sua origem divina; a outra, no primeiro contato da discussão, caiu pulverizada e desfeita em cinzas, como estes cadáveres que aparecem intactos ao abrir um sarcófago, para se desfazerem logo num punhado de pó informe e sem recordações ao primeiro sopro de um ser animado.

Existe um ser desde toda a eternidade: é este um princípio de evidência incontestável e matemática. Se supuséramos que, por um só momento, nada existiu, nenhuma coisa poderia jamais ter começado a existir, porque do nada não se pode produzir coisa alguma: ex nihilo nihil fit. Este ser eterno não pode ser a matéria limitada e contingente, mutável e imperfeita, composta e divisível, extensa no espaço e sucessiva no tempo, ela não possui nenhum dos atributos do ser eterno; as suas propriedades, as leis que lhe regem os movimentos atestam, evidentemente, a sua origem, temporal.

O ser eterno, Ato Puro, que envolve a existência na própria essência, ser Infinito, não sujeito às vicissitudes da mutabilidade, independente do espaço e dos tempos, isento de toda e qualquer composição, plenitude do ser, pélago sem fundo nem margens de todas as perfeições. Só tal ser Eterno e este ser é o nosso Deus. Abençoemos a ciência que assim nos leva ao trono de sua Majestade Infinita, ciência que dignifica, que ilustra a inteligência e fortalece a vontade, ciência que exalta e enaltece o homem, apontando-lhe a sublimidade de sua origem e a elevação dos seus destinos.

 *Conferência na Congregação Nossa Senhora das Vitórias, 1916.

Fonte: Pe. Leonel Franca S. J. Obras completas (Tomo V: Alocuções e artigos II); p. 129-139. Ed. Agir, Rio, 1954.

terça-feira, 1 de março de 2011

Método de São Luís de Montfort para se meditar o Rosário





Método abreviado para celebrar a vida, a morte e a glória de Jesus e de Maria durante a recitação do Santo  Rosário, e para diminuir as distrações da imaginação.


Deve-se acrescentar à cada Ave Maria de cada dezena uma pequena palavra que nos traga à memória o mistério que se celebra ao longo da dezena; e deve-se acrescentar esta palavra após dizer Jesus no meio do Ave Maria.

Na 1° dezena: (...) bendito o fruto de vosso ventre, Jesus encarnado;
Na 2° dezena: (...) bendito o fruto de vosso ventre, Jesus santificante;
Na 3° dezena: (...) bendito o fruto de vosso ventre, Jesus menino pobre;
Na 4° dezena: (...) bendito o fruto de vosso ventre, Jesus sacrificado;
Na 5° dezena: (...) bendito o fruto de vosso ventre, Jesus santo dos santos.
(fim do primeiro terço)

Na 6° dezena: (...) bendito o fruto de vosso ventre, Jesus agonizante;
Na 7° dezena: (...) bendito o fruto de vosso ventre, Jesus flagelado;
Na 8° dezena: (...) bendito o fruto de vosso ventre, Jesus coroado de espinhos;
Na 9° dezena: (...) bendito o fruto de vosso ventre, Jesus portando a sua cruz;
Na 10° dezena: (...) bendito o fruto de vosso ventre, Jesus crucificado.
(fim do segundo terço)

Na 11° dezena: (...) bendito o fruto de vosso ventre, Jesus ressuscitado;
Na 12° dezena: (...) bendito o fruto de vosso ventre, Jesus subindo aos céus;
Na 13° dezena: (...) bendito o fruto de vosso ventre, Jesus que vos do Espírito Santo;
Na 14° dezena: (...) bendito o fruto de vosso ventre, Jesus que vos ressuscita;
Na 15° dezena: (...) bendito o fruto de vosso ventre, Jesus que vos coroa.
(fim do terceiro terço)

Em seguida, ao terminar o primeiro terço se diz: Graça dos mistérios gozosos, descei em nossas almas e fazei delas almas verdadeiramente santas. Ao terminar o segundo: Graça dos mistérios dolorosos, descei em nossas almas e fazei delas almas verdadeiramente pacientes. Ao terminar o terceiro: Graça dos mistérios gloriosos, descei em nossas almas e fazei delas almas eternamente bem-aventuradas.Amém.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Conversões ao Catolicismo

Pessoal, sei que o blog tem estado meio parado por estes dias, mas é que início de ano para professor e papai de primeira viagem não costuma ser fácil. Tentarei retomar as postagens de modo regular o mais breve possível

Contudo, por ora, deixo vocês com este belíssimo vídeo que trata de uma série de conversões ao catolicismo. Que estas conversões nos incentivem a proclamarmos a Verdade por onde formos.

Mas, antes, compartilho com vocês a tradução de alguns textos que aparecem no vídeo.

Logo no começo há um pequeno texto que diz:
Antes de eu me tornar católico, eu fazia parte de uma concepção equivocada comum : a de que as pessoas apenas se convertem do catolicismo para alguma outra coisa. Todos, de protestantes a muçulmanos, parecem reunir de modo triunfante convertidos do catolicismo para sua fé.  Mas acontece que há e continua havendo muitas conversões à Fé Católica. O que se segue é uma lista não exaustiva.
Para os que não sabem inglês, a palavrinha from, que aparece embaixo de quase todos os nomes, indica de que religião a pessoa se convertou. Já a palavra to indica para qual religião ela se converteu. Assim no caso do Imperador Constantino, por exemplo, temos:

     Emperor Constantine        --> Imperador Constantino
From Pagan to Catholic    --> De pagão a católico

As outras palavras são bem semelhantes às do português, creio que não terão problemas, mas, em caso de dúvida, escrevam-me.

Quando o vídeo fala de Abdul Rahman (03:24), aparece a seguinte legenda:
De muçulmano a católico. Em 2006, Rahman foi preso e acusado de apostasia por ter deixado o Islã, um crime que, no Afeganistão, pode levar à pena de morte. Diante da sentença de morte, Rahman disse: "Eles querem sentenciar-me à morte e eu aceito...Eu sou cristão...o que significa que eu acredito na Trindade...Eu acredito em Jesus Cristo". Graças à pressão internacional, Rahman obteve uma permissão para deixar o Afganistão e ir para a Itália, onde lhe concederam asilo.
Quando o vídeo fala de Linda Joy (04:02), aparece a seguinte legenda:
De muçulmana à católica. Em 2007, o tribunal da Sharia da Malásia negou a Linda Joy o apelo de ter a sua conversão ao catolicismo oficialmente aprovada. 
E, como não poderia deixar de ser, o vídeo termina com:

"Bem-vindos a casa, irmãos e irmãs"

Eis o vídeo:



Fiquem com Deus e até a próxima!

William Bottazzini Rezende

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O que acontece quando se lê a Bíblia fora do Magistério da Igreja...




Abaixo compartilho com vocês um texto muito interessante que cita rapidamente alguns exemplos daquilo que pode nos acontecer se nos desviarmos do Magistério da Igreja quando tratarmos de ler e compreender as Sagradas Escrituras.

A Bíblia, interpretada fora da comunhão com a Igreja, pode dar margem às interpretações mais desvairadas e perigosas que se pode pensar. Tudo vai depender do grau de imaginação ou de psicose do indivíduo.

A Sola Scriptura se mostra tão absurda e frustrante que até o próprio pai da Reforma, o heresiarca Martinho Lutero, foi obrigado a confessar que, após a propagação de suas idéias, havia "tantas seitas e crenças como cabeças". E, em seguida, ele é obrigado a confessar amarguradamente: "Este nega o batismo, aquele os sacramentos, aquele outro crê que há um terceiro mundo, entre este e o dia do julgamento final. Uns dizem que Cristo não é Deus; estes dizem uma coisa e aqueles dizem outra. Não há rústico, por mais rude que seja, que não sonhe ou imagine ser inspirado pelo Espírito Santo e não se tenha por profeta". (Grisar: Luther IV, 386 - 407). E tudo isso é retirado da Bíblia...Eis o que acontece quando se recusa a autoridade do Magistério da Igreja: cria-se um abismo de confusões.

O texto do senhor Cordova é bastante claro e sucinto neste aspecto. Podemos perceber que os problemas do Sola Scriptura no México são muito semelhantes aos nossos, já mais tupiniquins.

_____________________

A Bíblia mal utilizada. As conseqüências de um princípio funesto: Sola Scriptura.
Então disse-lhe o diabo: ‘Se és o Filho de Deus, lança-te daqui, porque está escrito...” (Mt. 4,5).
A Sagrada Escritura é uma lâmpada que ilumina o nosso caminhar à Casa do Pai, Salmo 119, 105. Contudo, se mal utilizada, pode nos levar a danos físicos e morais, e, até mesmo, à perdição eterna. O próprio demônio valeu-se inutilmente desta técnica para fazer com que Jesus caísse.
O profeta Amós anunciou (8, 11): “Chegaria o dia em que o Senhor enviaria fome por sobre a Terra, não fome de pão, nem sede de água, mas de se ouvir a Palavra do Senhor”. Como esta fome de se escutar a palavra de Deus é inerente à natureza do homem, que deseja conhecer a seu Criador, devemos, nesta busca, notar a infinidade de doutrinas errôneas inventadas pelos homens. Doutrinas estas que estão baseadas, graças a seus criadores, na Bíblia mal interpretada.
Alguém já disse: “da Bíblia mal interpretada pode-se tirar até petróleo”.
Joseph Smith, fundador dos mórmons, baseando-se no mandato divino de Gn. 1,22 e 35,11, “crescei e multiplicai-vos...”, aprovou a poligamia.
Joseph F. Rutherford, segundo líder mundial dos Testemunhas de Jeová, apoiou a conhecida negativa dos Testemunhas de Jeová de aceitar a transfusão de sangue, que tantas mortes já causou entre eles, baseado no texto de At. 15,20, quando a Igreja Primitiva proclamou um mandato transitório e circunstancial acerca da abstinência de sangue.
Os líderes dos Adventistas do Sétimo Dia, utilizando Ex. 20,8, “recorda o dia de sábado para santificá-lo”, obrigam a seus fiéis a guardá-lo, assim como os judeus do Antigo Testamento, e se recusam a aceitar o domingo, “Dia do Senhor”, como dia dos cristãos.
Os cristãos fundamentalistas: Igreja da Fé em Jesus Cristo e outras da mesma linha doutrinária, lendo At. 8,16, “...haviam sido batizados unicamente no nome do Senhor Jesus”, alegam que os cristãos devem ser batizados apenas no nome de Jesus, e não no das Três Pessoas da Santíssima Trindade, embora este último seja um mandato expresso de Cristo em Mt. 28,19.
A grande quantidade de igrejas cristãs evangélicas, citando Rm. 3,28, “concluímos que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei”, proclamam que a justificação (salvação), é obtida apenas pela fé, sem as obras, em oposição ao que diz Tiago 2,26.
Entre os Pentecostais, surgiram casos de pessoas, principalmente crianças, que morreram porque seus pais não foram ao médico para que este pudesse tratar de seus sofrimentos, já que crêem, segundo Lc. 8,48, que se cura tudo apenas através da fé e da oração. Por outro lado, os judeus, o povo da Bíblia, recorriam sim aos médicos, cf. Eclo. 39. Havia um médico eminente entre os apóstolos: Lucas, cf. Col. 4, 14.
Em San Luis Potosí, pessoas, em uma comunidade que sustenta este tipo de doutrina, caíram mortas ao inalarem gás butano. O pastor lhes dizia que era ação do Espírito Santo (Heraldo de Chih. 1° de Enero de 1992).
Os seguidores da urinoterapia (o ato de beber a própria urina), justificam esta prática no texto de Prov. 5,15, “Toma a água de tua própria fonte...”.
As práticas mais descabeladas podem ter apoio na Bíblia mal interpretada. Citar todas elas seria interminável. Para evitar ser vítima de estes e outros danos tão terríveis, recorramos à Sagrada Escritura sempre observando a interpretação do Magistério da Igreja Católica, a quem Jesus deu este ministério, cf. Lc. 10,16. Não recorramos àqueles que sempre interpretam as Escrituras à margem deste Magistério.
José L. Fierro Cordova
México

Traduzido do espanhol por William Bottazzini.


______________________

Pena que o senhor Cordova não tenha citado aquelas seitas que, para arrancar dinheiro dos fiéis, citam, repetitivamente, Malaquias 3,10, "Trazei todos os dízimos à casa do tesouro...". Elevam este versículo à categoria de 11° (ou seria 1°?) Mandamento. Talvez este não seja, ainda, um problema tão grande assim no México...

Que o Senhor abençoe a todos

William