Que a educação vai mal, tanto nas
escolas públicas quanto nas particulares, é evidente. Mas há duas disciplinas
que passam por um verdadeiro sistema de demolição em suas bases: a História e o
Português. Tratemos da primeira.
Podemos dizer que nos últimos cem
anos a História tornou-se quase que um sistema religioso de propagação da
doutrina marxista. Tudo passou a ser visto puramente do ponto de vista
econômico e da luta de classes. Além disso, começou a vigorar entre os
historiadores uma mentalidade que proclama que tudo em História é pura
interpretação, ou seja, o que há é a mais ousada negação da verdade, e isso,
conforme já vimos, é algo completamente absurdo e contraria a lógica mais
elementar. A História também se prestou a fazer uma propaganda ferrenha
anticatólica e ouso mesmo dizer, aproveitando as ondas do momento que querem
acrescentar o sufixo “-fobia” em tudo, que surgiu uma espécie de “catolicofobia”,
que faz com que o mero adjetivo “católico” gere repulsa nos que não o são e
crie dúvidas e incertezas nos que o são.
É espantoso ver que em pleno
século XXI ainda se ensine com a maior desfaçatez que durante a Idade Média
acreditava-se que a Terra fosse plana. Essa mentira deslavada surgiu no século
XIX na obra de dois historiadores anticlericais que queriam fazer com que a
Idade Média, época em que a Igreja mais teve influência, parecesse um imenso
absurdo. Não existe nenhum documento medieval que ateste a crença na Terra
plana, ao contrário, abundam as produções artísticas e os textos que afirmam a
esfericidade da Terra muitos séculos antes do advento de Colombo.
E por falar em Idade Média, como
não se lembrar daquelas aulas de História sobre a Inquisição em que os
professores nos aterrorizavam com a brutalidade das torturas e com o fanatismo
dos bispos da Igreja, que mandavam para a fogueira milhões e milhões (bilhões!,
dirão alguns) de pobres inocentes cujo único crime havia sido discordar da
doutrina oficial? Balelas sem fim. Sabe-se muito bem que os números de
condenados à pena capital foram infinitamente menores que os propalados por aí
e que a realidade jurídica da Inquisição era a mesma que vigorava até então
também na justiça secular. A pena de morte não era a única pena que existia e
era a menos aplicada. A clemência dos tribunais inquisitoriais era tão notável
que muitos criminosos comuns cometiam voluntariamente crimes contra a religião
para serem julgados pela Inquisição, que fazia com que o processo fosse
imediatamente interrompido quando o acusado mostrava-se arrependido e que se
fosse condenado à pena de reclusão para cumprir penitências (como rezar tantas
ave-marias e padre-nossos, aliás, é daí que surge o nome “penitenciária”) em
algum mosteiro, havia dispositivos que determinavam a soltura do penitente para
férias ou para tratar de um familiar doente.
Diversos juristas já afirmaram
que a Inquisição representou um avanço em termos de humanidade no tratamento
dado a um condenado. Sabemos também que ela foi instituída para proteger as
pessoas do fanatismo popular, que por si só linchava os que vituperavam a
religião comum, e do arbítrio dos reis, que executavam desafetos políticos sob
o pretexto da religião. A Igreja tomou para si as responsabilidades dos casos
de ofensa à religião, deixando aos poderes civis a competência para julgar os
crimes comuns. Deixe-me explicá-lo melhor. Antes do surgimento da Inquisição em
certo país hipotético já era crime professar ideias ofensivas à religião estabelecida.
Eu disse ofensivas e não, meramente contrárias. A pena para esses casos era
frequentemente a pena de morte. Pois bem, o que a Igreja tinha em mente quando
estabeleceu o Santo Ofício era basicamente conseguir o arrependimento do
indivíduo para que o Estado não pusesse as mãos nele. Se o sujeito permanecesse
aferrado às suas ideias (o que mostra traços de fanatismo nos acusados, pois
bastava se dizer arrependido para ser posto em liberdade), ele era entregue
ao braço secular para a aplicação da pena que já era prevista. A Igreja não
podia obrigar a pessoa a ser católica e a se converter. Muitos dos condenados iam alegremente para a
fogueira como mártires de suas ideias “benfazejas”, como os cátaros, por
exemplo, que, entre outras coisas, ensinavam o assassinato de mulheres
grávidas.
Outro fato que me chama a atenção
é a ênfase e as distorções para com a Inquisição católica, que segundo um
historiador protestante foi importante para o estabelecimento da ordem e da
civilização contra elementos misantropos, e o silêncio para com a Inquisição
calvinista que fez com que Genebra vivesse um verdadeiro clima de terror.
Que tenha havido erros nos
julgamentos inquisitoriais é inegável (qual sistema jurídico é ilibado nesse
sentido?), mas os princípios estavam bem fundamentados na doutrina cristã da
caridade e no arsenal jurídico disponível na época. Ela era bem vista pelos
grandes intelectuais e pelo povo, que, aliás, exigia a presença dos tribunais em suas
comunas e vilas.
As perguntas que ficam são: quando os
historiadores católicos vão se insurgir contra as mentiras para que a verdade
possa triunfar? Até quando essa omissão persistirá?
Nas próximas semanas trataremos
de outros temas tão distorcidos dentro da História.
William Bottazzini
William Bottazzini
Nenhum comentário:
Postar um comentário