EXTRA ECCLESIAM NULLA SALUS

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Igreja ou convocação do povo de Deus




Das Catequeses de São Cirilo de Jerusalém, bispo
(Cat. 18,23-25: PG33,1043-1047)
(Séc.IV)

Igreja ou convocação do povo de Deus

          Católica ou universal chama-se a Igreja, porque se espalhou de um extremo a outro de todo o orbe da terra. Porque ensina universalmente e sem falha todos os artigos da fé que os homens precisam conhecer, seja sobre as coisas visíveis ou as invisíveis, seja as celestes ou as terrestres. Porque reúne no verdadeiro culto o gênero humano inteiro, autoridades e súditos, doutos e ignorantes. Enfim, porque cura e sana em todo o universo qualquer espécie de pecados cometidos pela alma e pelo corpo. Porque ela possui tudo, toda virtude, seja qual for o nome que se lhe dê, nas ações e nas palavras, bem como toda a variedade dos dons espirituais.

        Igreja, isto é, convocação: nome bem apropriado porque convoca a todos e os reúne, como o Senhor diz no Levítico (8, 3): Convoca toda a congregação diante da porta do tabernáculo do testemunho. É de notar a palavra convoca, usada aqui pela primeira vez nas Escrituras, na ocasião em que o Senhor estabeleceu Aarão como sumo sacerdote. No Deuteronômio (31, 12) Deus diz a Moisés: Convoca para junto de mim o povo para que me escutem e aprendam a temer-me. Há outra menção da Eclésia*, quando se fala das tábuas da Lei (Deuteronômio 9, 10): Nelas estavam escritas todas as palavras que o Senhor vos falou no monte, do meio do fogo, no dia da ‘Eclésia‘, isto é, convocação; como se dissesse mais claramente: No dia em que, chamados pelo Senhor, vos congregastes. O Salmista também diz: Eu te confessarei, Senhor, na grande ‘Eclésia’, no meio do povo numeroso te louvarei.

     Já antes o salmista cantara (Salmos 67, 27): Na ‘Eclésia’, bendizei o Senhor Deus, das fontes de IsraelO Salvador edificou com os gentios a segunda, a nossa Santa Igreja dos cristãos, da qual dissera a Pedro (Mateus 16, 18): E sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.

       Rejeitada a primeira, a da Judéia, de ora em diante multiplicam-se as Igrejas de Cristo, aquelas de que se fala nos salmos (149, 1): Cantai ao Senhor um cântico novo, seu louvor na ‘eclésia’ dos santos. De acordo com isto diz o Profeta aos judeus (Malaquias 1, 10-11): Meu afeto não está em vós, diz o Senhor e acrescenta logo: Por isso, do nascer do sol até o ocaso, meu nome é glorificado entre os povos. Desta mesma santa e católica Igreja escreve Paulo a Timóteo (1 Timóteo 3, 15): Para que saibas como comportar-te na casa de Deus, a Igreja do Deus vivo, coluna e sustentáculo da verdade.

Nota (*): Eclésia é palavra de origem grega que significava "convocação ou chamados para fora". Este termo gerou a palavra portuguesa "igreja".

Cardeal Cañizares: É recomendável comungar na boca e de joelhos

Cardeal Antonio Cañizares Llovera
REDAÇÃO CENTRAL, 27 Jul. 11 / 01:27 pm (ACI/EWTN Noticias)

Em entrevista concedida à agência ACI Prensa, o Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos no Vaticano, Cardeal Antonio Cañizares Llovera, assinalou que é recomendável que os católicos comunguem na boca e de joelhos.

Assim indicou o Cardeal espanhol que serve na Santa Sé como máximo responsável, depois do Papa, pela liturgia e os sacramentos na Igreja Católica, ao responder se considerava recomendável que os fiéis comunguem ou não na mão.

A resposta do Cardeal foi breve e singela: "é recomendável que os fiéis comunguem na boca e de joelhos".

Do mesmo modo, ao responder à pergunta da ACI Prensa sobre o costume promovido pelo Papa Bento XVI de fazer que os fiéis que recebam dele a Eucaristia o façam na boca e de joelhos, o Cardeal Cañizares disse que isso se deve "ao sentido que deve ter a comunhão, que é de adoração, de reconhecimento de Deus".

"Trata-se simplesmente de saber que estamos diante de Deus mesmo e que Ele veio a nós e que nós não o merecemos", afirmou.

O Cardeal disse também que comungar desta forma "é o sinal de adoração que necessitamos recuperar. Eu acredito que seja necessário para toda a Igreja que a comunhão se faça de joelhos".

"De fato –acrescentou– se se comunga de pé, é preciso fazer genuflexão, ou fazer uma inclinação profunda, coisa que não se faz".

O Prefeito vaticano disse ademais que "se trivializarmos a comunhão, trivializamos tudo, e não podemos perder um momento tão importante como é o de comungar, como é o de reconhecer a presença real de Cristo ali presente, do Deus que é amor dos amores como cantamos em uma canção espanhola".

Ao ser consultado pela ACI Prensa sobre os abusos litúrgicos em que incorrem alguns atualmente, o Cardeal disse que é necessário "corrigi-los, sobre tudo mediante uma boa formação: formação dos seminaristas, formação dos sacerdotes, formação dos catequistas, formação de todos os fiéis cristãos".

Esta formação, explicou, deve fazer que "celebre-se bem, para que se celebre conforme às exigências e dignidade da celebração, conforme às normas da Igreja, que é a única maneira que temos de celebrar autenticamente a Eucaristia".

Finalmente o Cardeal Cañizares disse à agência ACI Prensa que nesta tarefa de formação para celebrar bem a liturgia e corrigir os abusos, "os bispos têm uma responsabilidade muito particular, e não podemos deixar de cumpri-la, porque tudo o que façamos para que a Eucaristia se celebre bem será fazer que na Eucaristia se participe bem".

terça-feira, 19 de julho de 2011

São Tomás sobre a árvore do conhecimento do bem e do mal



A ÁRVORE DO CONHECIMENTO DO BEM E DO MAL

Este estado [de justiça original] desfrutado pelo homem dependia da submissão da vontade humana a Deus. Como o homem estava, desde o princípio, habituado a seguir a vontade de Deus, Deus colocara alguns preceitos sobre ele. Ao homem era permitido comer de todas as árvores no Paraíso, com uma exceção: era-lhe proibido, sob pena de morte, comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Era proibido comer do fruto desta árvore, não porque ela era má em si mesma, mas porque, pelo menos nesta pequena matéria, o homem devia ter algum preceito a observar pela única razão de que isso fora comandado por Deus. Logo, comer o fruto dessa árvore era mal por que era proibido. A árvore era chamada de "a árvore do conhecimento do bem e do mal", não porque ela tinha poder de causar o conhecimento, mas por causa do efeito: ao comer dessa árvore, o homem aprendeu pela experiência a diferença entre o bem da obediência e o mal da desobediência.

COMPENDIUM THEOLOGIAE, Cap. 188.

Tradução: William Bottazzini

domingo, 10 de julho de 2011

Mesma fé?

Os movimentos ecumênicos insistem em dizer que católicos e protestantes creem no mesmo Deus e possuem a mesma fé. Será mesmo? Vejamos...

DEUS CATÓLICO: 
"Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3, 16).



deus protestante (Faça o seu pedido!)

IGREJA CATÓLICA


igreja protestante (desculpe leitor protestante se eu não coloquei uma foto da sua aqui, sabe como é, né?)

Arte Católica



arte protestante
(Bastante abstrato, afinal, eles não são contra imagens?)

Intelectuais Católicos

Tomás de Aquino

Agostinho de Hipona

Intelectuais Protestantes

Valdemiro Santiago

Celebração Católica

Celebração Protestante

Bíblia Católica (Com todos os livros!)

Bíblia protestante (mais enxuta, para quem quer menos regras ...chique, não?)
Agora é que vem o mais importante...

FUNDADOR DA IGREJA CATÓLICA

Qual outra seita tem Cristo como fundador?

Meu objetivo aqui não é ofender a ninguém pessoalmente, mas contribuir para que aqueles que estão no erro do protestantismo se convertam.

Caros protestantes, vamos refletir:

Quando (felizmente!) o protestantismo não existia, quem evangelizou o mundo e continua a evangelizar?
Quando (felizmente!) o protestantismo não existia, quem criou as universidades?
Quando (felizmente!) o protestantismo não existia, quem guardou o patrimônio da humanidade legado pelos antigos?
Quando (felizmente!) o protestantismo não existia, quem compilou a Bíblia?
Quando (felizmente!) o protestantismo não existia, de onde eram os mártires que deram a vida por Cristo para que a Fé chegasse até nós?

Afinal, se a Reforma Protestante foi algo tão louvável e o heresiarca Lutero foi um herói, por qual motivo quase não há luteranos? É muita incoerência defender Lutero e seguir outra denominação...Ah! Outra coisa...de onde é que Lutero aprendeu sobre Cristo, a Bíblia etc etc...? Será que o aluno sabia mais que a mestra que na época tinha mais de 1500 anos de vida?

É triste, mas católicos e protestantes não têm a mesma fé e nem creem no mesmo Deus. 

Para nós católicos, Deus se fez carne, morreu, ressuscitou e Se dá na Eucaristia. Ele guia a Sua Igreja há dois mil anos.

Para os protestantes, Deus é um sentimento, uma emoção. E Ele teria permitido séculos e séculos de erros para começar a dar assistência aos verdadeiros cristãos apenas no século XVI (ou depois). E Ele inspira "verdades" contraditórias o tempo todo, fazendo com que brotem aqui e acolá seitas de todos os naipes e para todos os gostos. A fé protestante muda...ela não tem dois mil anos...

Todo protestante acredita que já está salvo...Mas, como ir para o céu e lá encontrar um "irmão" que pensa completamente diferente de mim em matéria de fé? Como duas doutrinas contraditórias podem levar á salvação eterna? 

Então no céu reinará a confusão, pois lá estarão os que batizam crianças, e os que não batizam. Os que guardam o sábado, e os que guardam o domingo. Os que creem que Cristo é Deus e os que não creem. Os que obedecem a prescrições de vestimenta e os que não o fazem. Os que renegam qualquer tipo de imagem, e os que aceitam-nas.

A não ser que o céu seja um "loteamento". Só não haverá católicos! Haverá setor dos batistas, dos luteranos, dos congregacionalistas, dos presbiterianos, dos adventistas, e...etc etc etc etc etc etc etc (ufa, haja setores!). Claro que deverá haver ainda os sub-lotes, já que há batistas bíblicos, batistas pentecostais, batistas tradicionais, batistas renovados etc etc etc (lá se vão mais alguns etc's).  Outro ponto, os lotes devem ser bem separados...porque, caso contrário, o céu acabará por se tornar um inferno com cada um querendo impor a sua doutrina e a sua "igreja".

No céu não haverá confusão...haverá unidade. Todos os que lá estiverem devem ter a mesma fé. E esta fé tem que ter dois mil anos, caso contrário Deus seria o responsável de que gerações inteiras, mesmo depois da Revelação de Cristo, se perdessem...o que é absurdo!

Você, protestante, procure saber em que ano surgiu a doutrina que você segue. Se ela surgiu em qualquer época após Cristo (e certamente surgiu!)...lamento, mas você está errado.

Que Deus abençoe a Nossa Pátria que já foi Terra de Santa Cruz! Nosso país tem vocação católica! Que aqueles que se afastaram da verdadeira Igreja possam, tal qual o filho pródigo, voltar ao seio da mesma Igreja.

Que Deus nos livre do protestantismo!

Fiquemos com Deus,

William

quinta-feira, 30 de junho de 2011

30 Junho: Dia dos primeiros mártires do Cristianismo


Certo dia, um pavoroso incêndio reduziu Roma a cinzas. Em 19 de julho de 64, a poderosa capital virou escombros e o imperador Nero, considerado um déspota imoral e louco por alguns historiadores, viu-se acusado de ter sido o causador do sinistro. Para defender-se, acusou os cristãos, fazendo brotar um ódio contra os seguidores da fé que se espalharia pelos anos seguintes.

Nero aproveitou-se das calúnias que já cercavam a pequena e pouco conhecida comunidade hebraica que habitava Roma, formada por pacíficos cristãos. Na cabeça do povo já havia, também, contra eles, o fato de recusarem-se a participar do culto aos deuses pagãos. Aproveitando-se do desconhecimento geral sobre a religião, Nero culpou os cristãos e ordenou o massacre de todos eles.

Há registros de um sadismo feroz e inaceitável, que fez com que o povo romano, até então liberal com elação às outras religiões, passasse a repudiar violentamente os cristãos. Houve execuções de todo tipo e forma e  algumas cenas sanguinárias estimulavam os mais terríveis sentimentos humanos, provocando implacável perseguição.

Alguns adultos foram embebidos em piche e transformados em tochas humanas usadas para iluminar os jardins da colina Oppio. Em outro episódio revoltante, crianças e mulheres foram vestidas com peles de animais e jogadas no circo às feras, para serem destroçadas e devoradas por elas.

Desse modo, a crueldade se estendeu de 64 até 67, chegando a um exagero tão grande que acabou incutindo no povo um sentimento de piedade. Não havia justificativa, nem mesmo alegando razões de Estado, para tal procedimento. O ódio acabou se transformando em solidariedade.

Os apóstolos são Pedro e são Paulo foram duas das mais famosas vítimas do imperador tocador de lira, por isso a celebração dos mártires de Nero foi marcada para um dia após a data que lembra o martírio de ambos. 


Porém, como bem nos lembrou o papa Clemente, o dia de hoje é a festa de todos os mártires, que com o seu sangue sedimentaram a gloriosa Igreja Católica Apostólica Romana.

domingo, 26 de junho de 2011

Implorando a Deus a verdadeira coragem


De William Bottazzini.

Pouso Alegre, 26/06/2011.

Senhor, meu Deus, coloco-me diante de Vossa Santa presença para implorar, devido a minha fraqueza e covardia, que me conceda o dom da coragem. Mas, não da coragem humana e cega, que se converte facilmente em temeridade, mas daquela coragem e valentia que só Vós sois capaz de colocar em nossos corações. Aquela coragem que nos faz enfrentar tudo, mas, ao mesmo tempo, que nos faz temer, com toda a nossa alma, estar longe de Vós.

Concedei-me, Senhor:

Que eu não tenha medo de ficar sozinho, mas que eu tema ser rodeado por todos e estar longe de Vós;
Que eu não tenha medo de ser rejeitado, mas que eu tema preferir os aplausos dos homens aos Vossos santos ensinamentos;
Que eu não tenha medo de ser pobre, mas que eu tema abrir mão da verdadeira riqueza que se encontra em Vós;
Que eu não tenha medo de lutar por Vós, mas que eu tema preferir a paz à proclamação de Vossa verdade;
Que eu não tenha medo de morrer, mas que eu tema viver longe de Vós;
Que eu não tenha medo das enfermidades, mas que eu tema adoecer a minha alma com os falsos remédios do mundo;
Que eu não tenha medo de ser perseguido, mas que eu tema agradar mais ao mundo que a Vós;
Que eu não tenha medo de ser odiado, mas que eu tema ser amado pelos que Vos odeiam;
Que eu não tenha medo de ser acusado injustamente, mas que eu tema rejeitar a proteção de Maria Santíssima, nossa advogada;
Que eu não tenha medo de ser chamado de tolo, mas que eu tema não buscar constantemente a Vossa sabedoria;
Que eu não tenha medo de perder minha fala, mas que eu tema não estar em constante oração;
Que eu não tenha medo de perder a visão, mas que eu tema a cegueira espiritual de não querer contemplar a Vossa verdade;
Que eu não tenha medo de perder a audição, mas que eu tema fazer-me surdo ao Vosso chamado;
Que eu não tenha medo de ser encarcerado, mas que eu tema a falsa liberdade de estar fora de Vossa Santa Igreja;
Que eu não tenha medo de ser escravizado, mas que eu tema não Vos servir;
Que eu não tenha medo da fome, mas que eu tema saciar-me com o que não provenha de Vós,
Que eu não tenha medo da sede, mas que eu tema as sempre tentadoras águas do pecado;
Que eu não tenha medo de ser humilhado, mas que eu tema às vãs glórias deste mundo, que nos afastam de Vós;
Que eu não tenha medo de ser fraco, pois sei que Vós me fazeis forte ( 2 Cor 12,10).

Assim como o que teme quer afastar-se da coisa temida, assim eu quero afastar-me de tudo o que me afasta de Vós.

Concedei, Senhor, a este pecador viver e morrer por Vós, pois só é verdadeiramente corajoso aquele que teme estar separado de Vós.

Que Vosso Santo nome seja sempre glorificado,

Amém.


Fiquemos com Deus,

William

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Será que os textos da Bíblia possuem mais de um sentido? São Tomás responde!



Art. 10 — Se na Sagrada Escritura uma mesma letra tem vários sentidos: o histórico ou literal, o alegório, o tropológico ou moral e o anagógico.

(I Sent., prol., a. 5; IV, dist XXI, q.1, a.2, qa 1, ad 3; De Pot., q. 4, a. 1; Quodlib., III, q. 14, a. 1; VIII, q. 6; ad Gal., c. IV, lect. VII)
 
O décimo discute-se assim — Parece que na Sagrada Escritura, uma mesma letra não tem vários sentidos: o histórico ou literal, o alegórico, o tropológico ou moral e o anagógico.
 
1. — Pois a multiplicidade dos sentidos, num escrito, gera a confusão e o engano e obsta à segurança da argüição. Donde, não resulta nenhuma argumentação da multiplicidade de proposições, causa esta, antes, de sofismas. Ora, a Escritura Sagrada deve ser eficaz para mostrar a verdade, sem nenhuma falácia. Logo, nela não deve haver, numa mesma letra, vários sentidos.
 
2. Demais — diz Agostinho: A Escritura chamada Antigo Testamento transmite-se quadriformemente: pela história, pela etiologia, pela analogia e pela alegoria1. Ora, essas quatro formas são completamente diferentes das quatros supra enumeradas. Logo, não é admissível que a mesma letra da Escritura Sagrada se exponha nos quatro sentidos preditos.
 
3. Demais — além dos sentidos preditos, há o parabólico, não contido nos quatro.
 
Mas, em contrário, Gregório: A Sagrada Escritura, pelo modo mesmo da sua locução, transcende todas as ciências; pois, com a mesma expressão, assim narra o feito como expõe o mistério2.
 
SOLUÇÃO. — O autor da Sagrada Escritura é Deus, em cujo poder está dar significação não só às palavras, o que também o homem pode fazer, mas ainda às próprias coisas. Por isso, além do que se dá com todas as ciências, nas quais as palavras têm significação, esta ciência tem de próprio que as coisas mesmas significadas pelas palavras, por sua vez, também significam. Ora, a primeira significação, pela qual as palavras exprimem as coisas, é a do primeiro sentido, que é o histórico ou literal. E a significação pela qual as coisas expressas pelas palavras têm ainda outras significações, chama-se sentido espiritual, que se funda no literal e o supõe. Mas, este sentido espiritual tem três subdivisões. Pois, como diz o Apóstolo (Heb 7, 19), a lei antiga é figura da nova e esta, por sua vez, como diz Dionísio, o é da glória futura3; e, demais, na lei nova, as coisas feitas pelo chefe são sinais das que nós devemos fazer. Ora, quando as coisas da lei antiga significam as da nova, o sentido é alegórico; quando as realizadas em Cristo, ou nos que o que significam, são sinais das que devemos fazer, o sentido é moral; e quando significam as coisas da glória eterna, o sentido é anagógico.
 
Mas como o sentido literal é o que o autor tem em vista, e o autor da Sagrada Escritura é Deus, cuja inteligência tudo compreende simultaneamente, não há inconveniente, como diz Agostinho, se, mesmo no sentido literal, uma expressão da Sagrada Escritura tem vários sentidos4.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — A multiplicidade de tais sentidos não gera o equívoco nem nenhuma outra espécie de multiplicidade; pois, como já se disse, esses sentidos se multiplicam, não por ter uma palavra muitas significações, mas porque as próprias coisas significadas pelas palavras podem ser sinais de outras coisas. Donde o não haver nenhuma confusão na Sagrada Escritura, por se fundarem todos os sentidos em um, o literal, com o qual somente se pode argumentar, e não com o sentido alegórico, como diz Agostinho5. Mas, nem por isso, nada se perde da Escritura Sagrada; pois, não há nada de necessário à fé, contido no sentido espiritual, que ela não explique manifestamente, alhures, no sentido literal.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — A história, a etiologia, a analogia pertencem a um mesmo sentido literal. Pois, como expôs o próprio Agostinho6, a história propõe algo pura e simplesmente; a etiologia assinala a causa de uma expressão, como quando o Senhor assinalou a causa por que Moisés deu licença de repudiar as mulheres, isto é, pela dureza do coração dos hebreus; a analogia mostra que a verdade de um passo da Escritura não repugna à de outro. Ora, dentre as quatro divisões propostas, só a alegoria abrange os três sentidos espirituais. E, assim, Hugo de São Vitor compreende, no sentido alegórico, também o anagógico, admitindo somente três sentidos: o histórico, o alegórico e o tropológico7.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — O sentido parabólico se contém no literal, pois as palavras têm uma significação própria e outra figurada; e nem é o sentido literal a figura, mas o figurado. Pois, quando a Escritura se refere ao braço de Deus, o sentido literal não é que, em Deus, há esse membro corpóreo, mas o que é por tal membro significado, i.e, a virtude operativa.
 
Por onde se vê que nunca pode haver falsidade no sentido literal da Escritura Sagrada.

  1. 1.De Utilitate credendi, c. 3
  2. 2.XX Moralium, c. 1
  3. 3.Ecclesiastica Hierarchia
  4. 4.XII Confessionum
  5. 5.in epistola contra Vincentium Donatistam, Ep. 93 (al. 48), c. 8
  6. 6.Loco cit in arg.
  7. 7.Sententiarum, De Scripturis et Scriptoribus sacris, c. 3