EXTRA ECCLESIAM NULLA SALUS

domingo, 7 de novembro de 2010

Catecismo II - Prólogo (II - Transmitir a fé - a catequese)



Vamos, então, dar continuidade ao nosso estudo sobre o Catecismo da Igreja Católica.

Analisemos então a segunda parte do Prólogo do Catecismo.

Neste ponto, o Catecismo faz uma explanação da importância, ou melhor, da necessidade que o cristão tem de estudar para melhor compreender a sua própria fé e, com isso, não incorrer em erros doutrinários.

Conforme disse Santo Anselmo, a nossa é a
                                   fides quaerens intellectum
Ou seja, é a fé que procura compreender.

Mas, será que os cristãos primitivos preocupavam-se em ensinar, de maneira sistemática, as verdades reveladas? Assim começa o catecismo:
"Bem cedo se chamou catequese ao conjunto de esforços empreendidos na Igreja para fazer discípulos, para ajudar os homens a acreditar que Jesus é o Filho de Deus, a fim de, pela fé, terem a vida em seu nome, e para os educar e instruir nessa vida, construindo assim o Corpo de Cristo".
Portanto, o catecismo nos informa que desde os primórdios os cristãos dedicavam-se a ensinar a fé através da catequese, termo este que já era usado na antiguidade, aos que davam os primeiros passos no caminho para Cristo. Desta maneira faziam-se discípulos.

A este respeito, escreveu o papa João Paulo II na Exortação Apostólica Catechesi Tradendae:
"A catequese foi sempre considerada pela Igreja como uma das suas tarefas primordiais, porque Cristo ressuscitado, antes de voltar para o Pai, deu aos Apóstolos uma última ordem: fazer discípulos de todas as nações e ensinar-lhes a observar tudo aquilo que lhes tinha mandado (Mt 28, 19). Deste modo lhes confiava Cristo a missão e o poder de anunciar aos homens aquilo que eles próprios tinham ouvido do Verbo da Vida, visto com os seus olhos, contemplado e tocado com as suas mãos (1 Jo 1, 1). Ao mesmo tempo, confiava-lhes ainda a missão e o poder de explicar com autoridade aquilo que Ele lhes tinha ensinado, as suas palavras e os seus atos, os seus sinais e os seus mandamentos. E dava-lhes o Espírito Santo, para realizar tal missão" (destaques meus).
Vemos, pois, que fora o próprio Cristo que dera o ímpeto inicial à catequese cristã. Nosso Senhor ordena que os apóstolos façam discípulos e que ensine a estes as verdades da fé. E para assistir os apóstolos nesta missão, Cristo envia-lhes o Espírito Santo. Os apóstolos, por sua vez, faziam passar fielmente aos convertidos à fé tudo o que tinham vivido e aprendido com Nosso Senhor, conforme atesta o apóstolo João no primeiro verso de sua primeira carta. Assim, através da catequese, perpetuava-se a doutrina da Igreja, a qual jamais pode sofrer qualquer alteração, pois quem a deu foi o próprio Deus, e a sua palavra jamais passará ( Mt 24,35).

Por isso, o dever do catequista é ser um mero repetidor daquilo que ensinam Cristo e a Igreja. Não é função do catequista inventar novos ensinamentos; ser engraçado; ser carismático; entre outros. Basta ensinar o que ensina a Igreja e mostrar os documentos que sustentam suas afirmações. O catequista não necessita "achar" nada. Tudo o que é fundamental para a nossa salvação já fora revelado pelo próprio Deus aos apóstolos, ou seja, à Igreja. É claro que muitas coisas não foram entendidas imediatamente; muitas a Igreja apenas foi compreendendo ao longos dos anos, e isto se deve à perene assitência que lhe dá o Santo Espírito.

Contudo, se quiséssemos definir a palavra catecismo, como o faríamos?

Responde-nos o Catecismo da Igreja Católica no parágrafo seguinte:
A catequese é uma educação da fé das crianças, dos jovens e dos adultos, que compreende especialmente o ensino da doutrina cristã, ministrado em geral dum modo orgânico e sistemático, em ordem à iniciação na plenitude da vida cristã
Vejamos, assim, que catequese é educação da fé. O termo educação significa conduzir para fora, ou, mais amplamente, conduzir para o mundo. Logo, a educação da fé, ou a catequese, nada mais é que a condução para a fé; é levar o indivíduo ao conhecimento da verdadeira fé e à compreensão da mesma.

Notamos ainda, neste parágrafo, que a catequese não é privilégio de uma determinada faixa etária. Todos são chamados a aprender mais da vida cristã. Na verdade, mesmo os que já se encontram na Igreja de Cristo, leigos ou não, devem estar constantemente em contato com os ensinamentos multisseculares  da Igreja. Afinal, nos diz o apóstolo Pedro:
Estai sempre prontos a responder para vossa defesa a todo aquele que vos pedir a razão de vossa esperança (1 Pd 3, 15).
Precisamos todos ser constantemente catequisados.

No parágrafo seguinte, o Catecismo da Igreja Católica nos orienta:
Sem se confundir com eles, a catequese articula-se com um certo número de elementos da missão pastoral da Igreja que têm um aspecto catequético, preparam para a catequese ou dela derivam: o primeiro anúncio do Evangelho ou pregação missionária, para suscitar a fé; a busca das razões de acreditar; a experiência da vida cristã; a celebração dos sacramentos; a integração na comunidade eclesial; o testemunho apostólico e missionário
O Catecismo destaca, neste parágrafo, alguns elementos da missão pastoral da Igreja. Estes elementos estão articulados com a catequese, pois ou preparam para a catequese ou derivam dela.

Por exemplo, o primeiro anúncio do Evangelho será para preparar o terreno do coração para a fé; uma vez despertada a fé, o indivíduo deverá compreendê-la, e aqui começa a catequese, que lhe fornecerá alimentos espirituais mais sólidos. Assim, neste quadro, o anúncio do Evangelho preparou o indivíduo para a catequese.

Depois de ter aprendido sobre a importância dos sacramentos e ter aderido livremente aos ensimanentos da Igreja, a pessoa poderá, então, celebrar de maneira correta toda a vida sacramental da Igreja. Nesta situação, a catequese preparou a pessoa para a recepção dos sacramentos.

É isso que o catecismo quer dizer quando fala da articulação da catequese com os outros elementos da vida pastoral. A catequese não pode ser um fim em si, mas o meio para se ter uma vida cristã gozada em sua plenitude. Destarte, a catequese não pode ser separada da vida da Igreja, segundo o próprio Catecismo no parágrafo subsequente:
A catequese está intimamente ligada a toda a vida da Igreja. Dependem essencialmente dela não só a expansão geográfica e o crescimento numérico, mas também, e muito mais ainda, o crescimento interior da Igreja e a sua conformidade com o desígnio de Deus.
Não se pode falar de doutrina cristã, de catequese, e se recusar a caminhar com a Igreja.

Por este parágrafo depreende-se que a catequese não tem por escopo apenas o aumento numérico dos cristãos, mas também fazer com aqueles que já estão no seio da Igreja possam viver cada vez mais segundo o desejo de Nosso Deus e Senhor. Daí a importância de uma catequese perene, a importância de sempre termos diante de nossos olhos aquilo que o Senhor nos ensina através de Sua Igreja. Devemos desejar ardentemente ter todas as instruções de Nosso Deus gravadas em nosso coração.

Continuemos com o Catecismo.
Os períodos de renovação da Igreja são também tempos fortes de catequese. Assim, na grande época dos Padres da Igreja, vemos santos bispos consagrarem parte importante do seu ministério à catequese, como por exemplo São Cirilo de Jerusalém, São João Crisóstomo, Santo Ambrósio, Santo Agostinho e tantos outros Padres, cujas obras catequéticas continuam a ser modelo.
Entenda-se renovação como a adequação da mensagem evangélica aos tempos e aos costumes. A mensagem é a mesma; a doutrina, também. Contudo, a linguagem e os meios utilizados para se propagar a mensagem de Cristo variam conforme as necessidades do tempo. Ademais, conforme os anos avançam, surgem falsas doutrinas que tendem a induzir cada vez mais pessoas ao erro, e, para combatê-las, a Igreja, através da Sagrada Tradição e das Escrituras, estabelece os pontos doutrinários que se tornaram controversos devido à desobediência à Sagrada Hierarquia. É neste sentido que a Igreja se renova.

Como exemplo podemos citar a questão da divindade de Jesus. Nos primórdios do cristianismo esta questão era clara, daí não surgirem controvérsias, daí muitos anos sem este assunto ser causa de disputas. Quando, contudo, surgiram os hereges negando a divindade de Nosso Senhor, a Igreja foi obrigada a estabelecer a doutrina definitiva a este respeito e a posicionar-se de uma vez por todas do ponto de vista dogmático. Reconheceu-se solenemente o dogma para que os cristãos não mais se perdessem em divagações que poderiam induzí-los ao erro.

Os Padres mencionados tiveram que combater, cada qual em seu tempo, as mais diversas heresias e, para impedir que os cristãos se perdessem no erro, escreveram diversas obras para instruí-los segundo a reta doutrina, aquela que fora recebida dos apóstolos.

Todos os Padres citados neste parágrafo do Catecismo devem ser minunciosamente estudados por aqueles que queiram fazer um trabalho catequético sólido e profundo.

Além dos Padres, outro ponto de referência fundamental para a catequese são os Concílios. Leiamos o Catecismo:
O ministério da catequese vai buscar energias sempre novas aos concílios. O Concílio de Trento constitui, a este respeito, um exemplo a sublinhar: nas suas constituições e decretos, deu prioridade à catequese; está na origem do Catecismo Romano que tem o seu nome e que constitui um trabalho de primeira ordem como compêndio da doutrina cristã; fez nascer na Igreja uma organização notável da catequese; e, graças a santos bispos e teólogos, como São Pedro Canísio, São Carlos Borromeo, São Toríbio de Mogrovejo e São Roberto Belarmino, levou à publicação de numerosos catecismos.
Este Catecismo do Concílio de Trento, o Catecismo Romano, será constantemente citado neste nosso estudo.

Logo, prezado leitor, é nosso dever de cristãos estar atentos a tudo o que a Igreja nos ensina em seus Concílios e outros documentos que publica.

Não foi diferente durante o Concílio Vaticano II, conforme atesta o próprio Catecismo da Igreja Católica:
Não admira, pois, que, na sequência do II Concílio do Vaticano (que o Papa Paulo VI considerava como o grande catecismo dos tempos modernos), a catequese da Igreja tenha de novo chamado a atenção. O Diretório catequético geral, de 1971; as sessões do Sínodo dos Bispos consagradas à evangelização (1974) e à catequese (1977): e as exortações apostólicas correspondentes — Evangelii nuntiandi (1975) e Catechesi tradendae (1979) — são disso bom testemunho. A assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos de 1985 pediu: "que seja redigido um catecismo ou compêndio de toda a doutrina católica, tanto no tocante à fé como no que respeita à moral". O Santo Padre João Paulo II fez seu este voto do Sínodo dos Bispos. Reconheceu que "tal desejo corresponde inteiramente a uma verdadeira necessidade da Igreja universal e das Igrejas particulares". E pôs todo o seu empenho em que se concretizasse este desejo dos Padres sinodais.
E assim nasceu o Catecismo da Igreja Católica que estamos estudando parágrafo por parágrafo.

Entretanto, o que pensa o Papa Bento XVI acerca do Catecismo da Igreja Católica?

Recentemente o Papa constituiu o Pontifício Conselho para a Pomoção da Nova Evangelização através do Motu Proprio Ubicumque et Semper.

E dentre as tarefas deste conselho se encontra:
promover o uso do Catecismo da Igreja Católica, como formulação essencial e completa do conteúdo da fé para os homens do nosso tempo
Que este catecismo seja um dos nossos grandes aliados na fortificação de nossa fé enquanto peregrinarmos por este mundo.

Pax Domini Sit Semper Vobiscum

William Bottazzini

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