EXTRA ECCLESIAM NULLA SALUS

domingo, 14 de novembro de 2010

Catecismo III - Prólogo (III - O objetivo e os destinatários deste Catecismo)



Publico hoje a terceira parte de nosso estudo sobre o Catecismo.

Para entendermos bem o catecismo é necessário que se estude com calma e cautela cada um dos parágrafos que o compõem. Ademais, é de fundamental a importância conferir as sugestões de citações que o Catecismo nos oferece para que possamos ter uma visão mais abrangente da doutrina de Cristo.

Vamos então ao terceiro tópico do Prólogo: O objetivo e os destinatários deste Catecismo.

Afinal, para quê um Catecismo?

A palavra catecismo origina-se do grego κατηχισμός (lê-se: katekismós). O substantivo grego katekismós deriva-se do verbo grego κατηχέω (lê-se: katekéo) que significa instruir, ensinar. Assim sendo, o termo catecismo significa, entre outras coisas, instrução. Se quisermos ir mais longe ainda no significado desta palavra perceberemos que κατηχέω  é um vocábulo formado por dois termos: κατά (lê-se: katá), que significa para baixo e ήχέω (lê-se: ékeo) que quer dizer soar. Destarte, o significado literal seria "soar para baixo". Ou seja, é o professor em pé que fala e ensina; de sua boca sai o som que nos instrui. E nós, por outro lado, estamos sentados ouvindo aquilo que nos está sendo ensinado.

Percebemos, pois, que a própria noção de Catecismo implica uma atitude de humildade, de se estar disposto a aprender algo, sobretudo quando este "algo" diz respeito à doutrina de Cristo. É o estar sentado e reconhecer a própria ignorância.

Esta necessidade de uma catequese sistemática que estivesse conforme a dourtrina dos apóstolos já era uma preocupação da Igreja desde os primórdios do cristianismo. Nosso Senhor já tinha ordenado expressamente aos apóstolos (ou seja, à Igreja) que estes deviam ensinar "a todas as nações" (cf. Mt 28, 19). Logo, os apóstolos (e seus sucessores, os bispos) possuem o dever de instruir, ensinar, isto é, catequisar. Quanto a nós, leigos, após termos aprendido a correta doutrina legada pelos apóstolos e mantida pela Tradição, devemos também proclamar a Verdade, mas sem nada acrescentar ou subtrair, apenas repetindo aquilo que aprendemos da Igreja e da Tradição. Por isso precisamos estudar e aprender. Como falaremos do que não conhecemos?

Também o apóstolo São Pedro nos lembra da importância de se conhecer a doutrina deixada por Nosso Senhor:
Estai sempre prontos a responder para vossa defesa a todo aquele que vos pedir a razão de vossa esperança (1 Pd 3, 15).
São Justino Mártir, que viveu durante o século II, afirma em sua Apologia que

Ao passo que muitos são persuadidos e crêem que é verdadeiro aquilo que nós [cristãos] ensinamos e dizemos, e se comprometem a levar uma vida digna, são instruídos a rezar e a pedir a Deus com jejum, para a remissão de seus pecados que ficaram para trás, e nós rezamos e jejumaos com eles (Apol. I, 61).
Em um dos trechos do martírio de Felicidade e Perpétua, de inícios do século III, lemos:
Foram presos os jovens catecúmenos [ou seja, os que recebiam a catequese], Revocato e Felicidade, sua serva e companheira (...).
E ainda, Santo Hipólito, no terceiro século:
Os catecúmenos deverão ouvir a palavra por três anos (Trad. apost. 17).
Portanto, na Igreja primitiva, aqueles que se convertiam à Fé eram instruídos acerca das coisas reveladas por Deus. Isto é fundamental para que se tenha uma fé sólida, para que se possa ser atraído para Deus por inteiro, de mente e coração.

Percebemos, então, que a catequese caminha junto com a Tradição da Igreja, com a mesma Tradição que nos foi legada pelos apóstolos; e se a catequese era importante na Igreja primitiva tambêm deverá sê-lo para os nossos dias e assim será eternamente. Será sempre necessário aprender mais e mais acerca das coisas de Deus.

Embora a técnica tenha evoluído acentuadamente nestes vinte séculos que nos separam dos primeiros cristãos, percebemos que algumas coisas continuam imutáveis, entre elas a necessidade de se falar e de se aprender sobre Cristo. Daí a importância do Catecismo.

No parágrafo 11 o Catecismo da Igreja Católica fala de si mesmo:
A finalidade deste Catecismo é apresentar uma exposição orgânica e sintética dos conteúdos essenciais e fundamentais da doutrina católica, tanto sobre a fé como sobre a moral, à luz do II Concilio do Vaticano e do conjunto da Tradição da Igreja. As suas fontes principais são a Sagrada Escritura, os santos Padres, a liturgia e o Magistério da Igreja. E destina-se a servir "como ponto de referência aos catecismos ou compêndios a publicar nos diversos países".
Ou seja, o Catecismo da Igreja apresentará os fundamentos da Fé cristã de modo orgânico, sistematizado;  ao mesmo tempo, isto será feito de forma sintética, ou seja, os temas não serão abordados de forma exaustiva, mas apenas no que for necessário para a nossa salvação e para a manutenção da sã doutrina. Daí a importância de se conferir as citações para um estudo mais pormenorizado.

Deste parágrafo deduz-se ainda que a fé cristã não possui apenas uma única fonte, mas várias. E é importante que recorramos a todas elas para que tenhamos uma visão cada vez mais completa acerca da fé.

Outro aspecto importante explicitado neste parágrafo é o fato de que toda a catequese que se empreenda em qualquer parte do mundo deve estar de acordo com o que ensina o Catecismo da Igreja Católica. Lembremos que a verdadeira Fé é una.

No parágrafo seguinte, o Catecismo aponta os destinatários deste Catecismo:
Este Catecismo destina-se principalmente aos responsáveis pela catequese, que são em primeiro lugar os bispos, enquanto doutores da fé e pastores da Igreja. É-lhes oferecido como instrumento para o desempenho da sua missão de ensinar o povo de Deus. E, através dos bispos, dirige-se aos redatores de catecismos, aos sacerdotes e aos catequistas. Será também uma leitura útil para todos os outros fiéis cristãos.
Por aqui salienta-se que os bispos são os pastores por excelência da Igreja e é função deles zelar pela integridade da fé, não apenas pela manutenção dela, mas também pela sua propagação. É no bispo que os padres e demais fiéis devem certificar-se acerca da ortodoxia da fé que professam. Entretanto, e isto é lamentável, sabemos de não poucos bispos que possuem pouco zelo na guarda da fé e, em certos casos, até mesmo professam publicamente ensinamentos contrários ao que ensina a Santa Igreja; em situações deste tipo, o fiel deve sempre ater-se ao que ensina a Santa Igreja. E como saber o que a Igreja ensina? Através da leitura e do estudo do Catecismo.

Atenção! Devemos sempre manter uma atitude de obediência para com nossos sacerdotes e sempre rezar por eles.  Apenas estamos desobrigados desta obediência se o ensino deles se afastar daquilo que professa a Santa Igreja e o Magistério. Por exemplo, se um padre ou bispo ensinam doutrinas favoráveis ao aborto e até mesmo incentivam esta prática, daí não devemos concordar com este ensinamento e nem seguir suas instruções neste sentido, pois o ensino da Igreja sobre este assunto é outro. Em um caso similar a este, devemos ficar com o que nos diz a Igreja em seus documentos e no próprio Catecismo. E, supondo que um sacerdote ensinasse algo errado por ignorância, nós leigos podemos, com caridade e em particular, mostrar ao nosso sacerdote os documentos da Igreja que ensinam a doutrina correta sobre um determinado tema do qual o sacerdote em questão parece ter se desviado.

O estudo do Catecismo é um poderoso antídoto contra as falsas doutrinas ensinadas livremente em nossos dias e veiculadas pelos mais diversos meios de comunicação. Ademais, é também um escudo através do qual estamos aptos a defender a nossa fé católica dos constantes ataques que esta sofre.

Pax Domini Sit Semper Vobiscum

William Bottazzini

Nenhum comentário:

Postar um comentário